A colunista Betania Tanure fala sobre a oportunidade de se fazer escolhas e usar os aprendizados da crise para tomar novos rumos na vida pessoal e profissional
Exaustão, irritação, raiva, pressa. O isolamento social tem gerado nas pessoas uma vontade louca de mudar de ano, como se na virada, magicamente, a pandemia acabasse. Para alguns ela já acabou, errada e irresponsavelmente eu diria.
Este poderá ser lembrado como um ano terrível, que fez aflorar o medo, a dor da perda de milhares de vidas. Um ano de viagens canceladas, aniversários não comemorados, casamentos adiados ou desfeitos, contratos rompidos, empresas fechadas, empregos perdidos. Ano em que a “cola” que une as pessoas às suas empresas se desgastou, pois, acredite, virtual não é real.
Mas como tudo, 2020 não é apenas sombra, tem seu lado sol. Nos períodos de estabilidade o sol e as sombras são mais suaves, enquanto na crise o sol queima e as sombras vedam nossa visão a ponto de parecerem eternas. Não são. O medo de perder quem amamos nos fizeram olhar os mais velhos com maior cuidado e afeto. Forçadamente nos empurraram para perto da família, para “saborear” as nossas casas, ainda que para alguns a convivência tenha ficado insuportável. Mas é preciso viver esse medo para saber cuidar e compartilhar?
Espero que você tenha feito dessa experiência a sua chance de mudar. Temos de olhar e decidir o melhor rumo a tomar. Nas empresas, é preciso compreender que não há mais espaço para a forma estabelecida de liderar. As competências que fizeram seu sucesso perderam valor. É preciso mudar e estar firme nos valores e atitudes que nos dão solidez para viver, aprender, realizar e querer bem. A pandemia traz a oportunidade de aprender com rapidez, desenvolver habilidades, separar o joio do trigo, renovar o significado da vida e identificar o que tem valor para você.
Faça sua escolha: sim ou não, limão ou limonada, sofrimento ou oportunidade, exaustão ou aprendizagem… Tome medidas para não ser vítima da exaustão. Além das objetivas, como alimentação adequada, atividade física e boas noites de sono, e das subjetivas, como cultivo do afeto e do bem-querer, esteja atento ao risco de cair na armadilha de eleger um “culpado”. As pessoas culpam o excesso de trabalho, a empresa, o chefe e não veem com clareza: nem todas as causas dos sentimentos de exaustão, irritação e raiva são externas ao indivíduo.
Os verdadeiros líderes, mesmo e sobretudo na crise, acreditam que podem fazer mais e melhor. Não se saciam com o caminho já trilhado. Querem mudar o mundo, querem ir além. Precisamos de Líderes, com L maiúsculo – aliás, LÍDERES, com letras maiúsculas. Não se pode brincar com pessoas, organizações e sociedade. E LIDERADOS, também com letras maiúsculas.
Qual a sua fonte de motivação? Você se sente saciado ou tem energia para mudar o mundo e a sua vida? Essa é uma ótima reflexão para fazer em fim de ano. Muitos falam do propósito, mas poucos o têm como real fonte de motivação. Muitos falam do valor das pessoas e das relações, mas poucos os cultivam na prática. Poucos falam de poder, mas muitos são motivados por ele. Em qual dos grupos você se encaixa?
Saia do automático, aproveite a crise para, em seu tríplice papel de pessoa, profissional e cidadão, saborear a vida. Não há pouco trabalho. Também não quero dizer que a vida será fácil. Ainda assim, o trabalho deve ser realizado com vontade, brilho nos olhos e a convicção de que vale a pena. Saboreie o fato de que você é responsável por sua vida!
É assim que desejo que seja o seu ano de 2021! Saúde!!! Feliz Natal!
Betania Tanure é doutora, professora e consultora da BTA