22 nov, 2022
Por Betania Tanure
A segurança psicológica não é óbvia para os executivos.
Segurança psicológica. Essa é uma das expressões mais utilizadas nas organizações nos últimos tempos. O conceito pressupõe uma relação “limpa” entre as pessoas, que para isso devem ter coragem de revelar suas fragilidades e escutar o outro sem julgamentos, retaliações, nem mesmo de forma implícita. As explícitas são mais fáceis de regular…
Um lado importante a considerar são as relações virtuais. Elas permitem, ou estimulam, um nível razoável de segurança psicológica? Ops!, discussão à parte… Mas procure mantê-la em mente. Você precisa achar a resposta certa, o que não é nada trivial e envolve emoções.
Na arena das emoções, qualquer discussão sobre segurança psicológica envolve o campo do inconsciente que regula as relações. Ele não é considerado pela maioria dos executivos por um motivo simples: está fora do radar. Discutir fragilidades em um ambiente em que os super-heróis ainda rondam o desejo coletivo? Não fazer julgamentos pois é impossível ser neutro?
Não brigue comigo, leitor, mas, quando você diz “sou neutro em minha análise”, desconfie. Nosso modo de escutar e de analisar as coisas está sempre permeado por nossas premissas e valores. Um mesmo projeto apresentado por duas pessoas, uma que você considera supercompetente e confiável e outra da qual você não tem as mesmas percepções, terá, sem dúvida, avaliações diferentes. E aí, fazer o quê?
Reflita: qual é o limite adequado entre a intimidade e a distância nas relações? Se perguntamos aos executivos brasileiros se gostariam de maior proximidade nas relações profissionais, sem dúvida a maioria diria “sim”. Fiz a pergunta, e essa foi a resposta de 62%. Esse desejo é potencialmente saudável. A proximidade nas relações pode fortalecer os vínculos com a organização. No que se refere à segurança psicológica, o aumento da proximidade pode ampliar a confiança nas relações, à medida que permite ao outro mostrar suas próprias fragilidades.
Por outro lado, deve-se manter alguma distância nas relações? É fato que as pessoas com quem se tem certa cerimônia veem menos o mau humor do outro, sentem menos o aborrecimento. A intimidade ameaça a percepção ou a vontade de ter a imagem de perfeição, pois implica ver o feio em contraste com o belo.
Ameaça porque implica gostar, apreciar e conviver “serenamente” com as próprias imperfeições e as dos outros. Junte os 62% das pessoas que querem proximidade aos 75% das que têm competências objetivas altas e subjetivas baixas, e o nó está formado. Isso cria uma dissonância cognitiva entre o que se fala e o que se faz, e essa ambiguidade favorece comportamentos erráticos.
É fundamental que cada um compreenda essa força invisível que age contra a intimidade, contra a relação pessoal verdadeiramente próxima. Apenas quando você compreende o que o afasta da segurança psicológica é possível caminhar nesta direção. Às vezes, até você esconde as fragilidades de si mesmo, com medo de se sentir imperfeito. É possível enfrentar isso desde que você compreenda que precisa, quer e sabe fazê-lo, com muito esforço, método e apoio especializado.
Ressalto que estimular a relação próxima não significa falar para o outro tudo o que vem à cabeça. Não é reagir pelo estômago livremente. Para cultivá-la, você deve conhecer as suas motivações mais profundas e compreender o papel que essa relação tem no binômio proximidade vs. distância, perfeição vs. imperfeição que regula seus relacionamentos na vida! Só você pode fazer isso.
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