A colunista Betania Tanure diz que empresas e profissionais precisam avaliar e reagir ao potencial negativo da perda de interações sociais.
Nos momentos de maior incerteza sobre os rumos da pandemia, o home office foi e é uma ferramenta muito importante. Cresce, porém, a necessidade de discussão e de respostas consistentes sobre o potencial impacto negativo nas pessoas, nas empresas e no país. A tela representa uma ameaça à construção da cultura empresarial? O conhecimento tácito pode ser preservado? Como fica a produtividade? O vínculo com a empresa se altera? É preciso conhecer e reconhecer os problemas vividos “atrás das telas” e buscar a resposta a cada um eles.
Outra discussão de extrema importância é o efeito do atual modelo de trabalho remoto nas emoções, que hoje estão à flor da pele. Nesse sentido, outra pergunta recorrente é: “As pessoas estão enlouquecendo?”.
Somos seres relacionais! O afeto social tem lugar estabilizador em nossa saúde. Precisamos sentir o “cheiro do lugar”, capturar a alma das pessoas, e isso não se realiza por meio da tela. Impossível fugir dessa realidade.
O cheiro do lugar e a alma das pessoas ficam “escondidos” atrás da tela ou são mascarados. Nas definições dos dicionários de nosso idioma, “mascarado” é “aquele que usa máscara”, ou que “cobre o rosto para caracterizar um personagem”. Na prevalência desse tipo de relações, a cultura perde lentamente sua cor e os problemas reais são ocultados.
As relações virtuais permitem conhecer “a tela” de uma pessoa, e não reconhecer essa pessoa. Esse risco é enorme para profissionais das mais diversas posições, em especial do top management e dos conselhos de administração. Você acha que é exagero? Não se iluda. Você não conhece sua empresa por meio de relatórios, dashboards e da tela. Não conhece!
As pessoas lançam mão de desculpas, nem sempre verdadeiras, para mascarar a realidade. Ora dividem sua atenção com a realidade doméstica, ora participam simultaneamente de duas reuniões. A tela congela e a conexão cai, por vezes de verdade, por vezes de forma deliberada. Além disso, não se sabe se as pernas estão balançando de tensão, se as mãos estão suando frio, se o sorriso da tela é de fato acompanhado pelo corpo… Não se tem ideia dos problemas que as pessoas estão vivendo.
Veja os resultados de uma pesquisa que fizemos na semana passada com executivos das 500 maiores empresas brasileiras: 53% dos respondentes dizem estar muito preocupados com a sua saúde (atenção: muito preocupados); 47%revelam que vivem hoje um altíssimo grau de estresse; 42% dizem que a relação com o marido ou esposa, parceiro ou a parceira está em perigo e é fonte de enorme preocupação.
Ou seja, a chance de você ser um desses executivos é real. Mais: com certeza, as pessoas do seu time de diretos se enquadram nessa estatística. Você tem essa consciência? Ou está alienado?
Por exemplo, ao analisar as possibilidades de promoção, perceba se as pessoas são hoje como eram antes da pandemia. Se determinado indivíduo não mudou com a crise é porque não aprende – e, portanto, não tem um importante atributo para ser promovido. O mundo mudou muito, as organizações mudaram, as (in)competências das pessoas já não são as mesmas e suas vidas sofreram muitas transformações. Algumas cresceram, tornaram-se pessoas melhores, enquanto outras mostram ter percorrido caminho oposto, especialmente no que se refere ao (des)equilíbrio emocional.
E você? Estressado? Preocupado com a saúde, com a relação afetiva? Não se esqueça: você é proprietário da sua vida e da sua carreira. Não terceirize a responsabilidade, a construção da sua realização profissional, da sua felicidade. Elas dependem de você.
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Manter as interações sociais um grande desafio no atual momento. Esse debate é muito importante sobretudo no mercado corporativo. Envie sempre sugestões que nos enriquece.