17 dez, 2020

Por Betania Tanure

Anestesia: uma opção irresponsável para Todos

A colunista Betania Tanure fala sobre a responsabilidade de não ter medo de agir na crise

 

A atual crise extrapola os limites da economia e da saúde, impondo mudanças no jeito de trabalhar, de consumir, de viver. Um olhar atento nos leva a reconhecer elementos e comportamentos típicos de uma crise em nível social, organizacional, individual. A atual crise é, portanto, também antropológica.

Faço um recorte de uma perspectiva dessa situação: a anestesia das pessoas diante dos problemas graves, das dores, dos erros, dos riscos, que por vezes levam à morte. Independentemente de o alvo ser o CPF ou o CNPJ, ela é concretamente a morte dos sonhos.

São várias as reações possíveis diante de um problema grave – seja como país, seja como organizações neste cenário em que o sucesso anterior não define a fase seguinte, seja como indivíduos diante da necessidade de se reinventar. A primeira e mais saudável reação é não negar o problema. Temos de admitir sua existência, compreender sua natureza, suas causas, seu impacto, os riscos envolvidos, buscar formas de lidar com a dor e as frustrações. E agir para extirpar o problema ou, no mínimo, administrá-lo.

A necessidade de mudança exige força, esforço, decisão e o desejo de construir um novo caminho. Para isso é preciso que as pessoas adquiram novas competências. “No free lunch”: força e esforço, conhecimento do problema, foco na solução.

Saia do espaço problema e vá para o espaço solução. Evite que seus problemas se tornem areia movediça, que o imobilizem. Não perca tempo, não perca o foco, não perca o jogo.

No último feriado, vimos que boa parte da população nega a dura realidade trazida pelo coronavírus. Praias e bares lotados, o evidente descuido nas ruas, a desatenção a protocolos de segurança, como se estivéssemos na era pré ou pós-pandemia.

Esse comportamento revela nossa incompetência individual e social. Temos esse mesmo comportamento diante da violência, dos roubos de dinheiro público, das negociações fraudulentas, do fato de a maior parte dos brasileiros viver em condições indignas. Não podemos nos anestesiar mais!

Nas empresas e entre os executivos, especialmente os bem-sucedidos, o risco é o mesmo. Muitos não admitem serem responsáveis pelo mau desempenho da empresa, que a perda, e não apenas o ganho, de market share, de vitalidade, de vigor é produto da (in)competência da liderança. Preferem apontar causas externas: a culpa é de outra área da empresa, é da crise externa, do preço do dólar, das mudanças que a pandemia impôs…

Se a negação persistente leva à anestesia, o medo exacerbado paralisa. Medo. Pânico. Tais sentimentos levam as pessoas à exaustão. Levam à morte, simbólica ou real.

Sabemos na crise o medo é um recurso de sobrevivência. Mas reconhecer esse sentimento não é paralisar-se. Deve- se ter maturidade emocional para agir: mapear a situação, avaliar os riscos e, com equilíbrio, mitigá-los.

Assim deve ser diante da pandemia, assim deve ser na empresa, na carreira. O que faz diferença é a serenidade e o equilíbrio emocional, esteios de um profissional bem-sucedido, de uma empresa saudável, de uma pessoa que enfrenta seus medos e erros para transformar-se. Somente assim, será capaz de liderar uma empresa em transformação.

A anestesia está nas ruas, nas empresas, no governo e ou em você. Aperte os cintos, equilibre-se emocionalmente e encare os desafios. Frustrações, erros e dores irão ocorrer. Foque a solução, lastreada na inteligência coletiva, e permita que seus valores e propósito orientem você. Isso não é fantasia, não é poesia. É o que vai gerar resultados extraordinários, melhores do que os dos seus concorrentes.

 

Fonte: Jornal O Valor