22 jun, 2021
Por Betania Tanure
Se você não é parte da solução, é parte do problema
A importância de estimular a capacidade positiva para construir melhores soluções
Tenha sempre em mente o óbvio: todos nós temos, vivemos e experimentamos dois mundos, o interno e o externo, e eles se afetam. Não se esquive de responsabilizar-se pelo rumo de qualquer desses mundos. À medida que interagem, eles influenciam você, seu equilíbrio, sua alegria de viver.
Na abordagem do complexo mundo interno, um aspecto é fundamental: a dificuldade que muitos têm de conversar abertamente consigo mesmos. Essa abertura é pré-requisito para o bom diálogo na discussão de temas áridos, para que o indivíduo possa assumir a responsabilidade pela própria vida e até para que decida se exerce ou não seu papel como parte da solução também no mundo externo.
Ao analisar o mundo externo, focaremos a empresa e o país. Na empresa, esse mundo é constituído por seus pares, time, chefe, conselho de administração, clientes, por todos com quem você interage nesse ambiente, que, hoje mais do que nunca, é de incerteza. Nesse cenário desafiador, a cultura deve cumprir seu papel, estimular as pessoas a fazer parte da solução. Deve valorizar a experiência (que envolve erro e rápido acerto) e a sabedoria que ela traz.
Em se tratando de Brasil, você deve incluir tudo o que envolve sua corresponsabilidade como cidadão ou cidadã pelos rumos que o país toma. Diante dessa afirmação, você pode dizer: “Você está exagerando. Não sou corresponsável, por exemplo, pelas decisões do Executivo, do Legislativo, do Judiciário”.
Entendo o seu ponto, mas, por gosto ou desgosto, nós somos responsáveis, de alguma forma, pelo que acontece de bom e de ruim na nossa sociedade. Pode não ser o seu caso, e assim espero, mas a maioria, e aqui falo em especial de uma boa parcela dos que pertencem a uma classe social ou educacional mais alta, não assume sua inequívoca responsabilidade sobre o destino do seu país. Apenas para citar o passado recente, foi assim em 2018, em 2020 e não podemos deixar que seja da mesma forma em 2022.
No ambiente empresarial, a dinâmica é semelhante. Tanto nas discussões estratégicas como nas cotidianas, se você considera que uma decisão tende a estar errada, deve, por obrigação ética, influenciar na direção que julga ser correta.
Considerando a influência mútua entre nossos dois mundos, precisamos compreender que a maioria das pessoas está “com os fios desencapados”: nervosas, irritadas, tristes… A vida pessoal de 58% dos brasileiros está “messy”! Tenho abordado o assunto nesta coluna; a cada mês a atualização de nossa pesquisa mostra a piora da situação. Nas empresas, 88% das pessoas estão “no fio da navalha”. Tudo isso em um ambiente externo que se agrava.
E aqui também vale a frase-título deste artigo: se você não é parte da solução, é parte do problema. Permanecer na lamúria é imaturidade. E imaturidade é incompetência. São reações que cabem na primeira infância, mas não na fase adulta.
Também é infantil o desejo mágico de destronar o chefe quando ele não lhe parece competente ou uma autoridade, de sair de grupos de WhatsApp, de mudar de lugar, como se isso fosse resolver os problemas. Essa é a “capacidade negativa”, que temos de reverter para “capacidade positiva”. Para isso torna-se essencial a empatia na construção de soluções conjuntas.
Quem é adulto, do ponto de vista psíquico, sabe que faz parte do problema às vezes e da solução sempre. Não se preocupa em discordar nem em concordar a priori, muito menos em culpar o outro, mas orienta-se para a corresponsabilização na construção das melhores soluções.
A hora é agora: no meio de uma pandemia, temos a dor como estímulo para a mudança. Não deixemos passar a chance. É a hora de estimular a capacidade positiva, de você, como eu e cada um de nós fazer parte da solução, em nível individual, organizacional e do nosso querido Brasil.