01 fev, 2023

Por Betania Tanure

A difícil arte de ser o sucessor em qualquer projeto

Todo sucessor, seja homem ou mulher, tem diante de si grandes desafios. O primeiro deles é compreender as verdadeiras razões de ter sido escolhido. Deve tê-las sempre em mente, como base de suas decisões, e não se deixar encantar pelo poder conquistado.

Via de regra, no entanto, os poderosos se tornam cegos e surdos, e acreditam ser invisíveis. Cegos porque só enxergam o que querem. Surdos porque “matam o mensageiro” quando a notícia não alimenta suas crenças. Invisíveis porque acham que podem fazer o que querem sem que as pessoas percebam as suas reais intenções.

Você acha que sou dura demais? Não sou, acredite. Compreender isso é o primeiro – e eterno – desafio de quem está no poder, desafio que se multiplica no momento da sucessão. Sentar-se em uma nova cadeira é sempre motivo de júbilo, merecidamente. Mas cuidado com a entourage, ela é implacável.

O segundo desafio que destaco aqui é a definição criteriosa do que deve ser mudado. Um sucessor pode querer mudar tudo e todos, movido pela imaturidade ou por um projeto de poder. Em vez de sair mudando, porém, deve analisar criteriosamente o ‘as is’ e o ‘should be’, sem se deixar cegar por ideologias. Isso é especialmente difícil quando o projeto de poder é maior do que o propósito. Ou seja, quando a captura de valor para o indivíduo suplanta a construção de valor para o coletivo; quando, sob a sedução das ditas benesses do poder, não se privilegia a “agenda” que fez com que determinada pessoa fosse escolhida para dirigir uma empresa, uma área, um estado, uma nação.

Segundo a nossa metodologia proprietária dos 3 Rs, deve-se analisar sob essa lente fatores como estratégias, design, políticas, processos e cultura e só então definir o que é preciso Retirar, Renovar (isto é, ter de novo) ou Reforçar, esta difícil arte, para os sucessores, de aceitar o que está bem e se deve manter ou até mesmo intensificar.

Esse mesmo raciocínio se aplica às pessoas. A sua equipe deve ser escolhida por competência ou para alimentar a sua rede de poder? A segunda opção seria injusta para quem elege, sejam acionistas, membros do conselho de administração ou eleitores. Também não é justo que colaboradores sejam descartados por não fazer parte da “turma”. É injusto, é caro, é ineficiente. Na escolha de pessoas, por mais difícil que seja, a competência deve ser o critério.

Poderíamos citar tantos outros desafios, entre eles a relação entre sucessor e sucedido, a aceitação por parte do sucedido de que não está mais no poder… Mas paro aqui.

Não ache que esta análise vale somente para o outro. Tenha coragem neste início de ano de analisar a si mesmo, olhar-se no espelho sem máscara. Tenha a coragem de analisar o seu espaço de poder, aquele sucessor que te rodeia, seja o que te lidera, seja seu liderado – e, por que não dizer, os sucessores que você elegeu ou que foram eleitos para administrar sua empresa, seu estado, o nosso país. Vale para todos.

Tenha coragem e a certeza de que mais cedo ou mais tarde a conta vem – na forma de crédito ou de débito. Exerça com competência e integridade o poder que você tem. E faça de 2023 um ano de escolhas certas, com objetivos certos, para as pessoas certas. Avante!

Imagem: Freepik