20 dez, 2020
Por Gilberto Ururahy
Vacina contra a Covid-19: esperanças e incertezas
Enquanto o mundo busca uma vacina, não há garantias de imunização nem mesmo entre quem teve a doença.
Muitas das informações sobre o novo coronavírus e a Covid-19 parecem instáveis. O que valia ontem, não vale hoje. Isso acontece porque o público leigo está podendo acompanhar, em tempo real, como funciona a ciência: uma busca infindável por novas comprovações. Cientistas não deitam sobre os louros de uma certeza: sabemos que tudo pode mudar diante de uma nova descoberta.
Operando em terreno tão novo e desconhecido, não é raro nos depararmos com pesquisas científicas que põe por terra informações tidas como seguras até pouco tempo. De acordo com pesquisa da USP e da Universidade de Oxford, o coronavírus já estava circulando no Brasil bem antes dos primeiros casos detectados, no final de fevereiro. Outro estudo, da Universidade Federal de Santa Catarina, corrobora a tese. A UFSC encontrou partículas do novo coronavírus em duas amostras de esgoto colhidas em Florianópolis, em novembro e dezembro de 2019, portanto três meses antes do primeiro caso oficialmente diagnosticado no Brasil.
A circulação prévia do vírus explica por que algumas pessoas infectadas com o novo coronavírus apresentam apenas sintomas leves ou ficam assintomáticas? Como se sabe, existem os antigos coronavírus. Não seriam eles os responsáveis pela imunidade da absoluta maioria da população, assintomáticas ao novo vírus? A isso chamamos imunidade cruzada.
A corrida do ouro em busca de algum imunizante eficaz também traz dúvidas. Algumas empresas testaram inúmeros pacientes sintomáticos, a partir do PCR-Swab nasofaringeano – mais conhecido como o teste em que se coleta material pelas vias nazais e faringe – que foram positivos para a Covid-19. Tempos depois, em média 30 dias, para os mesmos pacientes realizamos a sorologia para Covid-19 (IgM e IgG). E a absoluta maioria dos testados foi não-reagente.
Uma empresa nossa cliente testou 12 mil funcionários em busca da imunidade sorológica de sua equipe e somente 68 indivíduos foram reagentes, ou seja, cerca de 0,5% do total. Diante dessa pequena amostra, porém muito significativa, podemos afirmar que teremos a imunidade de rebanho?
Se o vírus in natura é incapaz de gerar imunidade natural, o que será da vacina que é feita com fragmentos do vírus, do vírus morto ou geneticamente modificado? Cerca de 25% dos americanos já afirmaram que não farão uso da nova vacina. E mais: a quem se destinará a vacina? Aos idosos com comorbidades? A vacina estimulará a produção pelo corpo humano de células (linfócitos T e B) imunológicas e anticorpos neutralizantes? Por quanto tempo gerará imunidade? Haverá efeitos colaterais? Quantas doses serão necessárias para gerar imunidade no ser humano? Quanto custará cada dose?
A OMS afirma que o vírus está no ar! Milhares de pessoas ainda se encontram isoladas em suas casas. Se protegendo do quê? Entretanto, a absoluta maioria da população mundial persevera assintomática e não reagente ao novo coronavírus quando realiza a sorologia específica.
Os parâmetros que mais impactaram nas mortes geradas pela pandemia são idade combinada com comorbidade. Devemos observar esses parâmetros atuando em conjunto. O Japão, por exemplo, que tem a população mais longeva do planeta, teve poucas mortes em números absolutos. Isso se explica porque as comorbidades em solo japonês são bem menores do que em outros países ocidentais. Trata-se de um país disciplinado, em que as pessoas se alimentam de forma saudável, respeitam os idosos e se cumprimentam à distância. Na contramão está os EUA, que tem grande população de idosos com alto índice de comorbidades ou doenças crônicas silenciosas (obesidade, diabetes, hipertensão e câncer), os óbitos são elevados.
O estilo de vida saudável é o melhor remédio contra as doenças crônicas. É a vacina natural! Se alimentar equilibradamente no cotidiano, fazer atividade física regularmente, dormir um sono de qualidade e praticar anualmente a prevenção através do check-up médico, são ações que impactam na imunidade e na longevidade.
Quanto às vacinas desenvolvidas por laboratórios, as controvérsias se estendem ainda sobre a data de lançamento da primeira vacina, alguns afirmam que ela chegará ainda este ano, outros são categóricos em afirmar que só em 2021. Até lá, enquanto a vacina não chega, não podemos esperar que as pessoas fiquem em casa estando a absoluta maioria assintomática e sem imunidade específica. Isolamento sem prazo definido tão pouco é plenamente seguro, haja visto o crescimento de óbitos em casa, que têm como base, as doenças crônicas.
Precisamos retomar a vida com organização e acima de tudo, com saúde.
É hora de se colocar vida na saúde das pessoas.