21 dez, 2020

Por Angela Vega

A Pandemia e o Paradigma

Depois de algumas longas semanas de isolamento social incluindo realização de home office (em português, teletrabalho), compartilho as reflexões que me surgiram.

No início do processo, sentia certa estranheza quando ouvia algumas pessoas usando a expressão “quando voltarmos ao normal”… e eu me perguntava o que era o normal e para qual normal estaríamos voltando. Agora, já se fala no “novo normal”. Talvez porque as mudanças pelas quais estamos passando já deixam marcas que impedem que seja possível retornar ao “velho normal”.

Lembro que, na década de 90, no boom da Gestão pela Qualidade Total, conheci a palavra “paradigma”. De origem grega, foi tomada emprestada de um livro do físico Thomas Khun, para representar um conjunto de referências que formam uma visão de mundo.

Na época, apresentava-se como exemplo de quebra de paradigmas o que havia acontecido na indústria de relógios. A Suíça dominava a tecnologia e era “dona” de uma grande fatia do mercado (market share). Os relógios suíços eram conhecidos como os melhores do mundo pela precisão, por meio de seus sofisticados mecanismos que exigiam grande qualificação para serem produzidos. Então, os japoneses desenvolveram o relógio digital, que apresentava a mesma precisão e mudaram a cara da indústria. Os relógios suíços continuaram sendo reconhecidos por sua qualidade, mas o market share mudou completamente. A produção em série de relógios digitais tornou o produto mais acessível, por conta da mudança tecnológica.

Ouvi, algumas vezes, a explicação de que, quando há uma mudança de paradigma, tudo começa do zero. Isto é, todas as referências, padrões etc. são como que “resetados”. ALT-CTRL-DEL!

Na minha percepção é o que a pandemia do COVID-19 vem causando: uma ruptura de paradigmas. Algumas indústrias que já possuíam inovações latentes e que eram rejeitadas pelo status quo (conservadorismo? medo?), tiveram que implantá-las para preservar sua sobrevivência. E o home office, questionado pelos adeptos do padrão “comando e controle” (ainda existente) e da crença de que a presença física é que traz a produtividade, está forçando os gestores a reverem seus modelos mentais.

Quantas sementes estavam sendo germinadas e estão florescendo… a Natureza, da qual o homem faz parte (precisamos lembrar disso!), está se regenerando…

Alguns serviços em que a presença física era exigida, precisaram se reinventar. Estou fazendo yoga de casa, conectada com a instrutora por um aplicativo. Mesmo a educação à distância das crianças (home schooling), com a presença justificada pela socialização, está vivendo um momento de adaptação. Que tipo de socialização será necessária nos novos tempos? É possível empatia à distância?

Minha mãe com seus 84 anos precisou aprender a fazer e receber chamadas por vídeo pelo celular. Foi o meio que encontramos para nos aproximarmos nessa fase. A voz cumpre seu papel, mas já dizem os chineses que uma imagem vale mais do que mil palavras.

E o que esses tempos pedem de nós? Tomar consciência de nossos valores, das nossas crenças, principalmente daquelas que nos bloqueiam de sermos nossa melhor versão e de estarmos abertos e conectados ao momento presente.

E o normal? Ou melhor, o novo normal? O mundo como o conhecemos, antes de fevereiro de 2020, não existe mais…

Acredito que, a partir do que temos dentro de cada um, juntos vamos descobrir como dar conta dos desafios que estão colocados e dos que surgirão, atentos aos sinais que vêm de todos os lados. O futuro está em nossas mãos, nossos sentimentos e nossos pensamentos.

Aproveitemos o tempo do isolamento social para aprender sobre nós, sobre as relações e sobre o mundo, tornando-nos cada vez mais, observadores de nós mesmos… como o poeta Milton Nascimento já dizia, “eu, caçador de mim”…

E você, o que tem descoberto nesses tempos de isolamento social?

 

Referência:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paradigma

 

Imagem:

Mystic Art Design para Pixabay