05 jul, 2022

Por Gilberto Ururahy

Obesidade alarmante: a face oculta da pandemia da Covid-19

Comorbidade está entre as principais responsáveis pelos gastos em saúde no mundo, atrás apenas do tabagismo e da violência armada

Apesar das facilidades e dos custos acessíveis da alimentação natural, o outro lado da moeda ainda impacta. A epidemia de obesidade é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um dos maiores problemas de saúde pública em nível global. Aliás, essa questão não poupa as crianças e deve-se prestar atenção a ela desde o nascimento dos filhos; a recomendação é que se ofereça à criança, até os dois anos, o leite materno (sendo o nutriente exclusivo até o sexto mês de vida). Estudos demonstram que o aleitamento materno previne a obesidade infantil e deixa a criança mais forte contra as infecções. O cuidado deve começar com orientação no pré-natal para a nutrição adequada à gestante.

A estimativa é de que em 2025, 2,3 bilhões de adultos no planeta estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. No caso das crianças, o número previsto é de 75 milhões para o mesmo período, se nada for feito para prevenir. A obesidade é endêmica mesmo em populações de baixo nível socioeconômico.

No Brasil, os números são igualmente alarmantes. De acordo com o levantamento Vigitel 2018, o percentual de excesso de peso foi de 55,7%, sendo ligeiramente maior entre homens (57,8%) do que entre mulheres (53,9%); o de adultos obesos foi de 19,8% sendo ligeiramente maior entre as mulheres (20,7%) do que entre homens (18,7%). Ainda com base na pesquisa, no conjunto das 27 cidades, a frequência de atividade física no tempo livre, equivalente a 150 minutos de atividade moderada por semana, foi de 38,1% sendo maior entre homens (45,4%) do que entre mulheres (31,8%). Em ambos os sexos, esse hábito tendeu a diminuir com a idade e aumentou fortemente com o nível de escolaridade.

Ao analisarmos nossos 200 mil check-ups realizados em homens e mulheres ao longo de 31 anos, também constatamos números preocupantes: 60% dos clientes se alimentam de forma inadequada, 62% estão com sobrepeso, 20% obesos e 35% apresentam gordura no fígado em algum grau.

A obesidade está entre as principais responsáveis pelos gastos em saúde no mundo, atrás apenas do tabagismo e da violência armada (guerra e terrorismo). Segundo relatório da World Obesity Federation, o tratamento de problemas de saúde relacionados ao excesso de peso e à obesidade, sobretudo males cardiovasculares e osteomusculares, além de câncer, deverão custar ao mundo, a partir de 2025, cerca de US$1,2 trilhão anuais.

Pelo menos 14 tipos de tumores têm relação com um estilo de vida inadequado, que conduz à obesidade (o de mama na pós-menopausa, o de cólon e reto, de útero, da vesícula biliar, do rim, fígado, próstata, bexiga, mieloma múltiplo – células plasmáticas da medula óssea -, esôfago, pâncreas, estômago e tireoide). Essa conclusão foi alcançada por um estudo do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), vinculada à OMS, e publicado na revista científica Cancer Epidemiology. 90% dos cânceres citados têm cura desde que diagnosticados precocemente.

O antídoto para as doenças crônicas é o estilo de vida saudável mais a prevenção: praticar atividades físicas regularmente, controlar o peso, o diabetes, os níveis de colesterol e triglicerídeos, ter uma alimentação balanceada, não fumar, evitar o excesso de sal e de bebidas alcoólicas, realizar os exames preventivos, gerenciar o estresse, controlar a pressão arterial e dormir bem.

Saúde é prevenção!