17 dez, 2020
Por Gilberto Ururahy
Emoções e saúde
Leonardo Da Vinci no século XVI disse: “O homem é um. É corpo e alma”. No século seguinte, Spinoza ratificou que espírito e corpo deviam ter raiz comum. Por várias razões, sobretudo religiosas, a ciência manteve uma separação entre corpo e espírito. A posição de Da Vinci e Spinoza, profunda e corajosa para a época, permaneceu incompreendida e durante muito tempo o dualismo cartesiano perdurou.
Desde o nascimento somos nutridos tanto de emoções como de leite. Freud demonstrou como as primeiras emoções estruturam a personalidade. Na vida adulta, evoluímos a partir das emoções vividas na fase de crescimento. Uma das primeiras vantagens da maturidade e da experiência é saber identificar nossas emoções e, em alguns casos, domesticá-las progressivamente.
As emoções são tão inerentes ao ser que, segundo estudiosos, estão inscritas no patrimônio genético. Para Darwin, existiriam seis emoções comuns à humanidade: alegria, tristeza, surpresa, medo, desgosto e raiva. Há quem associe essa visão das emoções à das cores. A variedade de matizes seria uma mistura entre as cores de base. No caso das emoções, as tonalidades seriam infinitas.
No plano científico a emoção ainda é um mistério. Trata-se, a nosso ver, de uma mistura fisiológica complexa de hormônios, neurotransmissores, neurônios e circuitos neurocerebrais especiais transferidos a todos os órgãos e tecidos do corpo, somada a fatores psicológicos. As emoções determinam nossos atos, nos dão a energia para agir, amar, viver, mas também para sofrer e adoecer. Muitas vezes somos obrigados a não demonstrá-las e, sobretudo, a freá-las. Como se fosse possível esconder uma emoção. Cada vez mais os médicos percebem a estreita relação entre as emoções e a saúde.
O Brasil está fazendo mal à saúde do brasileiro. Com exceção da alegria, as demais emoções descritas por Darwin estão sendo vividas pela população de forma intensa _ todas decorrentes de recessão econômica, falências, instabilidade política, desemprego elevado, banalização da corrupção, inflação, violência etc.
Darwin também dizia que somos produtos do meio ambiente. Hoje, no Brasil, esse ambiente é rico em condições que aguçam emoções negativas e abrem as portas do corpo para as mais diversas doenças, dependendo das individualidades. Quantos brasileiros já sucumbiram em função do cenário que nos é oferecido? Em recente estudo desenvolvido em nossas clínicas, observamos que comparativamente ao primeiro semestre de 2014, a depressão cresceu 30% em 2015 na população de dez mil indivíduos que realizaram check-ups médicos. A ansiedade atingiu 32% dos clientes contra os 20% registrados anteriormente. Já a insônia é relatada por 25% dos examinados _ maior que os 21% de antes. O percentual de pessoas que adotam a automedicação passou de 10% para 18%, sendo que os medicamentos mais utilizados são os analgésicos, antiácidos, aqueles voltados para os distúrbios de ereção, os ansiolíticos e os antidepressivos.
Cada momento da nossa vida é colorido pelas emoções. No Brasil de hoje as vivemos em preto e branco. Diante de tantas emoções negativas é preciso encontrar maneiras para proteger e preservar o que temos de mais importante, a nossa saúde. Algumas ações simples contribuem para a melhora do bem-estar: atividade física regular, alimentação equilibrada evitando-se açúcares, gorduras e excesso de cafeína, encontrar amigos, namorar e ainda buscar um sono de qualidade contribuem bastante para enfrentar este momento difícil que atravessamos. Afinal, como disse o poeta em passado recente… Vai passar!
* Gilberto Ururahy é diretor-médico da Med-Rio Check-up e autor do livro ‘Emoções e Saúde: Um novo olhar sobre a prevenção’