23 ago, 2022
Por Gilberto Ururahy
“Le Monde” afirma que não se envelhece bem na França. E no Brasil?
População negligencia os cuidados com estilo de vida que previnem doenças crônicas a longo prazo
Há poucos dias, o jornal francês “Le Monde” lançou um alerta na capa que mobilizou o país. “Não envelhecemos bem na França”, afirmava o título do famoso diário. De acordo com a pesquisa publicada no jornal, se os hospitais públicos atravessam uma crise sem precedentes, ela é ainda maior na geriatria, tanto em recursos financeiros como humanos.
De acordo com o jornal, os últimos meses, desde o surgimento da Covid-19, também foram marcados por uma explosão de casos de doenças crônicas, especialmente entre o público com mais de 75 anos. Segundo pesquisa do Ministério da Saúde francês, cerca de 85% dos idosos que vivem em asilos perderam a autonomia. Trata-se de um número significativo em um país cuja população é cada vez mais velha. Se hoje o país tem 2,5 milhões de idosos sem autonomia, esse número chegará à marca de 4 milhões em 2050.
No Brasil não é muito diferente. Segundo o IBGE, a população total do país foi estimada em 212,7 milhões em 2021, o que representa um aumento de 7,6% ante 2012. Nesse período, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 11,3% para 14,7% da população. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período.
Conforme o Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento, o número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil deverá crescer muito mais rápido do que a media internacional. Enquanto a quantidade de idosos vai duplicar no mundo até o ano de 2050, ela quase triplicará em nosso país.
Sem dúvida, trata-se do grupo que sofreu mais fortemente o impacto da Covid-19 no Brasil tanto sob a ótica física quanto emocional. Exames foram cancelados ou adiados, a rotina de exercícios físicos foi alterada, a qualidade da alimentação cotidiana caiu e o consumo de álcool e ansiolítico aumentou, para dar conta da ansiedade e da depressão. A pesada conta deste estilo de vida desregrado começa a se apresentar agora. Tudo isso se confirmou nos atendimentos que fizemos aos clientes em nossas clínicas nos últimos meses: 78% convivem com alto nível de estresse, 65% são sedentários, 63% têm sobrepeso, 22% são hipertensos e 20% são obesos.
Para cada ano vivido pela humanidade, o homem ganha três meses em expectativa de vida. Brevemente, seremos centenários! Muitos idosos se cuidam. Não são raros os casos que chegam às nossas clínicas e apresentam em seus exames resultados melhores do que os de indivíduos mais jovens, que muitas vezes são hipertensos, sedentários, diabéticos e obesos.
Porém, o que precisa ser elucidado é que a experiência de uma terceira idade com saúde começa muito antes do passar dos anos. De maneira geral, o quadro clínico que os clientes apresentam depois dos 65 anos é o resultado de escolhas que começaram na vida adulta. Adotar um estilo de vida saudável o quanto antes é a maneira mais segura de se manter distante de doenças crônicas como obesidade, diabetes e males cardíacos ou pulmonares.
Observamos também que a nova geração de idosos está aproveitando para conquistar a vida com mais saúde. Essa parcela da população está mais ativa e adotou novos hábitos porque quer viver mais e melhor. Além disso, muitos ainda têm energia para o trabalho.
Ter uma noite reparadora de sono, praticar atividades físicas regularmente, controlar o peso, ter uma alimentação balanceada, não fumar, evitar o excesso de sal e de bebidas alcoólicas, gerenciar o estresse, controlar a pressão arterial e realizar periodicamente o check-up médico, é a “vacina” para garantir longevidade com autonomia.
Saúde é prevenção!
Imagem: Veja Rio