by Dora Gurfinkel Haratz | mar 10, 2016 | Dora |
Mudar é o tema do momento.
Vida dinâmica, pessoas dinâmicas, capacidade de adaptação e flexibilidade.
Fácil, não? NÃO! Nada fácil!
Há momentos em que só o que pensamos é em rupturas, desesperança e becos sem saída.
Uma chatice esta ditadura da felicidade!
O que fazer?
Termos esperança!
Como psicóloga clínica pode parecer que estou “pescando em um aquário”, mas não é disso que se trata. Ou melhor, é também! (risos)
Acredito no trabalho da psicoterapia como uma possibilidade de mudança a partir do rico diálogo terapêutico.
Penso que mudar depende da motivação. Mas não de uma motivação qualquer.
Já perceberam que conseguimos mudar e mantermos esta mudança ao logo do tempo (sendo isto sim o que podemos chamar de mudança), quando somos nós mesmos a fonte desta motivação?
Acontece é que, na maioria das vezes, sequer conseguimos nos distinguir no meio de tantas demandas. Verdade?
Quando foi que nos perdemos de nós mesmos? O que de fato queremos? Se temos que mudar, qual seria nossa direção?
Penso que a Psicoterapia é o lugar privilegiado para levarmos estas questões na busca do mais íntimo em nós.
Recontando nossas histórias, nos apaziguando com elas… reatualizando-as.
Nestes momentos de crise precisamos que toda nossa criatividade esteja disponível. Crise é motivo de mudança e não de paralisação.
Acompanhados por uma escuta atenta e dialógica, podemos nos lançar à procura de nossos tesouros internos.
E sim. Todos nós os temos. Questão de mergulhar em nosso próprio mar em boa companhia.
Que o discurso dialógico nos leve à terra firme e, ao mesmo tempo, à realização de nossos sonhos.
É um convite à reflexão, ao encontro e às possibilidades…
by Dora Gurfinkel Haratz | out 23, 2015 | Dora |
Simplificando (muito!): no tênis o objetivo é vencer (bola no chão) o parceiro…
no frescobol o objetivo é continuar jogando (bola no alto) para continuar brincando com ele…
Pare e reflita por alguns segundos. Você quer passar sua vida inteira em estado de alerta? Ah, não creio!
Conheci muita gente competente, boa, em seu ofício, inteligente (para algumas coisas), mas com enorme incapacidade de se colocar no lugar do outro.
Quando muito competitivas então… são um desastre! Para si e para quem as cerca.
Acabam falando sozinhas, em um verdadeiro solilóquio. Queimam suas pontes, fechando assim todos os canais para possíveis entendimentos e contatos.
Transformam-se em ilhas.
“Narciso acha feio tudo o que não é espelho”, já cantava Caetano.
Quem se interessa por conversar, ou mesmo colaborar, com um/a “tudólogo/a”?
Em qualquer tipo de parceria é melhor jogar pelo prazer da brincadeira.
Pelo humor que nos mantém cada vez mais próximos dos nossos e também de nossos objetivos comuns (e, quem sabe, até dos incomuns…).
No jogo da vida perde muito aquele que joga para vencer o… o… o… “adversário”(??????)!!!!
É preciso nos darmos conta de que vivemos na era da necessidade de interlocução. Era da rede.
A “Terra do quem manda aqui sou eu” tornou-se a “Terra do Nunca”.
Novos rumos partem da constatação de que a palavra de ordem hoje é COLABORAÇÃO.
Precisamos uns dos outros para alcançarmos nossas metas. Isso parece ser mais viável no acolhimento das diversidades e das diferenças, da inclusão de outros interlocutores.
Seja popular por sua escuta atenta, por seu interesse em ouvir outras e variadas versões de realidades, por sua capacidade de comunicação, por valorizar a parceria e, sobretudo, por sua capacidade de mudança e flexibilidade.
Inspire!
Mas também … expire.
Não pressione, nem precipite conclusões. Você ainda vai se surpreender muito com a riqueza do que seu(s) parceiro(s) ou parceira(s) tem a oferecer.
Seja um “líder em conjunto”!
Essa é a boa nova!
by Dora Gurfinkel Haratz | jul 7, 2015 | Dora |
A velhice é um estágio do ser que nos cabe a todos, se tivermos sorte.
Podemos ser diferentes quanto à raça, cor, crença, escolhas sexuais, mas todos nós somos ou seremos velhos… um dia.
A cada dia que passa a questão do “envelhecer” mais nos angustia e pior, vem se antecipando. Quanto preconceito e falta de lucidez existe nessa “classificação”.
Parece que fomos ficando ultrapassados como coisas. Assim como… celulares. Há sempre uma versão mais nova e vamos nos sentindo “caducos”, embora ainda funcionemos muito bem.
É isso, o tempo passando, a cada dia mais rápido, nos deixando uma sensação de impotência, como areia que escorre entre os dedos. A ampulheta nos apontando para sua metáfora.
Ele, o tempo, começa a nos faltar e, paradoxalmente, nos sobra. E suas evidências já se fazem sentir em nós desde cedo.
Se for uma crise, nos deixará mudados. Se para pior ou para melhor, só nós podemos decidir… Exigências se modificam. Passamos a privilegiar mentes brilhantes a peles brilhantes. Valores vão sendo questionados e modificados.
Inúmeros fatores estão aqui envolvidos e eles são tantos! Biológicos, cronológicos, psicológicos, sociais… além dos pessoais. Uma verdadeira Babel em nós.
De repente nos vemos transformados na resultante de uma grande mistura de identificações, após algumas décadas de vida.
Somos aquele que fomos, aquele que gostaríamos de ser e, também, aquele que realmente somos neste exato momento.
É preciso ter cuidado conosco, diante da impossibilidade de nos vermos como somos, dada nossa natureza que é a humana. Freud nos lembra de que na mais primitiva história do sujeito, ele precisa de um outro que o reconheça, o nomeie, que o ame, enfim. Esta seria uma questão de sobrevivência. Aí, entendida como amor.
Mas… espere: isto era “antigamente”!
Neste momento a questão é outra. É de autoestima que se trata aqui.
Hoje já podemos contar com nossa “independência”. Já trazemos conosco este olhar.
Quanto tempo nos restará, o que queremos e podemos alcançar, onde estão nossos interesses e apostas. Estas questões são muito importantes e só nós, contando com nossa autoestima podemos responder.
Se as deixarmos nas mãos do “próximo”, ficaremos distantes de nós. Sejamos nós velhos de 20 ou 90 anos.
O tempo que passamos conosco e com outros, a imagem que temos de nós mesmos a partir das relações que vivemos, devem poder nos bastar para nos assegurarmos de QUEM somos.
As questões do Amor aí se localizam também, penso eu.
Amor pelo outro, amor por si mesmo…
De repente lembro-me dos Beatles (que na época me pareciam tão velhos…). Na música “When I´m 64” de 1967, cantavam: “Will you still need me… when I´m 64?” (você ainda precisará de mim, quando eu tiver 64 anos?).
Nesta simpática música, questionavam se a amada continuaria a querê-los depois dos 64 anos. Quer dizer: quando estivessem “velhos” e Paul McCartney só tinha 16 anos… Imaginem!
Vemos aí o medo da solidão também na velhice, como uma reedição.
Não. Não seremos lançados à solidão necessariamente por não sermos mais tão jovens. Pelo menos, nenhum dos Beatles ficou…
Por outro lado, até mesmo os “mais jovens” têm se sentido solitários.
Mídias sociais, redes e outros meios têm podido facilitar nossa comunicação. É só sabermos usá-las bem, isto é: a nosso favor.
Nada substitui a alegria do encontro, que nos mantém ativos, animados e vivos. É verdade… também.
“O sentido da prosa” pode ter até adquirido múltiplas formas. Viva a comunicação!
Mas continuaremos sendo sempre seres desejantes… de Vida.
Portanto, aqui entre nós, não perca seu precioso tempo com falsas questões, como a de “ser ou não ser… velho”.
by Dora Gurfinkel Haratz | maio 8, 2015 | Dora |
Dia das mães chegando e vamos nos reaproximando do deslumbramento que o tema nos causa, estando nós na condição de filhos ou/e de mães.
Verdade! Todos os dias são das mães. Agora, que é bem legal podermos curtir esse dia aproveitando a condição especial que é “a relação com”… ah isso é sim! Um brinde à pura qualidade de sentimentos e sensações.
Encantada recebo “de presente” meu passado. Um de meus filhos me envia, pela internet (tempos deliciosamente modernos…) um vídeo que simula uma entrevista de emprego para O trabalho, assim o qualifica o “entrevistador’”.
Cargo: Diretor de Operações
Dinheiro: Nenhum
Atributos: Todos, desde mobilidade total até alto nível de qualificação, passando por habilidades tanto para negociações como as inter relacionais.
Pagamento: “as conexões significativas que você fará e a sensação que te dá ao poder ajudar “seus empregadores” são incomensuráveis”, diz o responsável pelo RH.
Horário: 24 hs por dia, durante 365 dias por ano sem férias…
E por aí vai.
As reações dos “entrevistados” são as mais divertidas possíveis. Vão do horror até a mais pura incredulidade. Como alguém ousaria oferecer um “trabalho” assim? Ultrajante! Até que o “entrevistador” alerta para o fato de que inúmeras pessoas estão, neste exato momento, ocupando este cargo, para espanto geral.
“Diretora de Operações também conhecidas como Mães”.
Sorrisos, lágrimas, gratidão misturam-se ao reconhecimento. Lindo!
(vídeo original: Cardstore.com #worldstoughestjob)
Pensando na alegria imensa de poder ser filha, mãe e avó, sou levada à reflexão de que:
Ter filhos não é o mesmo que ser mãe.
Ser mãe é um exercício maravilhoso de… perda!
É estarmos preparados para outro tipo de ganho: o da felicidade pelos (ganhos) de outros (nossos filhos).
É acreditar em construir em conjunto com eles um futuro, separados e independentes de nós.
Ser mãe é também um exercício diário de diferenciação, de respeito às diferenças, do estar presente mesmo ao ausentar-se para deixar ir…
Sendo puro trabalho do feminino, a maternidade não seria necessariamente privilégio da MULHER, mas uma “condição radical” para qualquer dos gêneros.
O amor mais radical é aquele que sustenta a possibilidade da transição do estar grávida para a condição de ser mãe.
Passagem radical do Ter… para o Ser, penso.
O que me deixa assim plena de realizações.
Dito isto…
FELIZ DIA DAS MÃES A TODOS!!!!
by Dora Gurfinkel Haratz | abr 30, 2015 | Dora |
Laços… Compromisso e Comprometimentos, têm sido temas bastante discutidos, ultimamente.
Tenho visto o quanto a palavra “compromisso” tem gerado profundo mal estar em algumas pessoas.
Um termo tão pleno de significantes significados, tão humano, tornou-se, de repente, quase maldito!
Melhor dizê-lo bem…
É impossível tentar realizar o mito de ser sozinho. Pura fantasia!
Fato irrefutável: somos humanos, portanto, seres de “com/vivências”…
De que será que temos medo? Pois é por medo, suponho que evitamos nos comprometer.
Medo de não sermos correspondidos, talvez.
Mas como sermos correspondidos se julgamos nada ter a oferecer ou quando pensamos não ser o Outro merecedor do que temos a ofertar?
Neste momento paro e penso:
Ninguém é suficientemente pobre que não tenha nada a oferecer, nem desmesuradamente rico que nada tenha a receber.
Parece que nossa “palavra de honra” está com seus dias contados, desmerecida, esvaziada, até mesmo ridicularizada. Um horror!
É preciso consideramos também, a “Reciprocidade”.
Sem este compromisso do Outro para conosco, seríamos lançados ao desamparo absoluto. Coisa terrível, esta sim, o desamparo. Aquele que desde cedo lutamos para evitar. Por sobrevivência mesmo.
Pensemos agora no “Comprometimento”…
No mundo corporativo, por exemplo, temos uma série de compromissos, uma série de tarefas, por assim dizer.
Já o comprometimento é a relação que estabelecemos com estes compromissos.
Uma vez envolvidos e motivados, compromissos fazem parte desta rica aliança de pertencimento. Eis que nos encontramos naturalmente comprometidos com causas, pessoas, objetivos e sonhos. Humanos…
Funciona assim com nossos afetos também. Somos os mesmos, onde quer que estejamos…
A partir deste ponto, basta que nos mantenhamos fiéis a nós mesmos, simplesmente. Um novo ponto de vista, uma nova cena, mais arejada, aqui se apresenta.
Precisamos ser sinceros conosco e, portanto, com os Outros.
Se por algum motivo começarmos a questionar nossa motivação, está na hora de repensarmos se as causas ainda fazem sentido para nós, se os objetivos ainda são os mesmos, se as regras estão de acordo com nossos valores atuais.
Não conseguimos fugir de nós mesmos. Nem vale a pena tentar…
Objetivos em mente, identificados com causas e valores pessoais que nos representem, podemos dizer: “terra à vista”, sem medo de naufragarmos.
A vontade de pertencer, a ética, o afeto e a comunicação nos bastam.
Parece muito, mas são atributos que já nos constituem. Fazem parte de nossa natureza.
Lembro aqui um pequeno extrato de texto do filósofo francês Paul Ricouer (1913/2005):
“Quem diz iniciativa diz responsabilidade. Toda a iniciativa é uma intenção de fazer e, como tal, um compromisso a fazer, portanto, uma promessa que eu faço silenciosamente a mim mesmo e tacitamente a outrem. A promessa é a ética da iniciativa.”
Depender… dependemos mesmo é das relações que estabelecemos, das atitudes, do querer fazer parte de… O fato do pertencimento é, por si só, constituinte do nosso ser. Fato.
Isto demanda sim uma boa dose de dedicação, organização e senso de responsabilidade, com aquilo ou com quem, nos comprometemos.
Para que complicarmos? Somos gregários.
Não nego aqui a necessidade fundamental de nos pensarmos como indivíduos. Mas não só(s). Pelo simples fato de nos engendramos uns aos outros.
O medo da dependência me parece ser uma forma de “re-atualizá-la”. Seja em nossas relações afetivas, familiares, ou corporativas.
Parece ser também uma falsa questão, uma vez que esta condição nos é dada desde nossa “pré-história’ individual.
Somos seres de pertencimento. Este é nosso tecido, não nossa armadilha.
Sem nos lançarmos nesta empreitada, a de nos comprometermos conosco e com os Outros, viveremos à deriva em nosso barco falsamente chamado de Liberdade.
Sem amarras, é bem verdade, mas também sem laços.