Se um de nós acordasse em 2017, após um congelamento de 20 anos, pensaria que está em outro planeta.
Um planeta onde uma geração de jovens adolescentes, a “Geração Z” ou Pós-“Millennials”, é um dos principais centros de atenção da sociedade e cujo comportamento destoa completamente do que observávamos antes de “hibernar”.
Estes jovens só funcionam com as “extensões tecnológicas” de seus corpos: smartfones, pulseiras e relógios com muitas funções “smart” e headfones wireless. Eles usam uma multiplicidade de apps para se orientar e viver seu dia a dia. (Precisaríamos explicar o que são apps a esta pessoa que acaba de despertar!) Comunicam-se incessantemente, fotografam, fazem vídeos, compartilham suas fotos e vídeos. Escrevem pouco, leem menos ainda e seu vocabulário contém palavras e siglas novas e desconhecidas, que ainda não estão nos novos dicionários. Mas quem precisa mesmo de dicionários, se o Google assumiu esta complexa e agora simples função de encontrar tudo, inclusive significados?
Pós-Millennials, assim como todos nós, vivem hoje num planeta sem fronteiras, onde é possível ter acesso a qualquer lugar do mundo, sem sair de casa. E seus relacionamentos são também muito virtuais, e bem menos reais do que os das outras gerações. As experiências e amizades são ao mesmo tempo compartilhadas e facilmente descartadas. A definição de celebridade foi mudada por eles, assim como o sentido da privacidade. Novas profissões surgiram totalmente vinculadas aos meios digitais, que eles dominam com maestria. Eles decretam em alguns minutos a obsolescência dos produtos e serviços, o que as gerações anteriores definiam em termos de anos. Eles estão em constante ansiedade para mudar. Mudar de amigos, de escola, de trabalho, de cidade, de apps, de ídolos. Engajam-se em atividades simultâneas, em telas que se multiplicam. São ativos em produzir conteúdo, e cada vez mais na forma de imagens.
São, por definição, inconstantes, impacientes e infiéis às marcas, e podemos prever que o serão também às suas empregadoras e ao que pensavam num momento anterior.
Esta infidelidade e inconstância são um forte desafio para os que convivem com esta geração: como obter seu engajamento? Como trazê-los para o mundo concreto em que precisarão viver sua vida profissional e familiar, já que a vida social é mesmo muito mais on-line? Como motivá-los nas Organizações?
Por influência dos Pós-Millennials, a era da postagem de textos em redes sociais está em processo de extinção: cerca de 1,8 bilhões de imagens são postadas diariamente na internet e destas, 350 milhões são compartilhadas no Facebook. O Instagram ultrapassou recentemente 500 milhões de usuários ativos, um site exclusivamente de fotos. E o Snapchat tem atualmente mais usuários ativos que o Twitter. O conteúdo que flui através das redes sociais está cada vez mais voltado para entregar aquilo que as pessoas querem: menos texto e mais visuais. E isto tende a acontecer também nas salas de reuniões das empresas, principalmente se as equipes são mais jovens.
É neste mundo do que pode ser visto e ouvido, mas nem sempre lido é que esta geração habita e nos impele a viver, nós que somos seus pais, patrões, professores, colegas de trabalho.
E o que isto está trazendo para as empresas quando o tema é Capital Humano?
Algumas empresas já estão percebendo que esta realidade é irreversível e que se acelera. E estão adaptando suas estratégias de relacionamento com seus colaboradores das novas gerações para permitir maior engajamento deste contingente e, quem sabe, menores conflitos de geração, mais retenção de talentos.
As principais formas de lidar com este novo contingente incluem:
- Maior envolvimento destas gerações nos processos de decisão, maior empoderamento, gerando maior satisfação e percepção da sua contribuição pessoal.
- Ouvir estes jovens: eles são muito criativos e seu mind set é muito valioso no desenvolvimento dos serviços e produtos para o público alvo, que incluiu muitas vezes esta mesma geração.
- Aproveitar a cultura de compartilhamento, o que é perfeito para fazer co-criação e trabalhos em equipe.
- Como eles são avessos a hierarquias, as formas mais informais de relacionamento, a linguagem e até mesmo a flexibilização de horários de trabalho são tendências crescentes. Tende a reduzir o conflito de gerações no ambiente de trabalho.
- Proporcionar trabalho remoto em alguns dias, eles são conectados e produzem mesmo assim.
- Flexibilizar o uso de conexão em redes sociais durante o trabalho, afinal eles estão conectados por definição e não permitir tem um efeito de aprisionamento. Claro que há protocolos sobre os limites desta utilização.
Estas são algumas das possibilidades para engajar estes jovens, que valorizam muito seu espaço de vida pessoal e têm menor ambição de fazer carreira às expensas de sua vida pessoal.
O Século XXI já está quase completando 20 anos…. em breve a geração Z estará enfrentando o desafio de lidar com aqueles que já nasceram em 2010…!
Zilda Knoploch, Antropóloga, CEO e fundadora da Enfoque Pesquisa de Marketing.