É uma delícia assistir ao seriado Mad Man. Uma reprodução de época impecável traz de volta o comportamento politicamente incorretíssimo dos anos 50 e 60. Parece inacreditável ver como se fumava nos escritórios durante o trabalho, numa ótima, um cigarro atrás do outro. Os homens tomavam o seu uisquinho em qualquer reunião, na maior. Isso sem falar nos assédios variados que rolavam dentro das salas. É interessante ver também o capricho do figurino do seriado, que mostra o jeito como as mulheres se vestiam para trabalhar naquele tempo. A moda da década de 50 destacava a cintura bem marcada em saias justas (hoje chamadas de saias-lápis) ou em modelos mais rodados usados com blusas de malha (ban-lon, era o nome) ajustadas, deixando uma sensualidade no ar. Ou camisas em tecido, fechadinhas ou não, que podiam ter detalhes delicados, revelando um toque de ingenuidade e um certo pudor. Seja como for, a feminilidade estava sempre presente na roupa, assim como a maquiagem e os penteados, tudo cuidadosamente elaborado.
Quanto aos homens, o terno. Em qualquer escalão e para todas as situações do dia a dia, vestia-se terno e pronto.
Desde a Primeira Guerra, quando os homens deixaram as fábricas para lutar e foram substituídos no trabalho pelas mulheres, veio a necessidade de um estilo mais prático e funcional para elas. Afinal, a moda do início da segunda década do século 20 ainda era influenciada pela Belle Epoque e seus chapéus floridos e emplumados e pelos espartilhos volumosos e desconfortáveis. A partir daí, a roupa feminina como um todo foi simplificando – nesse quesito temos Coco Chanel como precursora – e a mulher nunca mais quis voltar para aquele figurino exagerado. Pelo menos para trabalhar.
Nos anos 70, foi Diane Von Fustenberg a estilista a criar a peça icônica da linha funcional, o vestido-envelope (wrap dress), a roupa prática que acompanhava a profissional do escritório ao happy hour ou ao jantar de negócios, depois do expediente.
É através dos filmes Uma Secretária de Futuro (1988) e Wall Street (1987) que Melanie Griffith, Sigourney Weaver, Michael Douglas e Charlie Sheen retratam a linha dos chamados Yuppies (Young Urban Professional), que é como ficaram conhecidos os jovens da década de 80 que tinham como propósito o êxito, o consumo e o poder. A roupa certa na hora certa fez de Giorgio Armani e seus ternos bem cortados de ombreiras largas (a representação desse poder) virarem objeto de desejo desses profissionais. As mulheres eliminaram do vestuário de trabalho os babados, rendinhas e fru frus em geral, para buscar no guarda-roupa masculino seriedade, num estilo urbano-chic com coletes, camisas, paletós e ternos. Começa a era das “poderosas”.
Como reflexo da diversidade dos tempos atuais, o figurino profissional está muito mais livre, leve e solto. E é aí que mora o perigo. O terno deixou de ser obrigatório para os rapazes. O que não quer dizer bermuda e camiseta. E as meninas, com tantas opções no supermercado de estilos que caracteriza a moda contemporânea, não devem focar na minissaia nem nas transparências, entre outras “cascas de banana. Essa total liberdade na moda exige principalmente bom senso. O visual bem cuidado, a roupa confortável, adequada para a hora e a função continuam valendo. Como há 100 anos.