07 nov, 2022
Por Betania Tanure
As síndromes que afetam os executivos
A colunista Betania Tanure diz que a maior parte dos executivos é boa com as habilidades “hard” dos negócios. Mas quais as consequências de não dar atenção a questões subjetivas?
O corre-corre, a briga por um “slot” na agenda lotada, a atenção dividida entre o WhatsApp e o trânsito, a multiplicação dos e- mails, o tempo que se esgota…
Não falo de você, certo? Mas consegue ver alguém assim ao seu lado? Essa é a realidade de 87% dos executivos. Sem tempo de qualidade para dialogar, nem com seus liderados, essa maioria tem conversas rápidas, irritadiças e nem sempre produtivas.
Você trabalha muito bem com números? Só de bater os olhos reconhece os mais importantes e apresenta o diagnóstico? O desafio objetivo é o lado mais fácil da sua vida? Você pertence à maioria de executivos que analisam com maestria os aspectos objetivos das organizações? Se sua resposta a essas perguntas é “sim”, você compõe o grupo de 75% dos executivos que estão no poder.
Tudo isso estimula, por um lado, o aprofundamento da análise objetiva da $aúde da empresa e leva, por outro, à síndrome da superficialidade no que diz respeito a importantes aspectos subjetivos, ou “soft”. Como você não conhece com profundidade esses aspectos, não os inclui nas discussões e até os evita, deixando que se acumulem “por baixo do tapete”. Só que, enquanto isso, o mundo se transforma e pede novas competências, ou “skills”. É um círculo vicioso: você não as desenvolve, e até as evita, passa a se irritar diante de perguntas para as quais não tem resposta ou de situações que exigem soluções e argumentos que desconhece. Como as evita, não as desenvolve: aí está a semente da síndrome de irritabilidade.
A necessária mudança demanda competência para lidar com conversas indispensáveis, ainda que difíceis, tempo para olhar para si mesmo e o outro e equilíbrio entre as necessidades imediatas do negócio e as necessidades das pessoas.
Não raramente, as reações de pessoas queixosas e irritadiças são desproporcionais aos fatos. Discussões ou sentimentos de ofensa e chateação, que não raramente geram sérios desentendimentos ou levam as pessoas a chorar nos corredores da empresa, se originam, muitas vezes, de fatos que, ao serem analisados do mirante, revelam-se muito menores do que os efeitos que causaram. E o que é “estar no mirante”? É a capacidade de dar uns passos para trás e observar-se – condição para se conduzir com liberdade. Assim, para exercer a sua liderança, o líder deve ser capaz de observar-se e ser testemunha de suas ações. O verdadeiro líder sabe que o preço de sua liberdade é a eterna vigilância.
As causas dessa necessidade de mudança são as mais diversas, mas ressalto aqui uma delas. Estamos em um período de mudança, em travessia para uma era pós- guerra (queiramos ou não, a pandemia foi uma guerra, durante a qual o inimigo era invisível e vinha de lugares não identificáveis). As placas tectônicas ainda se movem…
É fato que hoje vivemos uma nova realidade, que ainda não sabemos decifrar. O momento é de incerteza, em altíssimo grau, e esse sentimento aumenta de maneira desproporcional o desconforto e a irritabilidade, somando-se a uma agenda espremida, que também leva as pessoas à superficialidade.
O desconforto de fazer parte dos 75% que são craques nas competências objetivas é muitas vezes ocultado. Muitos se irritam, com o outro e consigo mesmos, por não serem craques, não conhecerem os caminhos. Como defesa, na maior parte das vezes inconsciente, essas pessoas isolam esses temas, reforçando a imagem que não são importantes, sem revelar que, na verdade, os desconhecem. As síndromes da superficialidade e da irritabilidade precisam ser encaradas de frente, compreendidas e combatidas, pois além de tudo afetam a última linha do balanço. Da mesma forma que você se tornou um craque dos números, das estratégias “hard” de negócio, pode desenvolver a capacidade de identificar pessoas que são craques em estratégias de gestão.
Faça isso e confie!
Mude essa equação.