Dr Daniel Musse
Dr José Bines
Diante dos fatos mais recentes, muitas são as dúvidas a respeito do Novo Coronavírus (chamado COVID-19) e há uma orientação geral de evitar atividades hospitalares eletivas, que não demandem uma urgência médica. Contudo, no caso de paciente em tratamento para câncer, a interrupção poderia acarretar um dano a sua saúde. Por isso, apresentamos uma lista de orientações guiadas pelas perguntas mais comuns nesse cenário.
1- Quais as medidas de proteção?
O COVID-19 tem como seu principal veículo de contato as “gotículas”, partículas maiores que podem chegar a 1 metro de distância. Daí a recomendação em relação ao cuidado com lavagem das mãos, uso de álcool gel, evitar levar as mãos ao rosto, e respeitar a distância de um metro em salas de recepção, filas, transportes e demais locais. Isolamento social: manter-se em casa, evitar proximidade de pessoas, contato físico como beijar e abraçar ao cumprimentar.
2- Uma pessoa que não está tossindo ou com febre pode ter o vírus?
A maioria das pessoas comportam-se como carregadores assintomáticos, ou seja, têm contato com o vírus, carregam o mesmo no seu organismo por um tempo e não chegam a desenvolver sintomas pelo COVID-19. Caso desenvolva sintomas, os mais comuns serão: febre, tosse seca ou secretiva e fadiga. Daqueles que apresentam sintomas, 20% desenvolvem problemas respiratórios.
3- O que há de diferente de uma gripe comum (influenza)?
– Cada pessoa infectada pelo vírus da gripe, transmite a doença para uma pessoa, enquanto no coronavírus, cada pessoa infecta duas ou mais pessoas.
– A mortalidade da gripe comum é de menos de 1%.
– A taxa de hospitalização pode chegar a 20% no COVID-19, enquanto na gripe é de cerca de 2%.
4- Quem é a população vulnerável?
Além dos idosos, os pacientes com alguma condição de fragilidade, com doenças pulmonares, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, diabetes ou câncer em tratamento possuem risco aumentado de apresentar um quadro respiratório mais grave.
5- Quando ir para o hospital?
Pacientes com tosse e coriza sem falta de ar ou febre, não há uma recomendação oficial para procurar o hospital. No caso de pacientes que pertencem ao grupo de risco, com fragilidades (acima), é importante individualizar caso a caso e compartilhar essa decisão junto ao seu médico. Quando ocorre febre alta ou falta de ar, é recomendada uma avaliação médica.
6- Qual o risco de um desfecho grave com o COVID-19?
Os dados de mortalidade sobre e doença na Ásia e na Europa possuem algumas divergências, que podem ser influenciados pela composição etária da população. Análises da população chinesa mostraram mortalidade de 3%, enquanto na italiana chegou a 7%. Há de ser considerado que, nos países com maior número de casos, não temos registros de todos os casos leves, podendo então essa proporção de mortes ser um pouco menor quando visto o número total de casos.
7- Quem deve ser testado para o COVID-19?
Hoje, a recomendação do Ministério da saúde é de testar para COVID-19 os casos graves ou com sintomas respiratórios importantes, como piora da falta de ar. Importante ressaltar que não há indicação de testagem de contatos assintomáticos, pois há uma alta taxa de falsos-negativos, ou seja, teste negativos mesmo na presença do vírus. Contudo, essas indicações são dinâmicas e mudam à medida que há maior disponibilidade de kits para testagem e de acordo com o andamento da pandemia e com as políticas de saúde pública.
8- Há alguma vacina ou medicamento para ajudar na prevenção?
Não há vacina disponível ou medicação para prevenção do COVID-19 até o presente momento. As medidas de proteção individual e coletivas são a principal estratégia de prevenção. A antecipação da vacinação de gripe (Influenza) contribui para diminuir o risco de outra infecção respiratória que pode se confundir com o COVID-19.
9- Morando na mesma casa de alguém com câncer, há alguma orientação diferente?
Se você mora com alguém que está tratando câncer e teve contato físico ou proximidade de menos de 1 metro com alguém com teste positivo para o COVID-19 , seguem algumas orientações a serem seguidas durante os próximos 7 a 14 dias : permanecer em outro cômodo, evitando circular ao mesmo tempo, manter banheiros e cozinha bem arejados e ventilados, lavar bem as mãos e cobrir nariz e boca durante tosse ou espirros, mantendo o cotovelo flexionado; evitar compartilhar toalhas, copos, talheres e separar utensílios pessoais. O uso de máscaras cirúrgicas no domicílio não é consenso, mas pode trazer algum benefício na utilização pelos pacientes pra reduzir a dispersão de gotículas contendo partículas virais pelo ambiente.
10- E quanto ao seguimento do tratamento oncológico?
Não há contraindicação formal de parar o tratamento oncológico por conta da epidemia, porém trata-se de decisão a ser compartilhada e individualizada junto ao seu médico, levando em consideração a eficácia, intervalo, duração prevista e toxicidade do mesmo.
Referências:
1- Centers for Disease Control and Prevention. 2019 Novel coronavirus, Wuhan, China. Information for Healthcare Professionals. https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-nCoV/hcp/index.html (Acessado em 20 de Março de 2020)
2-. Huang C, Wang Y, Li X, et al. Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China. Lancet 2020;395:497-506
3- United States Centers for Disease Control and Prevention. Discontinuation of home isolation for persons with COVID-19 (Interim Guidance). https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/hcp/disposition-in-home-patients.html (Acessado em 17 de Março de 2020)
4-Doença pelo Coronavirus. NOTA TÉCNICA – SVS/SES-RJ Nº 08/2020. Mar 2020
5- Posicionamento da SBOC ao oncologista. https://www.sboc.org.br/noticias/item/1800-posicionamento-sboc-coronavirus-covid-19-informacao-ao-oncologista. Acessado em 20 de Março de 2020
6 Ueda et Al. Managing Cancer Care during the COVID-19 Pandemic: Agility and Collaboration toward a common goal. JNCCN Mar2020.
7. US Centers for Disease Control and Prevention. Seasonal Influenza (Flu) – Flu View. http://www.cdc.gov/flu/weekly. (Acessado em 02 de Março de 2020)