17 dez, 2020

Por Betania Tanure

Não vai ter jeito, você terá mesmo que mudar

Nesta edição, não quero falar da crise mundial, sanitária ou econômica. Meu tema é a crise antropológica, o jeito de viver, trabalhar, consumir, de ter e de ser. Quero falar de como fazemos o Brasil, o nosso Brasil.

Em certo momento de nossa história, ligamos o piloto automático e fomos em frente, produzindo, ganhando (ou perdendo) dinheiro, colecionando sucessos, escondendo os insucessos, impelidos por prioridades trazidas pela tecnologia, pelo “outro”, e não por nós mesmos. Fechamos os olhos para os brutais efeitos disso no meio ambiente e na desigualdade social, que a atual crise escancarou. Os que me conhecem sabem que não sou pessimista. Ao contrário, minha vida é pautada por muita esperança. Mas neste momento, temos de admitir, estamos no limite de uma ambiência fragilmente “equilibrada” do ponto de vista social.

Adicionado a tudo isso, o nível de exaustão das pessoas pode ter atravessado a fronteira do razoável. Não debite tudo ao trabalho excessivo. Outras causas existem, como a toxicidade da “quarentena” para as relações afetivas ou sociais, o medo da doença e o excesso de notícias negativas nas mídias. Sem contar a necessidade frustrada de lazer, além da multiplicidade de opções de lives que já não se consegue assistir. O que fazer para sair do espaço problema e ir para o espaço solução? Comece respirando fundo e acelerando o passo para mudar o seu fluxo natural. Como? Nós, na BTA, criamos um modelo que se aplica ao nível individual, ao organizacional e ao social.

  1. Consciência. Este é o nível da sua racionalidade. Se você não compreendeu ainda que, como todos nós, precisa mudar, sua situação é muito grave. Passaram-se quatro meses e olhe à sua volta. Veja o que acontece com os que resistem à mudança, note quão rapidamente se perde espaço.
  2. Desejo. É a voz do coração. Reconheça os poderosos estímulos vindos de todos os lados. Quem não muda, morre. Isso vale para o indivíduo, as organizações e grupos sociais ou políticos. Outro estímulo, positivo e que vem de dentro, é a forte vontade de (se) reconstruir. Permita que ela mova você.
  3. Competência. Hoje, muitos dos conhecimentos e ferramentas que usávamos com sucesso perderam função e valor. Vivemos um risco duplo. Mas isso não nos dá a “licença poética” de nada saber ou de errar o tempo todo. O risco aqui é perder o rigor da análise e da preparação individual, sob o argumento, fraco porque só parcialmente verdadeiro, de que tudo é novo e é preciso experimentar. Não é bem assim. O desafio é estar aberto sem se deixar paralisar pelo medo ou fazer do risco uma justificativa para mau resultado.
  4. Simplesmente agir. Na implementação da mudança, da sua mudança, é fundamental o equilíbrio entre colaboração, protagonismo e accountabilityOs dois primeiros traços se mostraram em alta em pesquisa que realizamos com 532 executivos, publicada no Valor: para 95% dos entrevistados a colaboração está em crescimento e para 70% o protagonismo também cresce. Esses traços merecem atenção, pois não serão incorporados naturalmente à cultura. Será preciso método. O fazer coletivo é um imperativo do negócio. Cuidado para que isso não contribua para desaparecer a accountability, característica frágil na cultura brasileira.

Não se esconda no coletivo. Não faça “de qualquer jeito” sob o argumento de que o ambiente é complexo ou é preciso ser ágil. Você tem, individualmente, seu espaço de ação e de conciliação, responsabilidade, profundidade de análise, agilidade, colaboração e accountability, estruturação responsável e flexibilidade para “pivotar” sempre que necessário. A sua mudança inclui conciliar o que antes parecia inconciliável!

 

Fonte: Valor