23 fev, 2022

Por Gilda Palhares

A Sessão Vai Começar – A Felicidade das Pequenas Coisas

O lançamento do filme A Felicidade das Pequenas Coisas, de diretor e cenário butanês, chamou a minha atenção e incentivou então minha ida ao cinema.

O longa narra a história de um jovem professor chamado Ugyen,  que  planeja sair do Butão em busca de uma carreira de cantor na Austrália. Entretanto, ele precisa concluir a formação de professor e é enviando pelo governo para um pequeno vilarejo de 56 habitantes, localizado no topo de uma imensa montanha. O único acesso é um longo percurso de ônibus e depois uma caminhada de mais 6 dias, guiada por dois moradores do vilarejo. Sem sinal de celular, Ugyen perde qualquer comunicação com o mundo exterior. Ao chegar no local, leva um choque com as instalações, tanto da escola e de moradia. Manifesta uma grande insatisfação e pensa em não ficar. Mas o primeiro contato com a escola faz com que Ugyen seja tocado pela satisfação e alegria das oito crianças, fazendo ele se encantar também com a simplicidade e humildade dos moradores.

Refletindo sobre essa nova experiência transformadora, vivida por Ugyen, lembrei do livro de Eric Weiner A Geografia da Felicidade. Nele, o autor percorre quatro continentes visitando alguns dos lugares com o maior índice de satisfação do mundo, entre eles o Butão. No capítulo intitulado A felicidade é uma política de governo, o autor explica que a política oficial do país é medir a felicidade interna  bruta (FIB), e cada decisão é vista por este prisma. O índice mede o progresso da nação, não pela sua balança de pagamento, mas sim pela felicidade ou infelicidade do seu povo.

Esse conceito de progresso representa uma mudança profunda na forma de pensar a respeito do dinheiro, da satisfação e da obrigação de um governo para com o seu povo.

Weiner termina o capítulo com a seguinte afirmação:

“O Butão não é Shangri-lá, mas é um lugar estranho, peculiar, de grande e pequenas maneiras. Lá você se desorienta, e quando isto acontece, uma fissura se cria na sua armadura. Uma fissura grande e suficiente para permitir que entrem algumas flechas de luz.”

Foi esta a sensação que tive quando o filme terminou. Sai do cinema desorientada, refletindo sobre a singularidade do Butão e como a jornada do professor Ugyen provou que é nos pequenos gestos da gentileza, generosidade, compaixão e amor que as flechas de luz entram.

O filme concorre ao Oscar 2022 de melhor filme estrangeiro. Uma curiosidade, relatada pelo diretor Pawo Choyning Dorji, é que no Butão não há atores profissionais. Logo, ele selecionou pessoas cujas histórias fossem semelhantes às de seus personagens. Uma grande parte dos moradores do vilarejo não tinham ciência do que é um filme.

Se tiverem oportunidade, vejam o filme e vivam a experiência dessa bela história.

Fonte:
. Filme A Felicidade das Pequenas Coisas
. Livro A Geografia da Felicidade, de Eric Weiner
. Imagem: guidle.com