Dia 8 de março. O que nós mulheres temos a lembrar, a celebrar?
Certamente muito. Avanços contínuos e incessantes em termos de inclusão, em todas as áreas das atividades humanas, sempre em movimento… (alguns dizem que desde a Revolução Francesa/Iluminismo.)
Mudamos e somos mudados cotidianamente quando na relação com nossos pares e com o ambiente que nos cerca. Não estagnarmos é de fato uma meta. Isto vale para todos.
Pessoalmente não sou afeita às comemorações deste dia. É que me dá uma sensação de “coisificação” … penso: tanto foi feito para não mais ocuparmos esse lugar, não é? Mas se é para celebrarmos a vida e suas mudanças, contem comigo. Sempre.
E aqui estamos: mulheres, parceiras, empresárias, mães, presidentes, amigas, funcionárias, avós, sonhadoras, donas de casa… enfim: donas de nossos narizes, na medida do possível, naturalmente.
Adoramos estar com outros, de acrescentarmos valor por onde passamos. Mas isto não nos define.
LIBERDADE, esta me parece ser a palavra com a qual mais nos identificamos hoje.
Psicanalista que sou, convido meus mestres…
Freud já no final de sua vida teria confidenciado à sua amiga e discípula Marie Bonaparte:
“A questão que nunca foi respondida e que eu ainda não tenho sido capaz de responder, apesar de meus trinta anos de pesquisa sobre a alma feminina é: o que quer uma mulher?”
À esta reflexão, Lacan acrescenta sua polêmica e deliciosa afirmação/ provocação: “A mulher não existe”… Isto tudo para nos dizer o que, me parece, Freud já teria indicado de certa forma:
O conceito de “A” mulher de fato não existe, porque nós mulheres temos a capacidade de sermos uma a uma, de dispensarmos o coletivo que nos aprisiona quando nos define e nos reduz. Não queremos, nem precisamos ser, representantes de nossa “Condição”. Vamos sendo…
Para mim o que temos realmente a celebrar neste dia é a liberdade conquistada de podermos ser uma, dentre tantas mulheres. Tão somente uma. E a de sermos ouvidas a partir de nossas individualidades, de nossas experiências, de nossas falas e da expressão do que queremos como indivíduos, em nossas radicais diferenças, sem necessitarmos de padrões pré-fixados que nos digam o que queremos ou devemos ser!
Demos luz à diversidade! Precisa dizer mais?
Neste dia então, proponho que celebremos o maravilhoso fato de podermos ser cotidianamente “esta metamorfose ambulante”…”
CHEERS
Dora Gurfinkel Haratz é psicanalista e terapeuta de família e casal.