
25 abr, 2025
Por Angela Vega
A arte de crescer com os filósofos: ARISTÓTELES
Aristóteles: reflexões filosóficas para desenvolvimento pessoal
“Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo.” (Aristóteles)
Quem foi Aristóteles?
Aristóteles foi um dos filósofos mais influentes da Grécia Antiga e da história do pensamento ocidental. Nascido em 384 a.C., na cidade de Estagira, foi discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o Grande. Diferentemente de seu mestre, Platão, Aristóteles valorizava a observação empírica e a lógica (raciocínio) como meios fundamentais para compreender o mundo. Escreveu sobre uma ampla variedade de temas, incluindo filosofia, ética, política, biologia, física, retórica e metafísica. Sua obra serviu de base para o pensamento científico e filosófico por séculos.
Neste mundo em que vivemos, cercados de polaridades, podemos buscar nos ensinamentos de Aristóteles, uma diferente possibilidade de análise e de ação.
Em seu livro Ética a Nicômaco, Aristóteles desenvolve a ideia de que a virtude se encontra no equilíbrio (meio-termo) entre dois extremos, relacionados à falta e ao excesso. Usando como exemplo a coragem, podemos dizer que é uma virtude que se situa entre a covardia (excesso de medo e falta de confiança) e a imprudência (excesso de confiança e falta de medo). Coragem, então, seria o meio-termo virtuoso entre esses dois extremos. É a disposição de enfrentar o medo com razão e equilíbrio. Aristóteles ressalta que a coragem verdadeira envolve deliberação e intenção justa — não é simplesmente a ausência de medo, mas a capacidade de superá-lo por uma boa razão. Esse equilíbrio, ou “justa medida”, varia de pessoa para pessoa e depende das circunstâncias. O importante é que a pessoa aja com razão e equilíbrio, buscando sempre o bem.
Meu interesse por esse tema surgiu quando ouvi uma palestrante situar a escassez como polaridade do esbanjamento, e a abundância como o meio-termo. Normalmente eu usava a escassez em oposição à abundância e esse novo olhar abriu outras perspectivas. Como oscilar entre a escassez e o esbanjamento? O que a abundância pode ajudar a equilibrar?
Podemos entender o meio-termo como um harmonizador entre os 2 extremos e que pode se deslocar em diferentes circunstâncias, não sendo estático. Em alguns momentos, podemos pender para um dos extremos ou para o outro. No caso da coragem, a covardia pode nos fazer sobreviver.
VIRTUDES: OS EXTREMOS E O MEIO-TERMO
Seguem alguns exemplos trazidos por Aristóteles, e adaptados ao nosso tempo, mostrando como a excelência moral está entre dois extremos: um por falta e outro por excesso.
1. Coragem
. Falta: Covardia – medo excessivo, ausência de ação.
. Virtude: Coragem – enfrentar o medo de forma justa e racional.
. Excesso: Temeridade (Imprudência) – se jogar no perigo sem prudência.
2. Generosidade (ou liberalidade)
. Falta: Mesquinharia (Avareza) – recusar-se em compartilhar ou ajudar.
. Virtude: Generosidade – dar na medida certa, com boa intenção.
. Excesso: Extravagância – dar demais, sem critério ou necessidade.
3. Mansidão (calma ou controle da raiva)
. Falta: Ira descontrolada – raiva impulsiva, exagerada.
. Virtude: Mansidão – irritar-se no momento certo, com a dose certa, pelo motivo certo.
. Excesso: Indiferença ou apatia – não se irritar, nem diante de injustiças.
4. Sociabilidade (ou afabilidade)
. Falta: Insociabilidade – evitar ou desprezar o convívio com os outros.
. Virtude: Afabilidade – ser agradável, sem ser falso.
. Excesso: Bajulação – buscar agradar a todo custo, mesmo de forma falsa.
5. Sinceridade (nas palavras e ações)
Falta: Falsidade – mentir ou dissimular com frequência.
Virtude: Sinceridade – falar e agir de forma honesta e justa.
Excesso: Franqueza ofensiva – dizer a verdade, de forma cruel ou desnecessária.
Reforçando, a ideia do meio-termo não é uma fórmula matemática, mas uma orientação: o “meio” depende da situação, da pessoa e do contexto.
APLICAÇÃO AO CRESCIMENTO PESSOAL
De forma prática e aplicada, o conceito da justa medida nos convida a buscar equilíbrio, autoconhecimento e ação consciente — três pilares do crescimento pessoal. Podemos fazer as seguintes conexões:
1. Coragem no desenvolvimento pessoal: a coragem é essencial para sair da zona de conforto (começar um novo projeto, falar em público, mudar de carreira).
. A covardia paralisaria e poderia levar a pessoa a se sabotar por medo do fracasso.
. A temeridade levaria a agir impulsivamente, sem preparo, só “na empolgação”.
. A virtude está em enfrentar os desafios com consciência, sabendo dos riscos, mas também dos benefícios — com planejamento e intenção.
2. Generosidade emocional: em relacionamentos ou ambientes de trabalho, ser generoso é compartilhar tempo, atenção e apoio emocional, com equilíbrio.
. Mesquinharia emocional seria nunca se abrir, não demonstrar carinho ou apoio.
. Esbanjamento emocional seria se doar demais a ponto de se esgotar ou perder a própria identidade.
. O meio-termo é ajudar e se importar, sem se anular.
3. Mansidão e inteligência emocional: aprender a lidar com a raiva e frustrações é a chave.
. Ser indiferente pode tornar a pessoa passiva e incapaz de se posicionar.
. Ser explosivo afasta as pessoas e cria conflitos.
. A virtude está em saber quando e como reagir, com firmeza e calma — isso é maturidade emocional.
4. Sinceridade e autenticidade: o crescimento pessoal envolve ser verdadeiro consigo mesmo e com os outros.
. Esconder-se atrás de máscaras (falsidade) impede conexões reais.
. Falar tudo sem filtro (franqueza excessiva ou “sincericídio”) pode magoar e afastar.
. O meio-termo é comunicar-se com clareza e empatia.
Aristóteles dizia que as virtudes são adquiridas pelo hábito — e só podemos formar bons hábitos se nos conhecermos de verdade, daí a importância do autoconhecimento. O desenvolvimento pessoal é, portanto, o caminho de aprender quem você é, onde está em excesso, onde está em falta, e ajustar a rota com base na razão e na experiência.
EXERCÍCIO DA JUSTA MEDIDA — “ENTRE OS EXTREMOS”
Proponho um exercício prático, inspirado em Aristóteles, aplicando a ideia da justa medida em seu desenvolvimento pessoal, como forma de aumentar seu autoconhecimento e ajudar a ajustar atitudes no dia a dia, com mais equilíbrio.
1. Escolha uma virtude que você quer desenvolver
– Pode ser coragem, paciência, sinceridade, generosidade, moderação etc.
💡Exemplo: Coragem.
2. Identifique os dois extremos
– Pense no que seria o excesso e a falta dessa virtude.
💡Exemplo: Excesso = imprudência/temeridade; Falta = covardia/medo paralisante.
3. Reflita sobre situações recentes
– Escreva 2 ou 3 situações recentes em que você agiu:
. Perto do excesso
. Perto da falta
. E (se aconteceu) com equilíbrio — no meio virtuoso
. Excesso: “Aceitei um projeto sem tempo para isso.”
. Falta: “Não expus minha ideia numa reunião por medo de críticas.”
. Meio: “Me preparei, pesei os riscos, e decidi apresentar minha proposta com confiança.”
4. Ajuste consciente
– Reflita: o que você poderia fazer de forma diferente para se aproximar mais do meio-termo da próxima vez?
💡Exemplo: “Antes de dizer sim a algo novo, vou avaliar minha agenda e meu nível de preparo. E quando sentir medo, vou me perguntar: isso é um risco real ou só insegurança?”
5. Repita por uma semana com diferentes virtudes
– Você pode escolher uma virtude por dia ou focar em uma por semana. Exemplos:
. Segunda: Coragem
. Terça: Paciência
. Quarta: Sinceridade
. Quinta: Generosidade
. Sexta: Autocontrole
. Sábado: Empatia
. Domingo: Reflexão livre
Esse exercício contribuirá para você observar seus próprios padrões de comportamento e ajustá-los de forma racional — exatamente como Aristóteles propunha com a ideia da virtude pelo hábito e pela razão.
Para saber mais:
.Ética a Nicômaco. Aristóteles. Martin Claret
.Aristóteles, clique aqui
.Imagem:Couleur por Pixabay