27 jul, 2023

Por Betania Tanure

A briga silenciosa: felicidade ou estresse?

A colunista Betania Tanure fala sobre como as relações afetivas em crise se conectam com a realização profissional e o propósito

 Nunca se viu tanto stress no ambiente corporativo. Nossas pesquisas revelam que o uso de medicamentos prescritos por psiquiatras mais que quadriplicou nos últimos tempos. Há uma insatisfação difusa, uma briga silenciosa com a própria alma, uma tentativa comum de achar “culpados”. Culpa-se a empresa por tensões de origem pessoal e debita-se na “conta” das pessoas as incompetências organizacionais. Por mais que as duas esferas se sobreponham, deve-se dar a César o que é de César…

Foram divulgados no Brasil os dados de um estudo liderado pelo professor de Harvard Robert Waldinger que teve como tema relações afetivas significativas, variável fundamental no índice de “felicidade” dos participantes, essencialmente americanos. Considerando a nossa amostra brasileira, me junto ao Robert neste finding e vou abordar aqui outros dois pontos, ou contrapontos, sempre considerando que “felicidade” não é um estado, é uma viagem.

Nossas pesquisas também mostram que as relações afetivas são ponto-chave da (“in)felicidade” e estão em crise: 42% dos casamentos desmoronaram durante a pandemia e suas repercussões persistem. Nesse pantanoso terreno também se observaram diferenças relevantes de sentimentos, ou de conflitos, entre mães e pais.

Particularmente mulheres executivas expressam um sentimento ambíguo, recheado de culpa por essa escolha e pela consequente terceirização doméstica – tema, aliás, em parte ressignificado nos tempos de pandemia. É frequente o relato de que passaram a ter a “posse” da sua casa, a estabelecer a sua dinâmica nesse ambiente e do prazer inesperado que isso gerou. Tal sentimento também se mostrou mal equilibrado: para algumas, a maior convivência com o parceiro revelou problemas. E filhos em período de homeschooling são um capítulo à parte: prazer por estar perto, mas incômodo com a falta de espaço individual, o que é impublicável. Por sua vez, muitos pais passaram a conhecer o prazer em ver peripécias cotidianas dos filhos em crescimento.

O fato é que só se constroem momentos de “felicidade” com relações afetivas significativas, realização profissional e o propósito que guia a vida das pessoas como Cidadãs, com C maiúsculo. Ou seja, nada simples.

Em países emergentes, o cidadão é ainda mais responsável por contribuir para a construção de um país melhor. Há, porém, certa angústia: se por um lado isso é fonte de prazer, de realização, por outro é mais uma demanda e desafia a competência de influenciar e realizar.  A alma Estadista, teoria nossa, está cada vez mais presente entre eles: já se tem, de forma crescente, especialmente entre os que me leem, a consciência da responsabilidade de cada pessoa de impactar os rumos do seu país.

Em 95% dos casos, porém, essa consciência ainda não se reflete na prática. Medo? Falta de competência? Dificuldade de mergulhar em um novo papel? Talvez um pouco de cada coisa.

Agir, impactar o meio, articular de modo saudável e republicano por uma sociedade mais justa: você que faz isso também usufrui do benefício da satisfação e da “felicidade” de ter uma vida com propósito. Afinal, não permanece na História quem acumulou riquezas, e sim quem ajudou a construir um país.

É com você! É conosco!