08 mar, 2023
Por Angela Vega
Especial Dia da Mulher: Encarando os estereótipos e preconceitos para evitar a discriminação
“O cuidado com a linguagem também faz parte da construção da sociedade inclusiva.” Michel Foucault, 1995
Pensando no Dia Internacional da Mulher, trago algumas reflexões sobre o uso que fazemos da linguagem e os impactos dela na vida cotidiana e na sociedade.
Entendemos a linguagem como algo natural já que, diferente das línguas estrangeiras, não vamos a uma escola para aprender a falar. Na alfabetização, aprendemos a ler e entender o significado das palavras, mas o ato de falar é aprendido primeiro no convívio na família, depois na escola e na sociedade. Na visão da Biografia Humana, na fase de 7 aos 14 anos, estamos receptivos às crenças e valores da família e da sociedade que são incorporados por nós, sem nos darmos conta.
Esse tema despertou minha atenção quando li o Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo, idealizado e organizado pela Longevida. Nele, os autores apresentam várias palavras, expressões e frases usadas no dia a dia, principalmente em relação aos idosos e que embutem preconceitos.
No Relatório Mundial sobre o Idadismo, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) registra que “o idadismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm.”
Ressalta ainda que “o idadismo pode ser institucional, interpessoal ou contra si próprio”. O idadismo institucional “se refere às leis, regras, normas sociais, políticas e práticas institucionais que restringem injustamente as oportunidades e prejudicam sistematicamente indivíduos em função da idade deles”. O idadismo interpessoal “surge em interações entre dois ou mais indivíduos, enquanto o direcionado contra si próprio ocorre quando o idadismo é internalizado pela pessoa e usado contra ela mesma.”
Quando nos conscientizamos sobre nossa fala, estamos atuando no idadismo interpessoal, evitando que nossas palavras sejam discriminatórias ou preconceituosas. Pensando nas bases da comunicação não violenta, ao iniciar qualquer conversa com observações, sem rótulos ou pré-julgamentos, podemos conseguir uma abertura da outra pessoa para nos ouvir.
Expressões tão cotidianas como “conservada” ou “bonitona para sua idade” trazem em si o preconceito de que uma mulher idosa não pode ter boa aparência. Da mesma forma, existem as crenças de que mulheres idosas não podem ter cabelos compridos ou usar roupas coloridas porque não seria apropriado. E quem define isso? Cada pessoa pode ter seu conjunto de valores e crenças desde que não interfira nos de outra pessoa.
Alguns ditados populares reforçam a discriminação, por exemplo, “panela velha é que faz comida boa”, no qual, além de tratar a pessoa idosa como objeto, conclui que as boas práticas (inclusive sexuais) da pessoa são decorrentes dos muitos anos de vida.
Eu mesma me dei conta de que, quando digo à uma pessoa idosa “quero chegar assim à sua idade”, estou dizendo indiretamente que a aparência dela não corresponde à expectativa que construí em minhas crenças. Qual seria?
Existe ainda a expressão “toda mulher, depois dos 50 anos, se torna loura” que indica que as mulheres pintam os cabelos de louro para esconder os brancos que vão surgindo. A própria palavra “esconder” traz em si a exigência de uma aparência mais jovem. A resposta de muitas mulheres tem sido deixar os cabelos brancos. Eu prefiro os vermelhos e acredito que a escolha da cor precisa vir do gosto pessoal e não de uma convenção social.
Quais outras expressões você usa e que embutem preconceitos?
Pare para pensar e vamos juntas e juntos criar uma nova realidade!
Referências Bibliográficas
.Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo – 2ª edição – Longevida
.https://www.longevida.ong.br/glossario_idadismo.pdf
.Relatório Mundial sobre o Idadismo – OPAS
.https://iris.paho.org/handle/10665.2/55872
.Imagem de Gerd Altmann por Pixabay