11 abr, 2023

Por Betania Tanure

Uma bela confusão se criou sobre o perfil dos jovens

Entre os jovens executivos, a experiência de viver desafios profissionais com toda a intensidade é priorizada ou se prioriza a qualidade de vida?

Em nossas pesquisas, a percepção de quase 90% dos entrevistados é que hoje os mais jovens privilegiam a qualidade de vida e rejeitam a rotina profissional demasiadamente intensa. Mas como estaria a sede de aprendizagem desses jovens? E a resistência a frustrações? Vamos a uma breve análise do que está abaixo da linha d’água.

Nenhuma dúvida de que a atual geração mostra-se muito menos disposta a renunciar de olhos fechados a atividades que envolvem sua vida pessoal. Há, no entanto, uma confusão entre conceito e prática, entre sentimento de renúncia e sede de aprendizagem, de crescimento. Uma bela confusão!

Com a ausência da sede de aprender, de crescer, desafios são vistos como problemas, demandas como sacrifícios,não há brilho nos olhos e aquela energia extra não brota.

Diante disso, você, CEO, você, senior management, você, membro do conselho de administração, e você, executivo de RH, têm um grande desafio: identifique com maior precisão quem tem sede, quem tem fome e o porquê. Entre os que não têm sede, os que não têm fome, descubra quais desejos se perderam e se são resgatáveis.

Para refletir um pouco mais sobre isso, veja uma pesquisa que fizemos com CEOs de diversas partes do mundo. O grupo foi liderado por Wharton e representamos o Brasil na equipe multilocal. O resultado internacional é bastante consistente com o brasileiro nos quesitos resumidos a seguir.

Muitos dos grandes líderes não tiveram vida fácil. As histórias de vida de mais de 80% deles incluem privações e problemas sérios na infância ou adolescência, como alto nível de pobreza, separação dos pais, ou perda de um deles, problemas de saúde significativos. Os que não viveram rupturas como essas aprenderam em casa, desde cedo, que “não tinham o mundo a seus pés”, ponto fundamental para o desenvolvimento do líder.

A relação apresentada nesses dados entre desenvolvimento de líderes e história pessoal traz um alerta também para os pais: não impeçam seus filhos de sentir o prazer de ter desejos, viver a expectativa da espera ativa e enfim saborear o “consegui!”. Invista genuinamente no desenvolvimento deles. Isso vale também para os liderados.

Ser um grande líder não significa ser o CEO de uma grande empresa. Liderança se exerce nas diferentes dimensões da vida e nas diversas profissões. Talvez aqui tenha, sim, uma premissa: o trabalho é uma importante área da vida, de satisfação, realização, significado.

Identifique entre os colaboradores aquele que tem desejo, sede de ir além e apoie essa pessoa. Tenha também uma conversa aberta, generosa e sem preconceitos com quem não tem essa sede. Quem sabe você, com sua experiência e generosidade, pode ajudar a conhecer o significado que move a vida dela, de cada um e despertar o desejo de ir além…

Não perca tempo, ajude a diminuir essa bela confusão entre sede de aprendizagem e renúncia. Quem sabe isso ajuda até a reduzir o número de jovens que deixam o Brasil para viver outros países (tema para outro artigo). A mim isso preocupa: não podemos deixar o futuro sair pelos aeroportos brasileiros. Ainda está em tempo!

Imagem: Valor Econômico