15 abr, 2021

Por Angela Vega

Preparando-se para a longevidade

Até quantos anos você gostaria de viver? Em algum momento, você já ouviu ou se fez essa pergunta?

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil e no mundo, também cresce a possibilidade de vivermos por mais tempo.

Surge então a segunda pergunta: o que fazer com os anos a mais que receberemos? Essa resposta depende de um planejamento, de como nos prepararemos para essa realização. Eu me dei conta dessa questão em alguns episódios da minha vida. Quando fiz 40 anos, lembro de ouvir as pessoas dizendo que, depois que se entrava nos “-enta” (50, 60, 70 anos), não se saía mais. Fiquei muito feliz ao perceber que havia uma saída: chegar aos 100!  Saímos dos “-enta” ao atingirmos 100 anos de idade. Para usufruir desse tempo a mais, precisamos nos organizar nas várias dimensões da nossa vida, por exemplo: saúde, econômica, profissional e relacionamentos.

Como fazer isso? Sugiro começar com uma dimensão por vez, fazendo um inventário de onde você está e onde gostaria de chegar na idade pretendida.

Como está a sua saúde física, mental e espiritual? A pandemia nos deixou “mais pesados/as” física e emocionalmente. Avalie seus hábitos relacionados à alimentação, ao exercício físico, à qualidade do sono. Como você cuida da sua saúde mental e espiritual?  Meditação, exercícios de gratidão, mindfulness são algumas das possibilidades a serem experimentadas.

E sua vida financeira? Encare-a de frente. Observe e analise seus hábitos de consumo. Onde estão seus “ralos de dinheiro” (desperdícios, gastos desnecessários, assinaturas não usadas etc.)? Já ouviu falar em simplicidade, em “simplificar a vida”? Em minimalismo? Avalie o que melhor se adapta à sua realidade.

Como vai sua vida profissional? A carreira ou trabalho também pode ser fonte de prazer ou, pelo menos, deveria ser. Você tem um planejamento? Se está desempregado/a, como e onde está aplicando seu tempo livre? O investimento em aprendizado contínuo é fundamental e não precisa ser formal. Muitas oportunidades estão sendo oferecidas, bastando procurar. Se você está empregado/a ou empreendendo, como pode aproveitar para aprender e se desenvolver? Capitalize, observando e avaliando, tomando consciência. Com a longevidade, poderemos exercitar várias carreiras. Já pensou nisso? É preciso começar já. Pense no que você gosta de fazer e que poderia se transformar em um trabalho, um negócio, um empreendimento, uma oportunidade de trocar conhecimento e experiência por dinheiro e tempo. Várias histórias de reinvenção estão acessíveis nas mídias sociais e podem ser fontes de inspiração. Em informática, existe a sigla GIGO (Garbage In, Garbage Out; em português, Lixo para Dentro, Lixo para Fora), que seria o equivalente a dizer que nossa produção, nossas realizações, estão diretamente relacionadas ao que “ingerimos”. Por isso, a importância das escolhas de “ingestão” que fazemos, seja pela audição ou pela visão, pois somos influenciados/as por elas.

A pandemia também nos trouxe muitos desafios na dimensão dos relacionamentos. Estamos todos/as aprendendo a viver a maior parte dos nossos relacionamentos à distância e outros, muito mais próximos, quando habitamos o mesmo local. O estudo de Harvard (“What makes a good life?”), que acompanhou a vida de 250 homens durante 70 anos, mostrou que o fator mais importante para a longevidade e o envelhecimento saudável era o nível de satisfação com os relacionamentos. Eles estimulam o senso de pertencimento e de apreciação. Como você está cultivando seus relacionamentos? Vários aplicativos estão disponíveis e podem ajudar a encurtar o distanciamento social. Além de nos “escrevermos”, podemos nos “encontrar” nas telinhas. É sempre uma alegria poder “encontrar” meus pais (85 anos) pelas chamadas do whatsapp.

Todas as perguntas e reflexões desse texto estão muito vivas em mim e adoraria ouvir como você está se preparando para a longevidade, com atenção especial aos cuidados necessários para atravessarmos esse momento de pandemia.

Disclaimer ou Aviso: esse artigo foi escrito para pessoas psicologicamente saudáveis, com domínio das suas faculdades mentais. Se você não se sente assim, procure ajuda. Não menospreze ou minimize sua situação.

 

Referências:

  • What makes a good life?  –  Lessons from the longest study on happiness | Robert Waldinger: https://youtu.be/8KkKuTCFvzI
  • Imagem de Gerd Altmann para Pixabay