Não, isso não é uma cantada. O que o seu chefe quer saber é se você veste a camisa da organização.
Você adora seu trabalho e desempenha suas funções com eficiência, mas não aposta na empresa? Ou, além de gostar do que faz e ser reconhecido por sua competência, você admira a organização e sente que realmente faz parte do time? Acredite, a resposta pode fazer uma diferença incrível nos resultados da empresa. Tanto que está sendo lançada no Brasil uma ferramenta para medir o grau de envolvimento e comprometimento dos funcionários com relação às companhias em que atuam. O programa, chamado Employee Equity, também identifica os pontos que ameaçam o relacionamento entre os profissionais e a organização, indicando estratégias para solucionar esses problemas.
A metodologia foi apresentada em agosto, durante o Congresso Internacional de Recursos Humanos, no Rio, e chega ao mercado nacional por meio de uma parceria entre a consultoria Enfoque Pesquisa de Marketing, com sede no Rio, e a norte americana Market Probe. Para avaliar a relação entre o profissional e seu empregador, são utilizados índices como remuneração, benefícios, perspectivas de crescimento, treinamento e equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Os funcionários dão notas de 0 a 10 para definir como se sentem em relação a 80 itens (veja o quadro Para Refletir).
Para validar a técnica, foi realizada uma pesquisa com 2 017 funcionários, em cinco capitais: Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O levantamento mostra que apenas três em cada dez profissionais brasileiros estão envolvidos com seu trabalho e comprometidos com as organizações em que atuam. A maioria (51%) não está nem envolvida nem comprometida. “O resultado preocupa porque a rentabilidade das empresas está diretamente relacionada ao comprometimento dos funcionários, principalmente no setor de serviços”, diz a antropóloga carioca Zilda Knoploch, presidente da Enfoque. Na entrevista a seguir, Zilda explica a diferença entre envolvimento e comprometimento e faz um alerta: funcionários que não estão em sintonia com a empresa podem espalhar esse sentimento entre os demais, prejudicando toda a organização.
Qual a diferença entre envolvimento e comprometimento?
O envolvimento refere-se ao trabalho. Já o comprometimento está relacionado à empresa. O funcionário envolvido está satisfeito com seu emprego, sente orgulho ao falar sobre ele e não vê a atividade apenas como uma forma de ganhar a vida. Mas esse profissional não está, necessariamente, satisfeito com a empresa em que trabalha. O funcionário comprometido, por outro lado, tem orgulho da organização, recomenda seus produtos e serviços e vê a empresa como um dos melhores lugares para se trabalhar. Esse colaborador associa o seu sucesso profissional à companhia.
Para ser feliz no trabalho é preciso estar envolvido e, também, comprometido?
Isso depende dos seus objetivos, pessoais e profissionais. Algumas pessoas dão mais valor a outras áreas da vida e convivem bem com menor envolvimento no trabalho. Outras são felizes quando estão envolvidas com o trabalho, mas não necessariamente comprometidas com a organização. E algumas precisam aliar as duas coisas. Nas organizações, por outro lado, não há duvida de que felicidade é sinônimo de funcionários envolvidos e comprometidos.
Por que as empresas preferem funcionários envolvidos e comprometidos?
Os profissionais que não estão envolvidos nem comprometidos geralmente têm baixa produtividade e podem espalhar esse sentimento de ‘baixo-astral’ entre os demais. Os que estão envolvidos, mas não comprometidos, podem apresentar uma excelente performance. Mas a empresa corre o risco de perdê-los para outra companhia que expresse valores mais próximos dos seus. Por isso, o profissional ideal para a empresa é aquele que adora seu trabalho e veste a camisa da organização.
Se você valoriza o comprometimento com a organização em que trabalha, o que deve avaliar para saber se vale a pena continuar na empresa?
Há situações em que o funcionário não tem como enxergar um horizonte melhor na organização. Para saber se esse é o seu caso, você deve avaliar se a empresa está preocupada em identificar o envolvimento, a motivação e o comprometimento dos seus colaboradores; se você recebe feedback objetivo sobre sua atuação e perspectivas; se o ambiente organizacional revela ou não possibilidades de crescimento. A empresa também tem de estar envolvida e comprometida com seus funcionários. Cada vez mais, essa é uma via de mão dupla. As melhores empresas para se trabalhar já sabem disso, e a área de RH assume papel estratégico nessas organizações.
O que caracteriza uma empresa comprometida com os funcionários?
Uma organização comprometida com seus colaboradores é aquela que inclui em seus pilares de negócio o investimento em capital humano. E que também considera, em suas ações estratégicas, os impactos nesse capital.
Se fidelidade à empresa é coisa do passado, envolvimento e comprometimento não seguem a mesma linha?
Está cada vez mais difícil contar com funcionários comprometidos, como mostra o nosso estudo. Por isso é tão importante monitorar a forma como os colaboradores se sentem com relação a essas questões e encontrar formas criativas de reter esses profissionais.
Como a empresa pode aumentar o envolvimento e o comprometimento de seus funcionários?
Um ótimo ponto de partida é selecionar candidatos com valores que coincidam com os da empresa. Depois, é necessário ter um processo sistemático de avaliação dos funcionários, identificando os pontos críticos na relação da equipe com a organização. A partir dos resultados, são definidas estratégias específicas para cada caso. Pode ser necessário trabalhar o reconhecimento dos profissionais ou as formas de promoção e treinamento, por exemplo. Se o diagnóstico é bem-feito, há várias maneiras de ampliar e melhorar o envolvimento e o comprometimento de empregados. No processo, os funcionários mais qualificados merecem atenção especial. Os graduados e pós-graduados exibem maiores índices de envolvimento com seu trabalho do que comprometimento com a empresa. Com o aquecimento do mercado, eles são sondados por outras companhias e estão mais dispostos a deixar seus empregadores. O maior turn over de profissionais qualificados prejudica a produtividade, a inovação continuada e o número de pessoas preparadas para assumir posições de liderança. E isso, é claro, vai contra os objetivos de qualquer empresa.
Até que ponto você se sacrificaria pela empresa?
Corre uma piada, no mundo corporativo, sobre uma parceria entre um porco e uma galinha.
Os dois se encontram num happy hour e têm a idéia de montar um grande negócio:
a produção de ovos com bacon. Alguns dias depois, na primeira reunião formal para detalhar o empreendimento, ambos continuam motivados com a idéia, mas o porco traz olheiras profundas. “Não consigo dormir há dias, pensando em como resolver o grande problema essa sociedade”, diz ele. “É que você bota os ovos, mas continua viva. E eu, para produzir o bacon, tenho de morrer.” Moral da história: a galinha estava envolvida. O porco, comprometido. Segundo Zilda Knoploch, a analogia entre comprometimento e dar sua própria carne é cômica, mas exagerada. “Para fornecer o bacon, o porco morre. O empregado comprometido ganha junto com a empresa”, afirma.
Para refletir
Como avaliar algo tão subjetivo como envolvimento e comprometimento? Segundo Zilda Knoploch, esse é um dos maiores desafios das pesquisas de clima organizacional. Abaixo, você confere algumas questões que ajudam a determinar o seu perfil. Quanto mais você se identifica com as frases, mais comprometido e envolvido está.
Comprometimento
- Recomendo os produtos/serviços da empresa como os melhores.
- A empresa em que atuo é um dos melhores lugares para se trabalhar.
- Há uma troca justa entre a minha contribuição e o que a empresa investe em mim.
- Pretendo ficar na empresa, pelo menos, nos próximos dois anos.
Envolvimento
- Estou satisfeito com o meu atual emprego.
- Sinto orgulho em falar com os outros sobre o meu atual emprego.
- Meu trabalho é algo que realmente quero fazer e não somente um meio de ganhar a vida.
- Eu me sinto estimulado e desafiado pelo meu trabalho.