13 set, 2024

Por Gilberto Ururahy

Qual a relação entre pouco sono e demência? A ciência explica

O prestigiado jornal The New York Times publicou artigo recente tentando entender a
relação cada vez mais provável entre o sono e os transtornos cognitivos. Embora os
cientistas estejam confiantes de que existe uma ligação entre o sono e a demência, a
natureza dessa ligação é complexa. Pode ser que o sono insatisfatório desencadeie
alterações no cérebro que causam demência. Ou o sono das pessoas pode ser
perturbado devido a um problema de saúde subjacente que também afeta a saúde do
cérebro. E mudanças nos padrões de sono podem ser um sinal precoce da própria
demência.

Vejamos como especialistas pensam sobre essas diversas conexões e como avaliar o
risco com base em seus próprios hábitos de sono:

1) Pouco sono: O sono funciona como um “banho” noturno para o cérebro,
eliminando os resíduos celulares que se acumulam durante o dia. Durante esse
processo, o fluido que envolve as células cerebrais elimina o lixo molecular e o
transfere para a corrente sanguínea, onde é filtrado pelo fígado e pelos rins e expelido
do corpo.

Esse lixo inclui a proteína amiloide, que se acredita desempenhar um papel
fundamental na doença de Alzheimer. O cérebro de todas as pessoas produz amiloide
durante o dia, mas podem surgir problemas quando a proteína se acumula. Quanto mais
tempo alguém fica acordado, mais amiloide se acumula e menos tempo o cérebro tem
para removê-la.

Os cientistas não sabem se dormir pouco regularmente – normalmente considerado seis
horas ou menos por noite – é suficiente para desencadear o acúmulo de amiloide por si
só. Mas as pesquisas descobriram que adultos entre 65 e 85 anos que já têm acúmulo de
amiloide no cérebro, quanto menos dormiam, mais a proteína estava presente e pior era
a sua cognição. Logo, a correlação parece ser direta.

Portanto, a falta de sono, por si só, não é suficiente para causar demência. Mas parece
ser definitivamente um fator de risco para aumentar o risco de demência, e talvez
também a velocidade do declínio cognitivo.

Pessoas com doença de Alzheimer podem começar a desenvolver sintomas aos 60 ou
70 anos, mas a proteína amiloide pode começar a acumular-se até duas décadas antes. É
por isso que é importante priorizar o sono, visando sete a nove horas por noite,
começando aos 40 ou 50 anos, se não antes. Os sinais apontam que provavelmente na
meia-idade, à medida que você chega aos 60 e 70 anos, a qualidade do sono será cada
vez mais importante.

Alguns distúrbios do sono, principalmente a apneia do sono, também estão associados
a um risco aumentado de demência. Isso pode ocorrer porque a apneia perturba o sono
das pessoas ou porque tende a ocorrer em quem tem excesso de peso ou diabetes, o que
também está ligado à demência. A apneia do sono limita a quantidade de oxigênio que
chega ao cérebro, o que pode aumentar a inflamação cerebral e danificar vasos
sanguíneos e células.

2) Muito sono: Na outra ponta, dormir demais também parece estar ligado a um risco
aumentado de demência, embora talvez de forma mais indireta. Se uma pessoa fica
regularmente na cama por mais de nove horas por noite, ou tira várias sonecas durante
o dia, pode ser um sinal de que ela está dormindo muito mal, o que pode aumentar o
risco de doença de Alzheimer devido aos motivos listados acima.

A necessidade de sono excessivo pode estar relacionada a uma deficiência mental ou
física. Condições de saúde mental, como depressão, e condições de saúde física, como
diabetes ou problemas cardiovasculares, estão associadas a um risco maior de
demência, assim como a inatividade física, a solidão e o isolamento.

Algumas das primeiras áreas do cérebro afetadas pela doença de Alzheimer são aquelas
que ajudam a regular o sono e os ritmos circadianos. Como resultado, as pessoas que
desenvolvem a doença podem ter problemas de sono antes mesmo de apresentarem
sinais de perda de memória ou outros sintomas.

Junto com a amiloide, a outra proteína principal que se acredita causar a doença de
Alzheimer é chamada tau. Assim como a amiloide, a tau também se acumula no
cérebro, danificando as células cerebrais. Um dos primeiros lugares onde o acúmulo de
tau aparece são as áreas do tronco cerebral importantes para regular o sono e a vigília.
O aparecimento precoce da proteína tau nessas áreas perturba os ciclos de sono-vigília.

A prática regular de esportes é uma aliada fundamental não apenas para noites de sono
reparador, mas também na busca por um estilo de vida saudável. Mantenha em dia seus
check ups médicos, eles antecipam eventuais doenças e possibilita tratá-las a tempo.

Saúde é prevenção!