19 abr, 2024

Por Maria Helena Carneiro

Como combater o “degrau quebrado” para a ascensão das mulheres no mercado de trabalho?

A metáfora do “degrau quebrado” representa a barreira enfrentada pelas mulheres na ascensão a posições de topo de liderança nas organizações, refletindo desafios contemporâneos como a falta de equidade de gênero no trabalho, os estereótipos arraigados nas culturas organizacionais e as oportunidades de desenvolvimento limitadas.

A falta de equidade de gênero, vista pelo prisma da organização social do trabalho, traz uma construção histórica-social que atribuiu à mulher o papel de cuidar do lar e da família. As poucas mulheres que trabalharam nas fábricas na Revolução Industrial eram rechaçadas pelos homens. Eles viviam em condições miseráveis e não queriam competir pelos postos de trabalho. Muitas sofriam violências e eram estupradas dentro das indústrias. Em pleno século XXI, o IBGE aponta que, em 2022, as mulheres dedicaram o dobro do tempo do que os homens às tarefas da casa e de cuidados com pessoas. Com pouco tempo disponível e sem redes de apoio, as mulheres têm que se desdobrar em jornadas duplas. Por isso, assumem trabalhos menos complexos e ficam mais na informalidade, embora tenham mais mais escolaridade que os homens no Brasil.

Os estereótipos de gênero alimentam as culturas organizacionais. Reza a lenda corporativa que “os homens lideram e administram, enquanto as mulheres cuidam” e “os líderes homens são mais objetivos, competitivos e agressivos”. Pesquisas atuais indicam que as mulheres se destacam na gestão por serem “coletivistas, humanistas e afetivas”. Será por isso que atualmente precisamos capacitar lideranças em “gestão humanizada”?

A falta de oportunidades de desenvolvimento é um ponto central. Um estudo da McKinsey de 2020 mostrou que apenas 33% das posições de gerência sênior e direção são de mulheres. A interseccionalidade de gênero e de raça mostra uma situação pior ainda. Mulheres brancas são 25% destas posições e apenas 9% são de mulheres negras. Para que possam se especializar, assumir desafios e funções executivas, as mulheres devem ter o apoio dos homens como motivadores da carreira feminina, das empresas com programas de desenvolvimento, mentoria e com modelos de trabalho flexível e do Estado com políticas públicas e educação.

Na era da ansiedade e da depressão, o mundo do trabalho clama por mais humanidade. Demanda por ações afirmativas das empresas e pelo compromisso de maior representatividade feminina. Pede o diálogo para a desconstrução dos estereótipos que aprisionam. Suplica pelo engajamento dessas 33% mulheres no topo da carreira, para que não ajam como líderes homens, e, por fim, ajudem verdadeiramente outras mulheres a saltarem o “degrau quebrado”.

O que você acha que podemos fazer para a ascensão das mulheres no trabalho?