Lições que a História nos ensina sobre epidemias

Lições que a História nos ensina sobre epidemias

A atual pandemia também passará e a vida vai se impor mais uma vez

“Não havia tempo para liberarmos os corpos. Nós os empilhávamos no fundo da sala de reanimação do hospital. E liberávamos os corpos quando podíamos, durante o dia ou à noite”. A descrição da cena dramática poderia ser de algum profissional de saúde em um centro médico na Europa em 2020. Mas o trecho é extraído de um depoimento a um jornal francês de 1969, durante a Gripe de Hong Kong, que vitimou 31 mil franceses e um total de um milhão de pessoas em todo o mundo.

A analogia entre os dois momentos foi feita pelo deputado francês Olivier Becht. Sua intenção foi chamar a atenção dos franceses para as lições que podem ser extraídas das epidemias pregressas. Em primeiro lugar, a boa notícia de que nossas sociedades já enfrentaram crises de proporção semelhante. Ele apontou a atual pandemia mundial como um evento jamais visto por nossa geração. No entanto, ressalta que esta não é a primeira vez que a Humanidade enfrenta uma crise de tal proporção e elenca outras ocorrências recentes enfrentadas por gerações anteriores no século XX, como a Gripe Espanhola (1918) e a Gripe Asiática (que matou dois milhões de pessoas em 1957), além da já citada Gripe de Hong Kong. Apesar da mortalidade em massa, a Humanidade não foi dizimada a vida seguiu seu curso. Esta pandemia também passará e a vida vai se impor novamente.

Outro ponto levantado por Becht é que os avanços tecnológicos modificaram a sociedade de forma definitiva nos últimos 50 anos. Se em 1969 a morte de milhões de pessoas era interpretada como uma fatalidade, hoje ela nos soa simplesmente inaceitável. Espera-se que a ciência possa nos proteger de todas as doenças, como se a morte estivesse cada vez mais acuada, vencida pelas descobertas científicas. No entanto, Becht pontua que essa visão sobre a morte se restringe apenas quando os atingidos são os países ocidentais. Ele se refere ao escandaloso fato de que 500 mil pessoas morrem de malária na África todos os anos, sem a devida repercussão nos países do Primeiro Mundo.

Becht também destaca a mudança no grau de exigência da sociedade para com o Estado, responsabilizado por providenciar resposta a todas as demandas. “Em 1969, ninguém cobrou que Pompidou detivesse a gripe de Hong Kong”, cita.

Para o deputado francês, fica claro que a História nos ensina o quanto mudou a esfera midiática e sua influência em eventos de grande repercussão. À época, muitos canais de mídias ainda estavam sob controle do Estado francês. Como não era possível deter a doença, simplesmente não se falava sobre ela. Já na era dos canais de notícias 24 horas no ar e das mídias sociais, o assunto domina todos os espaços. “Temos a impressão que nossa visão de mundo se limita apenas ao que aparece nas telas”, resume. E como só se fala de Covid-19, quase esquecemos que a vida continua “com o que ela tem de mais maravilhoso, como o amor, a criação e a inovação, mas também com o que ela tem de pior: o ódio, a violência, a criminalidade, a estupidez”, provoca Becht. Ele defende que a saturação de informações sobre a doença nos dá a impressão que o mundo parou. E a normalização de tal sentimento faz com que ele pare, de fato.

Becht se antecipa e afirma que sempre poderão alegar que estamos vivendo outros tempos, bem diferentes de 1969. É verdade. Os ensinamentos da História não nos obrigam a repetir fórmulas ou modelos para enfrentar novos desafios. Mas ele se arrisca a listar desde já algumas lições do passado que nos podem ser úteis neste momento:

1 – Epidemias sempre existiram e, provavelmente, sempre existirão. Elas não são resultado de complôs internacionais de estudiosos e militares em laboratórios secretos. Elas são simplesmente vírus que fazem parte da natureza, assim como nós.

2 – Nem mesmo toda a ciência ou os melhores líderes e autoridades podem evitar a ocorrência de eventos naturais imprevistos.

3 – É preciso manter o otimismo, porque a Humanidade sempre conseguiu dar a volta por cima e se sobrepor às epidemias.

Becht propõe que os franceses não se desgastem acompanhando a contagem de mortos que monopoliza a mídia e as redes sociais. Ele conclui seu raciocínio propondo um desafio. “Olhem para o passado, este pode ser o recuo necessário que nos permitirá construir um futuro melhor. Coragem e esperança!”

 

Epidemias anteriores oferecem lições para nosso atual momento. Gordon Johnson Pixabay/Reprodução

 

A Pandemia e o Paradigma

A Pandemia e o Paradigma

Depois de algumas longas semanas de isolamento social incluindo realização de home office (em português, teletrabalho), compartilho as reflexões que me surgiram.

No início do processo, sentia certa estranheza quando ouvia algumas pessoas usando a expressão “quando voltarmos ao normal”… e eu me perguntava o que era o normal e para qual normal estaríamos voltando. Agora, já se fala no “novo normal”. Talvez porque as mudanças pelas quais estamos passando já deixam marcas que impedem que seja possível retornar ao “velho normal”.

Lembro que, na década de 90, no boom da Gestão pela Qualidade Total, conheci a palavra “paradigma”. De origem grega, foi tomada emprestada de um livro do físico Thomas Khun, para representar um conjunto de referências que formam uma visão de mundo.

Na época, apresentava-se como exemplo de quebra de paradigmas o que havia acontecido na indústria de relógios. A Suíça dominava a tecnologia e era “dona” de uma grande fatia do mercado (market share). Os relógios suíços eram conhecidos como os melhores do mundo pela precisão, por meio de seus sofisticados mecanismos que exigiam grande qualificação para serem produzidos. Então, os japoneses desenvolveram o relógio digital, que apresentava a mesma precisão e mudaram a cara da indústria. Os relógios suíços continuaram sendo reconhecidos por sua qualidade, mas o market share mudou completamente. A produção em série de relógios digitais tornou o produto mais acessível, por conta da mudança tecnológica.

Ouvi, algumas vezes, a explicação de que, quando há uma mudança de paradigma, tudo começa do zero. Isto é, todas as referências, padrões etc. são como que “resetados”. ALT-CTRL-DEL!

Na minha percepção é o que a pandemia do COVID-19 vem causando: uma ruptura de paradigmas. Algumas indústrias que já possuíam inovações latentes e que eram rejeitadas pelo status quo (conservadorismo? medo?), tiveram que implantá-las para preservar sua sobrevivência. E o home office, questionado pelos adeptos do padrão “comando e controle” (ainda existente) e da crença de que a presença física é que traz a produtividade, está forçando os gestores a reverem seus modelos mentais.

Quantas sementes estavam sendo germinadas e estão florescendo… a Natureza, da qual o homem faz parte (precisamos lembrar disso!), está se regenerando…

Alguns serviços em que a presença física era exigida, precisaram se reinventar. Estou fazendo yoga de casa, conectada com a instrutora por um aplicativo. Mesmo a educação à distância das crianças (home schooling), com a presença justificada pela socialização, está vivendo um momento de adaptação. Que tipo de socialização será necessária nos novos tempos? É possível empatia à distância?

Minha mãe com seus 84 anos precisou aprender a fazer e receber chamadas por vídeo pelo celular. Foi o meio que encontramos para nos aproximarmos nessa fase. A voz cumpre seu papel, mas já dizem os chineses que uma imagem vale mais do que mil palavras.

E o que esses tempos pedem de nós? Tomar consciência de nossos valores, das nossas crenças, principalmente daquelas que nos bloqueiam de sermos nossa melhor versão e de estarmos abertos e conectados ao momento presente.

E o normal? Ou melhor, o novo normal? O mundo como o conhecemos, antes de fevereiro de 2020, não existe mais…

Acredito que, a partir do que temos dentro de cada um, juntos vamos descobrir como dar conta dos desafios que estão colocados e dos que surgirão, atentos aos sinais que vêm de todos os lados. O futuro está em nossas mãos, nossos sentimentos e nossos pensamentos.

Aproveitemos o tempo do isolamento social para aprender sobre nós, sobre as relações e sobre o mundo, tornando-nos cada vez mais, observadores de nós mesmos… como o poeta Milton Nascimento já dizia, “eu, caçador de mim”…

E você, o que tem descoberto nesses tempos de isolamento social?

 

Referência:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paradigma

 

Imagem:

Mystic Art Design para Pixabay

Potencializando as nossas forças

Potencializando as nossas forças

Sabemos que as medidas de quarentena adotadas são essenciais para a saúde. Assim, por que não potencializar nossas virtudes e forças de caráter, neste momento?

Há algum tempo conversamos sobre as virtudes e forças de caráter. O estudo é dos autores Dr. Christopher Peterson, professor e pesquisador na área da psicologia na Universidade de Michigan e Dr. Martin Seligman, psicólogo e pioneiro no campo da Psicologia Positiva da Universidade da Pensilvânia no livro “Character Strengths and Virtues: A Handbook and Classification”.

Segundo os autores, as virtudes são as características centrais valorizadas pelos filósofos, pensadores e religiosos e as forças do caráter são os ingredientes psicológicos – processos ou mecanismos – que definem as virtudes. São seis virtudes subdivididas em vinte e quatro características humanas positivas (forças do caráter) conforme quadro abaixo:

 

VIRTUDES E FORÇAS DE CARÁTER

Humanidade

Coragem

Temperança

Amor

Bravura Perdão e Compaixão
Bondade Persistência Humildade
Inteligência Emocional Integridade Prudência
Vitalidade

Autorregulação

Sabedoria e Conhecimento

Justiça

Transcedência

Abertura de Espírito Cidadania Gratidão
Amor ao Aprendizado Imparcialidade Humor
Perspectiva Liderança Esperança
Curiosidade Espiritualidade
Criatividade Apreciação da Beleza e Excelência

Todos nós temos as vinte e quatro forças acima descritas e, de acordo com o trabalho do Peterson & Seligman, algumas mais acentuadas que as outras. Logo, é necessário aproveitar esses pontos fortes para fortalecer a nós mesmos e também as pessoas ao nosso redor.

Podemos usar as forças de amor e bondade para manter contato com as pessoas. Ouvir uma voz e ver um rosto mesmo que seja numa tela gera emoções positivas ampliando o bem-estar para todos.

Explore a força do humor. Ela contribui para uma série de benefícios relacionados à saúde física e mental.

Com a força da curiosidade aprendemos coisas novas e até adquirimos um novo hobby. Pesquisas mostram que conhecer algo novo é uma maneira eficaz para gerenciar o estresse.

Recorrendo à força da criatividade, pode-se pensar em alternativas para solucionar questões e abrir outros caminhos.

Use a força da persistência para manter o seu corpo em forma, fazendo uma atividade física adaptada à quarentena e aliada à alimentação saudável.

Pense na gratidão e nos momentos em que mais utiliza esta força. Anote, se possível diariamente, quando usou e depois de uma semana leia as sua anotações.

Foque na força da esperança, pois agora é o momento de acreditar que o vírus se tornará razoavelmente contido e o tratamento e imunização contra a doença virá em algum momento próximo.

Caso queira conhecer quais são as suas forças mais acentuadas, a Pesquisa VIA encontra-se disponível gratuitamente no site www.viacharacter.org/www/Character-Strengths-Survey, de forma que adultos e jovens, no mundo inteiro, descubram o que há de melhor em si mesmos.

Cuidem-se e até o próximo encontro!

 

 

Páscoa: um momento para refletir

Páscoa: um momento para refletir

Mais do que uma data comercial, quando as pessoas compram ovos de chocolate para presentear pessoas queridas, a Páscoa é um dia abençoado, onde as famílias comemoram o renascimento, o início de um novo ciclo.

Já parou para pensar que todos os dias renascemos? Iniciamos um novo ciclo? A cada dia nos é dada uma nova oportunidade para realizarmos atividades que façam com que alcancemos nossos objetivos.

Você também já parou para pensar como utiliza esse ciclo? Essa nova oportunidade? Você a desperdiça ou a aproveita da melhor maneira possível? Procrastina ou realiza tudo com assertividade e satisfação?

Todos nós temos sonhos e desejos, e quando estamos dispostos a realizá-los é preciso fazer esforço, e utilizar toda nossa energia, tempo, nossas habilidades e competências para chegar onde queremos. É preciso também ter disciplina, foco e muita atitude.

É preciso enxergar oportunidades onde não existem, fazer dos desafios degraus para subir, das barreiras formas de tornar-se mais forte a cada dia. Mudar comportamentos e atitudes que estão te impedindo de chegar onde deseja.

Aproveite esse momento, a Páscoa, para refletir de que maneira você está utilizando cada Novo Ciclo, cada nova oportunidade que lhe é dada. E se você estiver insatisfeito em alguma área da sua vida, o que pode fazer efetivamente para mudar isso?

Comece agora. Elimine os pensamentos, atitudes e comportamentos sabotadores, transforme-os em acontecimentos positivos, saudáveis e construtivos, para tornar a sua jornada evolutiva cada vez mais prazerosa.

Feliz Novo Ciclo!

 

 

 

 

Fonte: IBC

GAIA: uma possibilidade para encarar esses tempos

GAIA: uma possibilidade para encarar esses tempos

Estamos todos buscando nos adaptar ao novo estado de coisas: saúde física (limpeza das mãos, dos objetos etc), saúde mental (meditação, contato virtual com a família e amigos), produtividade (aprendendo a lidar com o home office). Tudo ao mesmo tempo. Haja controle de estresse para lidar com tantas mudanças.

No meio disso tudo, surge o convite-chamado para a Jornada GAIA (Global Activation of Intention and Action, em português, Ativação Global de Intenção e Ação). Na mitologia grega, Gaia era a personificação da Terra, uma das divindades primordiais.

Essa iniciativa surgiu no Presencing Institute, liderada por Otto Scharmer, mais conhecido pelo desenvolvimento da Teoria U em sua tese de pós-doutorado. E, as bases que levaram Otto Scharmer e seus colegas a proporem a Jornada podem ser encontradas no artigo (link a seguir), com tradução disponível em português:

https://medium.com/presencing-institute-blog/eight-emerging-lessons-from-coronavirus-to-climate-action-683c39c10e8b

Segundo os autores é chegada a hora de fazer uma pausa, perceber, conectar e, portanto, agir em conjunto. Podemos escolher entre 2 posicionamentos: a curva do Ausenciamento (estar ausente + preso ao passado) ou a curva do Presencing (estar presente + conectado ao que deseja emergir).

Na curva do Presencing, representada pela letra U em formato aberto para cima, atuamos com 3 perspectivas: mente aberta (suspendendo o julgamento), coração aberto (renunciando ao cinismo) e vontade aberta (libertando-nos do medo). As três qualidades que nos levam nessa direção de abertura são as seguintes: curiosidade (na mente), compaixão (no coração) e a coragem (na vontade).

Se estivermos no modo Ausenciamento (em inglês, Absencing), a letra U em formato invertido, atuaremos no sentido do fechamento: mente fechada (ignorância), coração fechado (ódio) e vontade fechada (medo).

Podemos sempre escolher em que modo queremos viver. E para acompanhar essa escolha, Otto nos propõe 3 perguntas para um journaling (processo de reflexão usando caneta/lápis para escrever as respostas em papel):

  1. O que eu estou sendo chamado(a) a deixar ir (let go)?
  2. O que estou percebendo sobre meu estado interior?
  3. O que está começando a emergir agora?

Desafios complexos nos pedem outras formas de ação, em conjunto.

Para quem se interessar em embarcar na Jornada Gaia, ainda acontecerão alguns encontros online (gratuitos) ao longo das próximas semanas e os tickets podem ser reservados no link a seguir:

https://www.eventbrite.com/e/gaia-global-activation-of-intention-and-action-tickets-100263747568

 

Fontes:

https://www.presencing.org/gaia

https://medium.com/presencing-institute-blog/eight-emerging-lessons-from-coronavirus-to-climate-action-683c39c10e8b

http://book.ottoscharmer.com/

Liderar a partir do futuro que emerge. Otto Scharmer e Katrin Kaufer. Ed. Campus.