04 jul, 2022
Por Betania Tanure
Ser honesto deveria ser uma premissa no trabalho
Ser honesto é, ou deveria ser, um valor! Exige maturidade, compreensão da interdependência, da relação de causa e efeito. Também é preciso ser maduro para ver-se e aceitar-se com os defeitos, as falhas e os limites inerentes à condição humana.
Já pensou na possível associação entre honestidade e autoritarismo nas relações de trabalho? Em pesquisa que realizamos com executivos, 72% apontaram que o autoritarismo é um dos principais motivos de mentiras no trabalho. Mesmo que de forma sutil e sofisticada, a franqueza pode ser punida. Discordar publicamente de um “big boss” pode ser a senha para a exclusão, literal ou simbólica, de uma pessoa.
Então será melhor mentir em vez de se abrir nas oportunidades de diálogo com o poder? Será que é isso que leva uma boa parte do poder a pôr “um pé em cada canoa” nos momentos de sucessão, por exemplo? Não, não será. Ou melhor, não pode ser…
Muitos executivos não tiveram como escola o recebimento de feedbacks assertivos. Eles se acostumaram a elogios, construíram uma autoimagem de perfeição e não gostam que lhes digam que sua ideia não funciona ou que atrapalha em vez de ajudar. Se analisamos as relações entre empresas e o poder público, esse problema é elevado à enésima potência: diante do poder ou da perspectiva de poder, muitos se encolhem, revelando imaturidade emocional. As eleições estão aí e são exemplo disso.
Outra causa dessas dificuldades é a ilusão de que vale a pena não se posicionar, o que é desonestidade. Inadmissível causa! Usa-se atalho ou farsa para chegar com menos esforço, ao objetivo. Não me refiro à corrupção de bilhões. Essa é fácil de identificar. Refiro- me à falta de coragem que faz a conivência com a mentira parecer “normal”. Pergunto: isso ocorre na sua empresa? Se sim, saiba que a conta chega – e rápido. Ser honesto nada mais é do que ter os pés no chão, ser do próprio tamanho.
Quando alguém admite ter uma deficiência relevante de desempenho, o efeito sobre o grupo pode ser o contrário do que se teme. Encontram-se “brechas” de colaboração. Certamente não se deve parar no “não fiz”, “me equivoquei”, “desculpe”, “preciso de ajuda”. Admitida a falha, deve-se mudar o curso das coisas. Esse é o caminho libertador.
Outro equívoco é confundir a máscara consigo mesmo, fundir-se com o papel que desempenha. Construir uma imagem de si mesmo diferente da real pode ser útil no teatro organizacional. Mas se o indivíduo confundir a imagem construída com a real não conseguirá renunciar à máscara, pois admitir o erro e destruí-la equivale a destruir o que (ou quem) a mantém. Com isso, ele não cursará o rio da honestidade. Não por acaso, ao aposentar-se, alguns perdem, de um dia para o outro, a vitalidade ou até morrem… Isso porque a máscara profissional colou-se no rosto da “pessoa”, e ela se perdeu.
Diante disso, é impossível não tocar no tema autoconhecimento. Quando a pessoa não se ilude a respeito de si, nenhuma crítica a surpreende. Aquele que tem amor à verdade é capaz de senti-la como algo libertador. Aquele que fundiu a máscara no próprio rosto percebe a verdade como ameaça.
A honestidade deveria ser premissa de viver. Seu lado sombra é confundi-la com a ingenuidade: ser honesto não significa ser ingenuamente franco. E para ser honesto sem ser ingênuo é necessário ser perspicaz.
Na empresa, não é toda “equipe” que está preparada para o diálogo franco e aberto. Porém, isso não deve servir de “desculpa verdadeira” para você se encolher, piratear, não se posicionar. E não vale jogar a responsabilidade no outro. Afinal, se você é, de fato, emocionalmente adulto, a bola está no seu campo! No seu campo!