26 jul, 2024
Por Maria Helena Carneiro
Como a emergência climática vai afetar o mundo do trabalho e o que as empresas podem fazer?
ESG, SAÚDE MENTAL e FUTURO DO TRABALHO
O mundo do trabalho terá muitos impactos na adaptação ao aquecimento global nos próximos anos, mas esta Newsletter abordará apenas um: o calor no trabalho.
Impactos da Mudança Climática no Trabalho
Ondas de Calor Sem Precedentes: O mundo enfrentará ondas de calor sem precedentes que se tornarão cada vez mais comuns, conforme ressaltado pelo professor David Michael, da Universidade George Washington, na reunião anual da Rede OSH (Occupational Safety and Health) que aconteceu junto à Reunião Técnica sobre Emprego do G20 Brasil. Dados da OIT indicam que 2 milhões de pessoas já sofrem com o estresse térmico, vivendo em piores condições devido ao aumento das temperaturas.
Impacto no Mundo do Trabalho: A adaptação ao aquecimento global trará muitos desafios para o mundo do trabalho, sendo o calor excessivo um dos principais problemas. Hoje as atividades que têm sobrecarga térmica já são passíveis de monitoramento e controle através da NR. 15. O calor extremo pode causar insolação, doenças respiratórias, cardíacas e renais por causa da desidratação, além de exaustão térmica e golpe de calor, uma condição grave de superaquecimento agudo do corpo, que provoca uma resposta inflamatória. Estudos também apontam para o impacto do calor na saúde mental dos trabalhadores.
Setores Mais Impactados: As mudanças climáticas afetam trabalhadores em quase todas as áreas, especialmente aqueles que trabalham ao ar livre ou em ambientes abafados. Pelo menos 70% dos trabalhadores globais são afetados pelas mudanças climáticas. Estima-se que, até 2030, a produtividade global possa diminuir o equivalente a 80 milhões de empregos em tempo integral devido ao calor extremo. Setores como construção e agricultura são os que mais sentem. O agronegócio, por exemplo, emprega 27% dos trabalhadores no Brasil. Por conta do estresse térmico, em 2019, Ministério do Trabalho e Emprego atualizou a NR 31 que trata das atividades na agricultura.
Aumento das Doenças e Desafios para Infraestruturas de Saúde: As previsões indicam um crescimento significativo nas doenças transmitidas por vetores, insegurança alimentar e problemas de saúde mental, aumentando a pressão sobre as infraestruturas de saúde. O calor excessivo já causa cerca de 23 milhões de lesões corporais anuais, com quase 19 mil mortes, além de problemas renais, cardiovasculares e mentais.
Aumento de Denúncias ao MPT: O aumento das temperaturas tem levado a um crescimento nas denúncias de más condições de trabalho feitas a sindicatos e ao Ministério Público do Trabalho. O MPT informa que as reclamações também surgiram de setores que normalmente não apareciam na lista, como quiosques de praias e grandes eventos no Rio de Janeiro, além de brigadistas que combatem incêndios na Amazônia. Além disso, denúncias provenientes de ambientes fechados, como fábricas, lojas, supermercados, lanchonetes, empresas de TI e telemarketing, também têm sido registradas.
Medidas Recomendadas para Empresas
Na reunião anual da Rede OSH falou-se que O calor extremo se tornou um problema global de saúde pública e ocupacional, com graves impactos na produtividade e na qualidade de vida dos trabalhadores. Esses desafios destacam a necessidade urgente de incorporar considerações de segurança e saúde ocupacional nas estratégias de resposta às mudanças climáticas.
1. Garantia de Condições Dignas de Trabalho: A NR 17, que aborda ergonomia e condições de conforto em ambientes de trabalho fechados, estipula medidas de controle da temperatura, da velocidade do ar e da umidade para assegurar o conforto térmico dos trabalhadores. A temperatura em ambientes climatizados deve ficar entre 18° e 25°C.
2. Adaptação das Condições de Trabalho: Ajustar os horários de trabalho para evitar as horas mais quentes do dia, garantir pausas adequadas e fornecer água potável são medidas essenciais para proteger os trabalhadores.
3. Infraestrutura Resiliente: Investir em infraestrutura que suporte temperaturas mais altas, como edifícios com melhor isolamento térmico e sistemas de ventilação eficientes.
4. Educação e Treinamento: Implementar programas de treinamento para ajudar os trabalhadores a reconhecer e gerenciar os riscos associados ao estresse térmico.
5. Diálogo Social: Promover o diálogo entre empregadores, trabalhadores e governos para desenvolver políticas eficazes que protejam os trabalhadores do estresse térmico e outras consequências das mudanças climáticas.
Ao adotar essas medidas, as empresas não só protegerão seus trabalhadores, mas também contribuirão para a criação de um ambiente de trabalho mais produtivo em face das mudanças climáticas.
E você? Que ações acha que as empresas devem fazer para promover a adaptação climática?
Maria Helena Carneiro
Especialista em Desenvolvimento Humano, Carreira e Saúde Mental.