29 maio, 2023

Por Betania Tanure

Chega de exagero no ativismo

Dias atrás, durante conversa com um pequeno grupo, ouvi de um amigo, Luciano Huck, um comentário curioso sobre o que levou o público a escolher a vencedora do último BBB. Você, como eu, talvez não assista ao programa, então vou contextualizar.

Eram nove finalistas. Sob a intensa e polarizada discussão do grupo, o Brasil foi votando. Com quase 69% dos 76,2 milhões de votos, venceu Amanda Meirelles, médica, que viu no BBB a oportunidade de quitar seu Fies. E por que levou o prêmio? Para Luciano, “o que ganhou foi a simpatia, a delicadeza, o respeito, a empatia, o diálogo”. Sim! Sem se estressar diante dos conflitos, sem polarizar nem exercer papel de ativista, ela buscou o equilíbrio, diferentemente da maioria.

Há uma importante mudança comportamental acontecendo no Brasil. Não só os fãs do BBB se cansaram de polarizações. Me arrisco a dizer que quase todo o país as rejeita. É preciso compreender o valor do ativismo em um processo de mudança, mas isso inclui saber quando ele subtrai mais do que soma: o momento é de evitar o discurso ativista nas relações. Ele torna a discussão rasa, até insuportável.

Precisamos respeitar os valores, os significados que eles têm para as diferentes gerações. A realidade é múltipla! Um exemplo: dias atrás eu conversava sobre diversidade com meus filhos, dois jovens adultos: Guilherme, engenheiro de produção, e Luisa, psicóloga e mestranda em administração. Eles me disseram: “Fazer da orientação sexual uma discussão é coisa da sua geração, que precisa compreender que para nós isso é um ‘não assunto’”.

Vamos combinar essas observações, casuais, de jovens de menos de 30 anos com as de Luciano, que enxerga os movimentos sociais de um Brasil diferente desse que me lê aqui.

Precisamos resgatar nosso sonho de crescimento individual, de evolução social, de um país melhor. Não por meio do confronto, da destruição, mas da união. Ninguém aguenta mais o ataque, queremos paz para fazer o que é certo.

Um dos eixos da cultura brasileira tem sido agressivamente confrontado. O brasileiro, nas organizações, nos grupos sociais e na família, busca a harmonia das relações. O confronto não é de nossa cultura. Nas organizações, esse traço potencialmente “sol” estimula o bom clima, o afeto, a hospitalidade, que hoje estão sendo destruídos pelo confronto.

Não deixe que isso tire de você o desejo de ter a boa discussão, por vezes sombriamente evitada. Conflito de ideias não é sinônimo de confronto! O confronto é gerado pela falta de interesse em ouvir, quando o foco é ganhar a discussão, é destruir o outro. Já o conflito se dá de forma saudável: você compreende o que o outro diz e mostra que (e por que) pensa diferente. Que ganhe a melhor ideia!

Pode ser a 1, a 2 ou nenhuma delas – e até gerar uma inovação. Portanto, como organização, como líder que você é na sua empresa e na sociedade (não fuja desse seu papel), é mais do que hora de não deixar os poucos barulhentos tornarem a vida chata, o que ocorre quando se exalta o confronto. Vamos juntos aos bons conflitos de ideias, para que possamos nos desenvolver cada vez mais como indivíduos, criar relações mais fortes, organizações melhores e um país que tenha condições de crescer e ser uma sociedade mais justa.

Imagem: pexels.com