17 dez, 2020

Por Zilda Knoploch

Vida 3.0: como continuar humano na era da inteligência artificial?

Esta pergunta é cada vez mais relevante, mas não a inventei: ela é o título do livro de Max Tegmark, editado em 2017 e um dos vários publicados mais recentemente sobre a temática da Inteligência Artificial e seu impacto na sociedade humana.

Max me fez lembrar do que senti quando li, nos anos 80, pela primeira de muitas vezes, “Eu, robô”, de Isaac Asimov, publicado em 1950. Como antropóloga, me fascinou a imaginação de Asimov ao projetar, antes da existência das atuais tecnologias digitais, uma sociedade em que robôs poderiam se tornar inteligentes a ponto de controlar os humanos.

Com o desenvolvimento da Inteligência Artificial, muitas das fantasias de Asimov já estão materializadas. E Max aprimora esta ficção ao descrever robôs ultrainteligentes que se reprogramam e se superam, e criam versões cada vez mais incríveis de si mesmos em curtos espaços de tempo. E descreve as consequências para uma sociedade que vai perdendo para estes seres poderosos e ultra-ágeis a sua velocidade de se reinventar.

São dois autores geniais, separados por muitas décadas de revolução tecnológica, mas trazendo uma mesma inquietação: o que nos tornamos? O que nos tornaremos? E como nos preparar para isto, na velocidade em que já está acontecendo?

Estamos cercados de IA por todos os lados: ao buscarmos informação no Google, ao interagirmos nas redes sociais, comprarmos livros e outros itens na Amazon ou no supermercado virtual, ao conversarmos divertidamente com a Alexa ou com a Bia do Bradesco. A Inteligência Artificial está ali, e num estágio em que aprende sobre nós cada vez que com ela interagimos. E até mesmo nos ajuda em necessidades corriqueiras.

Precisamos, então, aprender sobre ela! Não é mesmo?

Ela nos afeta positiva e negativamente. Fez surgir novas profissões, e outras continuarão a surgir, diretamente ligadas à Inteligência Artificial.

E não vai afetar tanto as profissões que dependem das habilidades que “sobrarão” para nós, humanos: as que requerem sensibilidade social ou emocional, ou as que requerem tarefas humanas de alta complexidade e não repetitivas, como, por exemplo, algumas especialidades da medicina, da psicologia, da antropologia e… alta gastronomia. Pois, usando robôs, já é possível fazer sanduíches iguaizinhos uns aos outros.

Muitas atividades e negócios já estão se beneficiando de um dos lados fascinantes do uso da Inteligência Artificial: velocidade e precisão ao lidar com volumes imensos de informação, analisar dados e tendências, realizar estágios iniciais de recrutamento e seleção, e até mesmo com programas de treinamento que podem ser autoadministrados. Neste sentido, a IA é facilitadora. O outro lado é eliminar diversas profissões que são superadas em rapidez e qualidade por algoritmos e robôs bem programados.

E como preservar a nossa “humanidade”, nossa característica única de improvisação, adaptação a situações inesperadas, inovar?

A resposta está em construção. Começa por educar as novas gerações a aprender a pensar e a sentir, a criar e a se comunicar usando as novas tecnologias a seu favor. Continua pela reinvenção das gerações mais maduras, ao acompanhar o ritmo de mudança das tecnologias, para usá-las com seu aditivo único: experiência de vida, anos na estrada, visão mais ampla. Deixar a máquina fazer o trabalho pesado e assumir o trabalho criativo.

As organizações, cada vez mais, estão revendo as relações de trabalho, para um modelo mais colaborativo, de inspiração, de motivação, que premie a flexibilidade, a criatividade, a capacidade de cooperação e reduza cada vez mais a competição entre as equipes. Dando propósito aos colaboradores, estes crescem em suas atividades. Robôs não precisam disto, mas não são, ainda, bons em gerar empatia para as organizações.

E você? O que tem vivenciado no seu ambiente de trabalho com relação  a essa temática? Compartilhe sua opinião.