06 jul, 2023

Por admin

A primeira grande crise profissional: e agora?

Dirigentes na faixa etária de 35+ a 50- fazem parte de uma geração muito bem formada, que teve acesso às melhores escolas do Brasil e do mundo e é fluente em um segundo ou terceiro idioma, diferentemente de boa parte da que a antecedeu. Seu sucesso, por vezes extraordinário, se deu, em boa parte, em um contexto de negócios em expansão.

Promoções sucessivas, por vezes antes da hora, impossibilitavam o fechamento de ciclos no tempo correto. Ou seja, tomavam decisões sobre temas estruturantes e já se mudavam de função, ou mesmo de empresa. Diante do sucesso da implementação do que fora definido, o mérito era de quem decidia. Se, no entanto, a execução fosse mal-sucedida, a responsabilidade era de quem implementava. Com isso, perde-se aprendizado. Captura-se o sucesso e terceiriza-se o fracasso.

No auge do sucesso, empresa em alta, dirigentes se sentem os melhores “do mundo”. Faria Lima, revistas, jornais, eventos e palestras… enfim, são o símbolo do poder, da competência imbatível e não raramente “vestem a capa” da Mulher-Maravilha ou do Super-Homem. Tudo isso contribui para setar as expectativas com régua cada vez mais alta, a própria superação torna-se quase um vício.

Hoje não bastam os resultados objetivos. Já os subjetivos, que não são atingidos com solidez por 77% dos que dirigem uma empresa, tornaram-se fundamentais. Tudo isso, em meio a uma primeira crise depois de anos de sucesso, gera pressão ainda maior: dúvidas sobre a própria competência, autoestima em baixa, sentimentos “escondidos” no coração ou na mente. Isso perturba, incomoda, angustia, mesmo que silenciosamente.

O processo decisório firme e a direção clara que fizeram parte da fase anterior dão espaço a um círculo vicioso. A velocidade e a qualidade das decisões entram em queda. Criam-se ziguezagues na comunicação devido a não confiança na própria competência. É um círculo sem fim: as pessoas sofrem, perdem o sono e isso prejudica a qualidade do trabalho, o humor, as relações. Problema criado: algumas passam a beber mais, fumar mais, comer mais, outras têm a lucidez e a coragem de buscar ajuda externa. Nesse ambiente, mais ou menos intenso, a competência existente se reduz, e isso atinge ainda mais os resultados.

Diante de tudo isso, o tema “segurança psicológica” é absolutamente relevante. Novamente entro em um terreno pantanoso: esse tema tem sido abordado de forma quase leviana por alguns. Usam-se receitas, “to do list” ou o tratam como se fosse um problema matemático. Isso aumenta a pressão sobre as pessoas para que criem tal ambiente em um passe de mágica ou por não conseguirem fazê-lo. Fica-se a um passo da “síndrome do impostor/da impostora”.

Esse assunto precisa ser tratado com profundidade e consistência. Não basta uma palestra, por melhor que ela seja. O processo deve incluir, de forma articulada e com metodologia, o indivíduo, a equipe e a cultura, temas superconectados.

Não queira vestir a capa da Mulher-Maravilha, do Super-Homem. A vida tem morros e vales. Com as pessoas certas, os apoios certos, as metodologias certas, o escuro vai, devagar, ganhando brilho! E você que já passou por muitas crises não se furte de chegar mais perto e apoiar essa geração. Ela precisa de você.

Imagem: Pexels