14 mar, 2022

Por Beth Accurso

Pós-pandemia: o novo perfil do profissional do futuro

Fernanda Mayol e Monique Araujo*

A pandemia de covid-19 mudou as definições de trabalho e de profissional. Passados dois anos intensos, as organizações se debruçam sobre os modelos de trabalho em voga antes e durante este período para entender o que funciona e o que precisa mudar. O novo modelo, que está nascendo agora, tem a missão de maximizar o que cada profissional tem de melhor.

O perfil de profissional desejado pelo mercado de trabalho inclui agora, e mais do que nunca, uma grande capacidade de adaptação – afinal, os novos profissionais precisarão enfrentar uma série de mudanças, desde aquelas no local de trabalho até novas maneiras de trabalhar e novas competências necessárias para realizar esse trabalho.

MUDANÇAS NO LOCAL DE TRABALHO.

Um dos grandes aprendizados da pandemia é que o trabalho remoto funciona: é possível manter uma alta produtividade e conquistar resultados desejados, mesmo não estando todos no mesmo local.

O trabalho remoto também proporciona maior acesso a talentos: empresas das indústrias mais competitivas podem conquistar ótimos profissionais mesmo não estando nas regiões mais atrativas.

Entretanto, como nada é perfeito, o trabalho remoto também traz algumas dificuldades – à distância é mais difícil manter a cultura de uma empresa viva e mais difícil construir e cultivar relações interpessoais com os colegas, sobretudo para colaboradores que começam um novo trabalho já dentro desse modelo remoto. Manter o limite entre vida pessoal e profissional também se torna um desafio, o que pode impactar a saúde mental. Organizações e funcionários estão em busca do equilíbrio perfeito com o melhor dos dois mundos.

As definições desse equilíbrio dependerão de quatro fatores: as aspirações da empresa com o trabalho remoto; a natureza da função ou atividade; as condições de trabalho fora do escritório; e a vontade do colaborador. A maioria dos profissionais gostaria de manter ao menos dois dias de trabalho remoto por semana.

MUDANÇA NO JEITO DE TRABALHAR.

Duas grandes tendências estão mudando nosso jeito de trabalhar: a automação crescente de uma série de funções do cotidiano e a adoção de uma estrutura de trabalho ágil.

De cada dez ocupações, seis têm mais de 30% de atividades tecnicamente automatizáveis. Alguns exemplos dessa automação são os softwares de gestão contábil, machine learning para apoiar o recrutamento de funcionários e previsão de risco via inteligência artificial no setor financeiro.

Evidentemente, esse porcentual de automação varia bastante conforme a ocupação, ainda assim, é uma mudança gigantesca e que foi bastante acelerada pela pandemia.

A adoção da metodologia ágil de trabalho também foi acelerada pela pandemia. Essa é uma tendência crescente no mundo corporativo: ela reorganiza a estrutura hierárquica de uma empresa e cria equipes pequenas, multifuncionais, que seguem metas de forma autônoma, monitorando continuamente seu desempenho, sempre apoiadas por uma liderança que atua como um habilitador.

MUDANÇAS NAS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS.

Como consequência direta da automação e da metodologia ágil, os profissionais do futuro terão que dedicar mais tempo a seus conhecimentos de informática, ao desenho de tecnologia, engenharia e manutenção, empatia, capacidade de liderança e gestão de pessoas. Precisaremos menos de habilidades físicas, manuais e cognitivas básicas e mais de habilidades tecnológicas e emocionais.

Não por acaso, a habilidade considerada mais imprescindível de ser abordada nos processos de qualificação, segundo uma pesquisa da McKinsey, é o pensamento crítico e a capacidade de tomar decisões – as máquinas não decidem, elas executam; pensar criticamente é exclusivo do humano e precisa ser menos escasso. Logo atrás, liderança e advanced analytics seguem de perto no ranking.

Se os programas de upskilling e reskilling são importantes, mais importante ainda é o profissional ser o protagonista de seu aprendizado e não esperar, buscando processos constantes de requalificação.

Ter as habilidades certas é um dos grandes desafios desta era. Temos de nos acostumar a testar e a aprender mais, assumindo riscos e estando abertos ao erro. Isso tudo terá influência direta na nossa empregabilidade, na renda e na satisfação que sentimos com o trabalho.

Fonte: Estadão de São Paulo
Fernanda Mayol é sócia da Mckinsey e líder do escritório do rio de janeiro.
Monique Araujo é sócia associada da Mckinsey.