17 dez, 2020
Por Zilda Knoploch
Os “Novos Velhos”
A questão das gerações e da longevidade tem sido recorrente em muitos campos do conhecimento, desde a Demografia, até a Medicina, a Educação Física, a Nutrição, o Lazer, a Previdência, a Sexualidade, a Tecnologia, para citar apenas alguns.
Se no século XX considerávamos as pessoas com mais de 60 anos como aquelas que estão se afastando de várias atividades, ficando invisíveis, totalmente “fora do jogo”. No século XXI isto não é mais verdadeiro, pelo menos nos países ocidentais, e no Brasil não é diferente.
Já é senso comum dizer que “Os 60 anos são os novos 40 anos”, idade que anteriormente marcava um momento de transição para a maturidade, e isto definitivamente não acontece mais. A Enfoque Pesquisa realizou há cerca de 8 anos no Brasil, Inglaterra, Espanha e Itália uma pesquisa com pessoas de 55 anos ou mais, até 80 anos, em que foi possível identificar 3 perfis comportamentais diferentes entre pessoas com estas faixas etárias: as “Conservadoras”, que se identificam e são identificadas pelos demais como aquelas que assumiram uma maturidade como avós, estando aposentadas. Elas não mais se veem trabalhando e não fazem mais atividades de lazer como as que antes costumavam fazer (viajar, dançar, por exemplo). São pessoas que não se interessavam por tecnologia e com dificuldades de acompanhar o ritmo acelerado de mudanças ao seu redor. Olham para o futuro com certa melancolia, sem grande entusiasmo, como se sua vida atual fosse o final da linha, sem novos sonhos pessoais. Um segundo segmento, que denominamos de “Celebradores”, é o de pessoas que encontraram neste estágio da vida seu melhor momento, desfrutando de liberdade, não mais tendo que cuidar de filhos e com autoestima muito elevada. Elas celebram o valor da experiência de vida, sentem-se capazes de realizar o que antes não podiam por limitações de tempo, responsabilidades com a família e disponibilidade financeira. Agora que chegaram aos “enta” podem viajar a lugares exóticos, ampliar suas atividades de lazer, ter um papel de inspiradores de outras gerações. Elas se mantêm ativas, seja trabalhando como consultores, ou fazendo cursos para ampliar seus conhecimentos e horizontes. Estão inseridas no mundo digital. Sua aparência tende a ser mais cuidada que a dos “Conservadores”, valorizam fitness e alimentação saudável, porém gourmet. São mais hedonistas, nada depressivas. São pessoas que olham o futuro com muito otimismo, pois enxergam muitas formas de aproveitar esta fase de suas vidas. O terceiro segmento, que denominamos de “Refuseniks”, uma paródia aos “Beatniks”, aqueles rebeldes dos anos 60, não estão confortáveis na sua idade, recusam-se a aceitar que o tempo passou e a ver que esta passagem de tempo os tornou diferentes, mas não piores. Eles resistem. Esperneiam. Revoltam-se. E como consequência, imitam os jovens, no vestir, no vocabulário. Frequentam lugares dos jovens, como barzinhos, boates, points nas praias, e procuram parceiros amorosos bem mais jovens. Não se reconhecem como parte da sua própria geração.
Se fossemos realizar esta mesma pesquisa agora, com a experiência em observar os muitos fenômenos sociais e culturais emergentes, podemos antecipar que muito pouco terá mudado, salvo a intensificação do mergulho no mundo digital entre os dois últimos segmentos mencionados há pouco. E já podemos constatar é que várias empresas perceberam a tempo as oportunidades que se abriam ao entender as diferenças de necessidades e expectativas destes grupos de “Novos Velhos”.
Observamos hoje um número maior de produtos e serviços ofertados a pessoas “com cabelos brancos”. Desde suplementos nutricionais que falam diretamente que um homem desta geração “também gosta de namorar”, até cruzeiros marítimos e excursões de lazer, cosméticos para mulheres com mais de 60 anos, serviços de apoio a terceira idade, por exemplo.
O que podemos esperar daqui em diante?
– Com o envelhecimento da população brasileira, a geração de 60 e + vai se retirando das posições executivas. Seu conhecimento acumulado e experiência fará falta, num ambiente cada vez mais dominado pela geração dos Millenials, aqueles que têm muita pressa para subir na carreira e são bastante superficiais em sua forma de atuar.
– Haverá cada vez mais produtos e serviços que levem em conta as necessidades deste segmento que, ao contrário de reduzir suas perspectivas, amplia-as. Produtos financeiros, imobiliários, especialidades médicas, produtos de lazer, de tecnologia, de estética vão aparecer, e para um público que agora pode “ser egoísta”, já criou os filhos e quer extrair o máximo das próximas décadas. Sim, Décadas. Chegar aos 80 já é uma realidade para uma parcela considerável dos brasileiros, a expectativa de vida vem aumentando.
– No âmbito de Recursos Humanos, poderá haver uma nova demanda para contratar pessoas desta faixa de idade, em funções gerenciais ou de consultoria, para preencher o “apagão” de formação que constatamos nas duas últimas décadas.
– A indústria de mídia vai introduzir cada vez mais personagens que trazem à vida os três segmentos acima mencionados, e que poderão ser co-protagonistas de novelas e filmes, lado a lado com os ídolos bem jovens. Isto já está acontecendo nas novelas “globais”, em que atores de meia idade fazem personagens conquistadores, sedutores e com comportamentos mais típicos da garotada mais jovem. E não mais temos personagens com perfis muito conservadores quando a temática se passa no momento atual.
No caso brasileiro, este novo olhar para esta geração ainda encontra a barreira da excessiva valorização da juventude, o que reflete um certo atraso em perceber que o Brasil vai ficando cada vez menos jovem, menos Millenials e mais “ Novos Velhos”. E vocês? O que estão fazendo para quando chegarem lá? E para que suas marcas e empresas aproveitem as oportunidades que esta realidade está trazendo?