30 mar, 2022

Por Betania Tanure

Pessoas sem princípios merecem reconhecimento?

A colunista Betania Tanure escreve sobre as dúvidas que surgem na gestão e liderança das empresas e como as decisões são tomadas

A crise geopolítica advinda da recente invasão da Ucrânia soma-se à pandemia, ou a seus efeitos, para além das enormes mudanças em curso no mundo dos negócios, nas lógicas organizacionais e nas expectativas individuais.

O momento é de incerteza. Enquanto muitos se mantêm nas empresas em que estavam antes da pandemia, outros mudam de vida radicalmente: o executivo decide empreender, a executiva transforma sua casa de praia em pousada, a secretária torna-se organizadora de produção de cinema… E há, ainda, os que perdem força ao ver seus planos profissionais desmoronarem ou as relações afetivas destruídas. Caem em depressão e buscam algum alívio em remédios.

Se você é um deles, reaja! Tome consciência de que é preciso buscar ajuda para encarar essa realidade em constante mudança, aprender a conviver com ela e renovar-se a cada dia. Preserve sua esperança e cultive a alegria de viver, de encontrar significado no trabalho, de cultivar ou recuperar seu “casamento”, de saborear um domingo em família.

As mudanças sociais foram potencializadas pela incerteza, que na vida profissional se reflete na inutilidade de muitas previsões e das longas horas de planejamento estratégico. Não se pode ignorar a emergência da interação entre o ambiente em mudança radical, de pouca previsibilidade, e as “capabilities” organizacionais, a cultura entre elas, que serão objeto e fruto de novos modelos de negócio.

Vamos a três exemplos, tendo em mente que o fio terra, especialmente em tempos de incerteza, são os princípios.

O primeiro exemplo se relaciona diretamente a esse fio terra, os princípios, a cultura da organização, vis-à-vis promoções e bônus. Pessoas que entregam ótimos resultados de curto prazo mas estão desalinhadas aos princípios e à cultura levam bônus ou não? Segundo nossas pesquisas, 85% dos presidentes das melhores e maiores empresas têm essa dúvida, mas dão os bônus a esses executivos. E o histórico de demissões diante da não sustentação dos resultados a longo prazo é de apenas 5%. Será por quê? Será que faltam princípios e sobra oportunismo? “A mera dúvida sobre princípios já elimina a dúvida – ou os princípios!”

Outro ponto: se uma pessoa “fala uma coisa e faz outra”, deve-se ter uma conversa franca com ela sobre o problema? Falar a verdade, quando isso pode ampliar o desenvolvimento do outro, é princípio ou não? O desafio é que, mesmo que haja consciência da importância dessa conversa, dificuldades emocionais geram dúvidas sobre a “pertinência” de tê-la e sobre o risco de ela perturbar a harmonia (ainda que falsa) das relações. “A mera dúvida sobre os princípios já elimina a dúvida – ou os princípios!”

Terceiro exemplo: se para aquele grande cliente a escolha certa é a que ele não quer ouvir, deve-se dizer a verdade ou deixar o discurso no limbo para não correr o risco de perder o negócio? O princípio é mesmo a centralidade no cliente ou o fechamento da cota de vendas? O mesmo vale para o que o “chefe” não quer ouvir. “A mera dúvida sobre questões de princípios já elimina a dúvida – ou os princípios!”

Para finalizar, entro em um terreno pantanoso: as eleições e o papel do leitor como cidadão, que vota e influencia pessoas. Tenha consciência de que se você pertence à elite social e educacional tem maior responsabilidade em exercer com plenitude o seu papel de cidadão. Está em dúvida sobre em quem votar? Não concorda com os valores do candidato x, com a prática do candidato y, mas tende a votar em um deles? Caso se identifique, pense, repense e renove-se. Mais uma vez, caro leitor, perceba que “a mera dúvida sobre princípios já elimina a dúvida – ou os princípios!”

Não fique à mercê de uma falsa dúvida ou de “falsos princípios”. Afinal, você quer ser reconhecido pelo oportunismo ou pelos princípios? A escolha é sua!

Imagem: pexels.com