23 maio, 2025

Por Maria Helena Carneiro

Humanização na Educação Corporativa a Distância: aprendizados que criam vínculos

Encerrar uma jornada de ensino sempre me deixa reflexiva — e com o coração cheio.

A disciplina que ministro na pós-graduação em Educação Corporativa e Cultura de Aprendizagem da Pontifícia Universidade Católica do Paraná foi mais uma dessas experiências que aquecem o coração. Um grupo cheio de profissionais de diferentes áreas, ávidos por aprender, por trocar, por fazer sentido das suas trajetórias. E isso me faz reafirmar uma convicção: aprendizagem com conexão humana é muito melhor.

Quando falamos de educação corporativa — especialmente em ambientes digitais —, não podemos cair na armadilha de reduzir o processo a uma plataforma, a um conteúdo pronto, a um cronograma frio.

Educar é abrir espaço para o outro. É criar sentido. É reconhecer o outro como sujeito ativo do processo.

A minha matéria é Curadoria e Gestão do Conhecimento. Acho linda a palavra curadoria. Gosto de usar a metáfora do curador de um museu. Ele escolhe cada obra a dedo. Nada está ali por acaso. Um curador não apenas coleciona — ele seleciona, interpreta e dá contexto. Conecta passado, presente e futuro. Ele transforma objetos isolados em uma narrativa que faz sentido, que emociona, que ensina.

Curadoria é mais do que compartilhar links ou despejar PDFs. É afeto em forma de seleção, é intenção na escolha, é cuidado com o outro. O curador organiza, filtra, conecta, dá sentido. Transforma o excesso em aprendizado, o conteúdo em significado, a informação em sabedoria.

Em um mundo saturado de dados e distrações, o curador se torna um guia essencial:

  • alguém que transforma o excesso em aprendizado,
  • o conteúdo em significado,
  • a informação em sabedoria.

E quando esse papel é assumido pelas organizações — no treinamento, na liderança, na gestão da mudança — o impacto é profundo: os colaboradores aprendem melhor, as decisões se tornam mais assertivas e o conhecimento circula com propósito.

Na humanização da educação a distância, sempre cito também a fundamental importância do tutor, o facilitador de uma turma on-line. Ele tem um papel determinante na humanização da aprendizagem. Ele pode:

  • tirar os alunos da passividade;
  • compartilhar suas próprias experiências, erros e aprendizados;
  • criar um espaço de acolhimento e escuta genuína;
  • estimular uma reflexão crítica e colaborativa.

Ele é, também, um curador de conhecimentos — alguém que, com escuta e presença, ajuda a turma a costurar o que sabe com o que sente e o que deseja transformar.

Conteúdo do artigo
Foto da Turma 3 da PUC PR de Pós-Graduação de Educação Corporativa e Cultura de Aprendizagem

Humanizar o ambiente online também é ativar a emoção. É ajudar o aprendiz a conectar o que aprende com o que viveu, com o que sonha, com o que precisa ressignificar.

É chamar pelo nome, mandar um áudio espontâneo, fazer uma pergunta fora do script, sugerir um conteúdo que tem a ver com a dor de alguém, propor uma escuta afetiva. É entender que a aprendizagem real passa pela experiência que os aprendizes já trazem com eles. É construir vínculos, mesmo no digital.

Para isso, o tutor precisa ter práticas e atitudes, ser acolhedor e motivador, ter interesse genuíno pelos aprendizes e por ver o crescimento de cada um deles ao longo do processo de aprendizagem.

Também é preciso considerar a dimensão emocional da aprendizagem: ativar a sensibilidade dos aprendizes para que conectem novos saberes com vivências passadas e internalizem novos significados e insights. A comunicação afetuosa, leve, interessada e informal também contribui para a aproximação.

No Brasil, temos essa característica cultural de sermos muito próximos. Gostamos do toque, do abraço, do olho no olho — e quando isso não é possível, podemos buscar formas simbólicas de suprir essa ausência. Um emoji bem usado, uma frase afetuosa, um vídeo caseiro de boas-vindas. Pequenos gestos que fazem a diferença.

Gosto de contar uma história que vivi na pele.

Na época em que fiz minha pós-graduação em Educação a Distância, estava em casa sozinha com minhas duas filhas pequenas. Participava de um chat síncrono avaliativo e, no meio da conversa, uma delas se machucou e precisei sair para ver a extensão do estrago e cuidar da minha filha. Avisei à professora, me desculpei e saí do ambiente virtual. Achei que tinha perdido a atividade.

No dia seguinte, ao entrar na plataforma, encontrei uma mensagem da professora perguntando se minha filha estava bem. E mais: ela me propôs uma alternativa — que eu baixasse o conteúdo do chat, fizesse uma análise crítica e enviasse para ser avaliada.

Aquela atitude me marcou. Ali eu entendi, de verdade, o que é humanizar a educação. Ela poderia ter seguido o regulamento. Mas escolheu olhar para mim como pessoa.

Como diz o professor José Moran:

“A educação pode transformar-se num processo de aprendizagem de humanização, de tornar professores e alunos pessoas mais plenas, abertas, generosas, equilibradas.”

Fonte: Artigo “Bases para uma educação inovadora”, disponível no site da ECA-USP.

Além disso, em uma entrevista publicada em seu blog pessoal, Moran afirma:

“Educação é fundamentalmente o encontro entre pessoas que interagem, se apoiam, compreendem e se ajudam. Quando criamos esse clima de confiança, é muito mais fácil desenhar estratégias metodológicas, sequências didáticas e formas de avaliação.”

Fonte: moran10.blogspot.com

Essas reflexões reforçam a importância da humanização no processo educacional, especialmente em ambientes digitais.

É isso que acredito. Educar é também criar vínculo. Curar o conhecimento é um ato de cuidado com quem aprende. Ensinar é, também, um gesto político de valorização do outro.

Se você atua com EAD na sua empresa, universidade corporativa ou área de RH, deixo aqui uma pergunta:

🌀 Como você tem cuidado da experiência humana de quem aprende com você?

Porque, no fim do dia, a tecnologia é só o meio. O que transforma é o humano por trás da tela.

Maria Helena Carneiro

Palestrante, Professora, Mentora e Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Mental e Carreira.