Que tendências enxergamos para 2021?

Que tendências enxergamos para 2021?

Este novo ano chega com muitas incertezas quanto a como nós, humanos, fomos alterados pelo impacto da pandemia.

Este tem sido um tema recorrente nas pesquisas de mercado, desde o início da pandemia. Centenas de pesquisas gratuitas têm sido divulgadas, informando como os consumidores estão se comportando. Mas será que este comportamento veio para ficar ou será apenas um intervalo de adaptação à crise, que, afinal, deverá passar?

O termo “novo normal”, criado e repetido à exaustão durante 2020, tem a premissa de que tal normalidade seria “nova”, ou seja, diferente do que estávamos acostumados a viver, mas seria aceita daqui por diante como a forma de viver e passaria a orientar as decisões das empresas e governos.

Mas o que vai tornar diferente ou “normal” a vida em 2021? Ainda não sabemos. Só temos algumas pistas.

Já sabemos que os hábitos de vida e de consumo, valores e crenças tiveram expressivas modificações. Mas não sabemos se se tornarão o parâmetro daqui para a frente ou, se uma vez vencida a batalha do vírus, tudo voltará a ser como antes, ao “velho normal”. É muito difícil mudar radicalmente hábitos e crenças numa só geração, isto nos ensinam as Ciências Sociais.

Antes da pandemia, o mundo já vivia uma aceleração digital, que se potencializou e permitiu a uma grande parcela da população exercer distanciamento social sem perder tanto. Antes, esta digitalização facilitava quase todas as atividades sociais e comerciais, mas podíamos escolher usar ou não canais digitais. Agora, esta não é mais uma escolha.

Esta aceleração digital resultou, durante a pandemia, em muitos investimentos em inovação e tecnologia para empresas que antes não consideravam fazê-lo e que o fizeram para sobreviver. Graças a esta reação pudemos continuar a comprar alimentos, medicamentos, refeições, e a ter atividades remotas de lazer, gerando receita e sustentando negócios e empregos que estariam ameaçados. Mas quando a pandemia passar, qual parcela destes consumidores ficará nos novos canais ou voltará aos antigos hábitos?

Algumas tendências devem se acentuar em 2021:

? Muitos negócios manterão o home office, total ou parcialmente. Deve crescer o desejo de melhorar o ambiente doméstico, torná-lo mais aconchegante e mais adaptado a trabalho in home. A Microsoft, por exemplo, vem aperfeiçoando seu Teams para gerar melhor experiência e bem-estar: os usuários já podem customizar sua tela para terem no fundo uma paisagem.

? O conceito de beleza mudou:  há o desejo de aparecer bela na tela do Zoom, mas agora basta apenas um batom!  Entretanto, a beleza se estende ao ambiente doméstico, que deve ser aconchegante, gerando bem-estar.

? Mais pessoas passaram a cozinhar, dispensaram empregadas domésticas para evitar o contágio, e muitas descobriram que podem prescindir desta ajuda no futuro. Isto vai influenciar a forma de usar utensílios, de escolher ingredientes, de buscar receitas em canais digitais, assim como a participação em blogs e comunidades que compartilham o mesmo interesse por culinária.

? Aumento de oferta de produtos para higienização das mãos e serviços para facilitar a proteção ao vírus nos ambientes domésticos e empresariais. Desinfetantes, luvas, máscaras passaram a ser artigos de primeira necessidade. O quanto assim o serão depois ainda precisamos descobrir.

? Aumento e diversificação de atividades de lazer indoors, com a família, diminuindo distâncias entre as gerações e reforçando laços já existentes.

? Consumo de mais roupas para ficar em casa, menos para o dresscode do ambiente empresarial ou social.

? Aumento do interesse por trabalhos manuais, como artesanato, crochê, costura, e tendência a torná-los fontes de receita, substituindo empregos formais perdidos.

? Substituição acelerada das formas de comunicação e de mídias tradicionais pelos canais “na palma da mão”, como o WhatsApp e aplicativos.

? Forte consumo de cursos online, principalmente gratuitos, mas com continuações pagas.

? Os serviços de logística chegaram a um novo patamar de relevância em todo o mundo.

? Aumenta a necessidade de se ter comércio e serviços a curta distância, numa caminhada, para evitar exposição a contágio e sem precisar usar transportes. É o que chamamos de “micromobilidade”. E-bikes serão cada vez mais relevantes para ajudar as pessoas a se locomoverem ao ar livre, sem consumir combustível ou sem gastar tarifas de transporte.

? O lazer virtual deve expandir-se com concertos ao vivo, usando Realidade Virtual para gerar experiências mais imersivas. Netflix, Amazon Prime e várias plataformas de streaming tiveram crescimento exponencial. Quando os cinemas voltarem com capacidade total, saberemos a fatia que vai permanecer!

Em suma, há dezenas de aspectos do consumo que em 2021 teremos que revisitar e reaprender para que as empresas conquistem e mantenham seus consumidores ? esta é a missão das Pesquisas de Mercado.

Vida 3.0: como continuar humano na era da inteligência artificial?

Vida 3.0: como continuar humano na era da inteligência artificial?

 

Esta pergunta é cada vez mais relevante, mas não a inventei: ela é o título do livro de Max Tegmark, editado em 2017 e um dos vários publicados mais recentemente sobre a temática da Inteligência Artificial e seu impacto na sociedade humana.

Max me fez lembrar do que senti quando li, nos anos 80, pela primeira de muitas vezes, “Eu, robô”, de Isaac Asimov, publicado em 1950. Como antropóloga, me fascinou a imaginação de Asimov ao projetar, antes da existência das atuais tecnologias digitais, uma sociedade em que robôs poderiam se tornar inteligentes a ponto de controlar os humanos.

Com o desenvolvimento da Inteligência Artificial, muitas das fantasias de Asimov já estão materializadas. E Max aprimora esta ficção ao descrever robôs ultrainteligentes que se reprogramam e se superam, e criam versões cada vez mais incríveis de si mesmos em curtos espaços de tempo. E descreve as consequências para uma sociedade que vai perdendo para estes seres poderosos e ultra-ágeis a sua velocidade de se reinventar.

São dois autores geniais, separados por muitas décadas de revolução tecnológica, mas trazendo uma mesma inquietação: o que nos tornamos? O que nos tornaremos? E como nos preparar para isto, na velocidade em que já está acontecendo?

Estamos cercados de IA por todos os lados: ao buscarmos informação no Google, ao interagirmos nas redes sociais, comprarmos livros e outros itens na Amazon ou no supermercado virtual, ao conversarmos divertidamente com a Alexa ou com a Bia do Bradesco. A Inteligência Artificial está ali, e num estágio em que aprende sobre nós cada vez que com ela interagimos. E até mesmo nos ajuda em necessidades corriqueiras.

Precisamos, então, aprender sobre ela! Não é mesmo?

Ela nos afeta positiva e negativamente. Fez surgir novas profissões, e outras continuarão a surgir, diretamente ligadas à Inteligência Artificial.

E não vai afetar tanto as profissões que dependem das habilidades que “sobrarão” para nós, humanos: as que requerem sensibilidade social ou emocional, ou as que requerem tarefas humanas de alta complexidade e não repetitivas, como, por exemplo, algumas especialidades da medicina, da psicologia, da antropologia e… alta gastronomia. Pois, usando robôs, já é possível fazer sanduíches iguaizinhos uns aos outros.

Muitas atividades e negócios já estão se beneficiando de um dos lados fascinantes do uso da Inteligência Artificial: velocidade e precisão ao lidar com volumes imensos de informação, analisar dados e tendências, realizar estágios iniciais de recrutamento e seleção, e até mesmo com programas de treinamento que podem ser autoadministrados. Neste sentido, a IA é facilitadora. O outro lado é eliminar diversas profissões que são superadas em rapidez e qualidade por algoritmos e robôs bem programados.

E como preservar a nossa “humanidade”, nossa característica única de improvisação, adaptação a situações inesperadas, inovar?

A resposta está em construção. Começa por educar as novas gerações a aprender a pensar e a sentir, a criar e a se comunicar usando as novas tecnologias a seu favor. Continua pela reinvenção das gerações mais maduras, ao acompanhar o ritmo de mudança das tecnologias, para usá-las com seu aditivo único: experiência de vida, anos na estrada, visão mais ampla. Deixar a máquina fazer o trabalho pesado e assumir o trabalho criativo.

As organizações, cada vez mais, estão revendo as relações de trabalho, para um modelo mais colaborativo, de inspiração, de motivação, que premie a flexibilidade, a criatividade, a capacidade de cooperação e reduza cada vez mais a competição entre as equipes. Dando propósito aos colaboradores, estes crescem em suas atividades. Robôs não precisam disto, mas não são, ainda, bons em gerar empatia para as organizações.

E você? O que tem vivenciado no seu ambiente de trabalho com relação  a essa temática? Compartilhe sua opinião.

 

Os “novos” pais. O papel do pai ocidental no século XXI

Os “novos” pais. O papel do pai ocidental no século XXI

A Enfoque e seus parceiros realizaram pesquisas no Brasil e na Europa sobre o papel do homem como pai nos dias de hoje e tivemos alguns aprendizados.

Ainda que as mães e pais das novas gerações desejem cuidar de seus filhos de forma cooperativa, a realidade impõe sacrifícios a este desejo. O que vai de fato delinear o perfil do “novo pai” e a divisão de cuidados parentais é o tempo disponível – dele – para se dedicar aos filhos.

Estas limitações de tempo nos permitiram identificar três diferentes perfis de pais, que implicam diferentes “rituais” na forma de exercitar seus outros papéis na casa. Eles são: um “paiexpress”, um “pai mão na massa” ou um “pai CEO”.

O “paiexpress” é aquele que trabalha muitas, muitas horas por dia. A mãe acaba sendo a principal cuidadora das crianças. Assim, quando ele está com as crianças, o tempo tem que ser muito bem aproveitado e ele tende a usar este tempo paparicando os filhos e brincando com eles.

O “pai mão na massa” trabalha tanto quanto a mãe e eles dividem os cuidados das crianças. Quando ele está com os filhos, quer fazer tudo “do seu jeito”. Ele tende a “gamificar” as tarefas cotidianas com os filhos, tais como alimentar, vestir, dar banho, transformando-as em pequenas diversões e, assim, em pequenas vitórias cotidianas.

O “paiCEO”é o principal cuidador dos filhos, já que a mãe é a principal provedora e trabalha em tempo integral, por muitas horas. O desafio pessoal deste pai é conservar a própria identidade. Ele necessita fazer algo para si mesmo, precisa ter algumas formas de escapar da rotina muito trabalhosa, como é o caso de mães de tempo integral!

Claro que numa família com crianças e com divisão de tarefas, cuidar dos filhos não é a única atividade compartilhada. A participação na compra de alimentos, o redesenho das relações entre as pessoas da casa e fora da casa e a própria redefinição do papel masculino na família nuclear apontam a persistência de valores ocidentais atribuídos ao “macho”, mas sob novas tintas. Se nos tempos imemoriais o macho era o caçador, o chefe da tribo e o guerreiro, nos rituais de hoje estas inclinações ainda persistem, escondidas e sutis, é bem verdade, nos rituais cotidianos.

Hoje o pai exercita seu papel de trazer “comida para casa” nos “ritos de provisão”. Mas nem todos os pais exercitam os mesmos rituais de provisão. Encontramos aqueles que fazem as compras de supermercado, outros que se transformam eventualmente em chefes de cozinha ou aqueles que fazem do ato de guardar e aplicar o dinheiro da casa a sua forma de garantir “a comida na mesa” nos dias futuros.

A ida ao supermercado pode funcionar como uma terapia para alguns pais…mas eles tendem a esquecer itens que as esposas pedem para comprar. E quase invariavelmente trazem produtos que não estavam na lista! Em geral, estes itens não listados são formas de se recompensar: um queijinho, uma guloseima… Em suma, parece ser uma forma subliminar de rebelião contra a liderança feminina sobre o que vai entrar na despensa e na geladeira. Pais no supermercado estão mesmo sujeitos a muitas tentações.

Quando os pais vão para a cozinha e se transformam em “chefs”, vão invadir um território antes mais feminino. Mas o fazem da sua maneira. Em geral, preferem receitas com carnes, assados, churrascos. Eles apreciam a habilidade de transformar os ingredientes em alimentos, como numa verdadeira alquimia ou engenharia. Eles adoram usar muitos ingredientes e condimentos para obter um prato diferente, exclusivo e delicioso. Eles realmente não se policiam e tendem a usar muitos utensílios. Amam a parte divertida de cozinhar com as crianças. Mas cozinhar para as crianças vai além do lado lúdico, tem o aspecto emocional de alimentar a família… como nos velhos tempos.

Quando levam os meninos para o futebol, praticam uma forma de socialização num território ainda mais masculino nos códigos e vocabulário. Os pais gostam muito mais do fazer do que do falar. Ensinando a andar de bicicleta, a jogar um jogo, a lidar com tecnologia, podem ensinar os filhos a serem esportivos, honestos, persistentes.

Ao vermos que cada vez mais os homens assumem papéis que historicamente têm sido das mulheres, identificamos algumas tendências que parecem estar ligadas à necessidade de reafirmar o arquétipo da masculinidade. A principal delas indica que a proteção continua a ser um valor central para o pai de hoje em dia e que ela se manifesta de formas muito variadas.

Zilda Knoploch

CEO Enfoque Pesquisa de Marketing

Estudo em parceria com RDSi UK.

 

 

 

Os “Novos Velhos”

Os “Novos Velhos”

A questão das gerações e da longevidade tem sido recorrente em muitos campos do conhecimento, desde a Demografia, até a Medicina, a Educação Física, a Nutrição, o Lazer, a Previdência, a Sexualidade, a Tecnologia, para citar apenas alguns.

Se no século XX considerávamos as pessoas com mais de 60 anos como aquelas que estão se afastando de várias atividades, ficando invisíveis, totalmente “fora do jogo”. No século XXI isto não é mais verdadeiro, pelo menos nos países ocidentais, e no Brasil não é diferente.

Já é senso comum dizer que “Os 60 anos são os novos 40 anos”, idade que anteriormente marcava um momento de transição para a maturidade, e isto definitivamente não acontece mais. A Enfoque Pesquisa realizou há cerca de 8 anos no helenBrasil, Inglaterra, Espanha e Itália uma pesquisa com pessoas de 55 anos ou mais, até 80 anos, em que foi possível identificar 3 perfis comportamentais diferentes entre pessoas com estas faixas etárias: as “Conservadoras”, que se identificam e são identificadas pelos demais como aquelas que assumiram uma maturidade como avós, estando aposentadas. Elas não mais se veem trabalhando e não fazem mais atividades de lazer como as que antes costumavam fazer (viajar, dançar, por exemplo). São pessoas que não se interessavam por tecnologia e com dificuldades de acompanhar o ritmo acelerado de mudanças ao seu redor. Olham para o futuro com certa melancolia, sem grande entusiasmo, como se sua vida atual fosse o final da linha, sem novos sonhos pessoais. Um segundo segmento, que denominamos de “Celebradores”, é o de pessoas que encontraram neste estágio da vida seu melhor momento, desfrutando de liberdade, não mais tendo que cuidar de filhos e com autoestima muito elevada. Elas celebram o valor da experiência de vida, sentem-se capazes de realizar o que antes não podiam por limitações de tempo, responsabilidades com a família e disponibilidade financeira. Agora que chegaram aos “enta” podem viajar a lugares exóticos, ampliar suas atividades de lazer, ter um papel de inspiradores de outras gerações. Elas se mantêm ativas, seja trabalhando como consultores, ou fazendo cursos para ampliar seus conhecimentos e horizontes. Estão inseridas no mundo digital. Sua aparência tende a ser mais cuidada que a dos “Conservadores”, valorizam fitness e alimentação saudável, porém gourmet. São mais hedonistas, nada depressivas. São pessoas que olham o futuro com muito otimismo, pois enxergam muitas formas de aproveitar esta fase de suas vidas. O terceiro segmento, que denominamos de “Refuseniks”, uma paródia aos “Beatniks”, aqueles rebeldes dos anos 60, não estão confortáveis na sua idade, recusam-se a aceitar que o tempo passou e a ver que esta passagem de tempo os tornou diferentes, mas não piores. Eles resistem. Esperneiam. Revoltam-se. E como consequência, imitam os jovens, no vestir, no vocabulário. Frequentam lugares dos jovens, como barzinhos, boates, points nas praias, e procuram parceiros amorosos bem mais jovens. Não se reconhecem como parte da sua própria geração.

duplaSe fossemos realizar esta mesma pesquisa agora, com a experiência em observar os muitos fenômenos sociais e culturais emergentes, podemos antecipar que muito pouco terá mudado, salvo a intensificação do mergulho no mundo digital entre os dois últimos segmentos mencionados há pouco. E já podemos constatar é que várias empresas perceberam a tempo as oportunidades que se abriam ao entender as diferenças de necessidades e expectativas destes grupos de “Novos Velhos”.

Observamos hoje um número maior de produtos e serviços ofertados a pessoas “com cabelos brancos”. Desde suplementos nutricionais que falam diretamente que um homem desta geração “também gosta de namorar”, até cruzeiros marítimos e excursões de lazer, cosméticos para mulheres com mais de 60 anos, serviços de apoio a terceira idade, por exemplo.
O que podemos esperar daqui em diante?

– Com o envelhecimento da população brasileira, a geração de 60 e + vai se retirando das posições executivas. Seu conhecimento acumulado e experiência fará falta, num ambiente cada vez mais dominado pela geração dos Millenials, aqueles que têm muita pressa para subir na carreira e são bastante superficiais em sua forma de atuar.

– Haverá cada vez mais produtos e serviços que levem em conta as necessidades deste segmento que, ao contrário de reduzir suas perspectivas, amplia-as. Produtos financeiros, imobiliários, especialidades médicas, produtos de lazer, de tecnologia, de estética vão aparecer, e para um público que agora pode “ser egoísta”, já criou os filhos e quer extrair o máximo das próximas décadas. Sim, Décadas. Chegar aos 80 já é uma realidade para uma parcela considerável dos brasileiros, a expectativa de vida vem aumentando.

– No âmbito de Recursos Humanos, poderá haver uma nova demanda para contratar pessoas desta faixa de idade, em funções gerenciais ou de consultoria, para preencher o “apagão” de formação que constatamos nas duas últimas décadas.

– A indústria de mídia vai introduzir cada vez mais personagens que trazem à vida os três segmentos acima mencionados, e que poderão ser co-protagonistas de novelas e filmes, lado a lado com os ídolos bem jovens. Isto já está acontecendo nas novelas “globais”, em que atores de meia idade fazem personagens conquistadores, sedutores e com comportamentos mais típicos da garotada mais jovem. E não mais temos personagens com perfis muito conservadores quando a temática se passa no momento atual.

No caso brasileiro, este novo olhar para esta geração ainda encontra a barreira da excessiva valorização da juventude, o que reflete um certo atraso em perceber que o Brasil vai ficando cada vez menos jovem, menos Millenials e mais “ Novos Velhos”. E vocês? O que estão fazendo para quando chegarem lá? E para que suas marcas e empresas aproveitem as oportunidades que esta realidade está trazendo?

Um mundo em transformação: como isto nos afeta como profissionais de marketing e pesquisa?

Um mundo em transformação: como isto nos afeta como profissionais de marketing e pesquisa?

Nas minhas recentes andanças por outros países em busca de inspiração sobre novas tendências, uma ideia poderosa me impressionou. Kevin Roberts, CEO da Saatchi & Saatchi Worldwide, sintetiza em quatro palavras o ambiente do nosso mundo atual: Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo. Creio que todos nós sentimos isto, mas a capacidade de síntese que ele demonstra é encantadora.

Por que esta dramaticidade e este aparente exagero? É simples: estamos na era do AGORA, o consumidor Pesquisa e Compartilha, tornou-se o protagonista de seu próprio roteiro de consumo. Em alguns casos, tornou-se até mesmo a Celebridade. Ele não mais segue os scripts ditados pelas marcas a partir das propagandas e estilos de vida criados para serem copiados e seguidos.

Assim, a Velocidade explica a Volatilidade, torna nosso ambiente incerto, ambíguo, complexo. E esta condição, favorecida pelas tecnologias de comunicação, só tende a acentuar-se. Assim, toda e qualquer atividade profissional – Recursos Humanos, Educação, Manufatura, Comunicação e Marketing – tem que se reinventar, ou seu destino será ir para o “Museu da História Natural”…

E qual a saída?

Lamento dizer: na autoestrada de alta velocidade que é o século XXI, não há saídas, apenas atalhos, que provocam o poder da nossa criatividade e resiliência. Atalhos que sacodem os profissionais para que saiam da zona de conforto.

Este consumidor “esperto”, que antes ouvia e seguia, agora fala e se faz seguir. Ele cria conteúdos e os compartilha nas redes sociais, cria movimentos, e as marcas correm para ouvi-lo e até mesmo, se for o caso, responderem. As marcas trabalham com os conteúdos ditados pelos consumidores, convidam-nos a “cocriar”, a participar até de algumas das suas reuniões de decisão. Eles não ficam mais apenas nas salas de focus groups, onde são vistos sem verem quem os vê. As marcas fazem incursões ao habitat dos consumidores, em suas casas, locais de consumo e de lazer, para tentar aprender a sua linguagem, os gestuais, os valores, as prioridades.

A má notícia é que observar e registrar, construir uma massa de registros que jogou os holofotes para o “Big Data” não resolve. As empresas de “Big Data”, originadas no DNA da Tecnologia, fazem o que sabem fazer: registrar passivamente o que podem captar. E interpretar com modelos o que o registro parece contar. Compilam enormes massas de dados, sem fazer nenhuma pergunta aos consumidores. Portanto, trabalham com suas próprias hipóteses, com seus modelos de olhar. Será que isto vai levar a algum lugar?

Coletar dados é a parte mais fácil nos tempos que correm. Está aí o Google, que não me deixa mentir. Mas como entender o que está por trás do que os consumidores dizem, fotografam, filmam? Como ir além do registro das jornadas destes consumidores espertos e voláteis? Não basta a tecnologia. Precisamos de Inteligência. Precisamos entender as “Revelações” dos consumidores.

A boa notícia é que nem tudo está perdido com esta superficialidade: aí é que entram os profissionais que têm a formação, as ferramentas e, sobretudo, a Senioridade. Pode parecer estranho falar em Senioridade numa era em que a Geração Y está assumindo o comando de muitas marcas e empresas. Mas no caso deste contexto frenético, somente quem viveu pelo menos mais de uma geração e acompanha esta quebra de paradigma tem o equipamento existencial e técnico para entender o que é main stream, o que é ultrapassado e o que é uma tendência que se desenha no horizonte. Aqui a colaboração entre os Seniores e os profissionais das novas gerações pode ser “o pulo do gato”, para traduzir o que se vê em propostas que sejam Vibrantes & Surpreendentes, mesmo que pareçam à primeira vista “Irreais” ou “Loucas”.

Na empresa de Pesquisa que fundei e dirijo, nós já entendemos este movimento e reagimos a ele: trabalhamos com o recurso de Comunidades Virtuais ou Mobiles, onde é possível participar da vida dos consumidores, observando, registrando, mas também interagindo, perguntando e aprendendo ao DIALOGAR com eles. O que eles perguntam é matéria-prima melhor do que o que nós perguntamos!

O mesmo ocorre em qualquer atividade que visa ao relacionamento com consumidores: um desafio que só se enfrenta com a elevação do patamar de nossas atuais “fórmulas”, metodologias, contextos. Para subir o patamar neste ambiente volátil, esse mesmo “guru”, Kevin Roberts, sugere: “tenha MUITAS pequenas ideias, continuamente”, “execute-as com velocidade”, “caia rápido, levante rápido, conserte rápido”. Ou seja: vamos assimilar a velocidade destes tempos ou… bem… vocês já entenderam, não é?

Consumo – O que vem por aí?

consumoO comércio e o consumo expressam muito mais do que aquilo que as pessoas desejam, do seu estilo de vida ou até mesmo do que compram. Eles são faces visíveis de muitos movimentos macroeconômicos internacionais que estão aí, do seu lado, há muitos e muitos anos e, às vezes, você nem percebe.

Pense, aja, interaja e pesquise o que o seu cliente deseja para oferecer o que ele quer, na hora e do jeito que ele precisar. Assim, terá um consumidor fiel e pronto para se relacionar com sua marca em todos os momentos.

Mas voltando a falar sobre como o desejo de consumo das pessoas expressa algo mais amplo, dou um exemplo bem recente. No último dia 16 de dezembro, a Apple, gigante mundial de tecnologia, realizou o lançamento do iPhone 4S no mercado brasileiro. Centenas de pessoas acotovelaram-se até altas horas da noite esperando os pontos de venda iniciarem a comercialização do novo gadget. Nos Estados Unidos, onde o lançamento foi feito dois meses antes, o telefone causou um verdadeiro alvoroço, correria e até briga na porta das lojas. Assim, seria previsível que o mesmo ocorresse aqui no Brasil, como, de fato, ocorreu.

Por isso é que um dos grandes segredos das relações pessoa-marca é se preparar para conhecer e aproveitar as oportunidades. Não sei quantos iPhones 4S serão vendidos nos próximos meses, mas sei que serão muitos. E mesmo quem não comprou no dia do lançamento, vai comprar em breve. Essa é a essência do planejamento: pensar a longo prazo e antever, hoje, o que será sucesso no futuro. Mas o que vem por aí?

O talento e a perícia dos nossos pesquisadores em busca desse caminho nos dão inspiração para pensar. Falando em varejo, mesmo com o crescimento evidente da classe C no Brasil, não é novidade a notória desigualdade de renda e, consequentemente, do estilo de vida e das preferências no País. De posse dessa realidade, os fabricantes e comerciantes que tenham produtos e serviços abrangentes, em vez de privilegiar a classe C, pelo volume que esta representa, deveriam desenvolver estratégias diferenciadas para atingir todas as parcelas de consumidores.

Haverá sempre muitas oportunidades para vender e se comunicar com a classe C. Mas também começam a surgir demandas para as D e E, especialmente nos itens que antes não eram tão acessíveis para esse público, como moda, tecnologia, higiene pessoal e até mesmo lazer. Ou seja, as classes D e E serão amanhã o que hoje é a classe C.

Outro fenômeno social que identificamos na década passada, mas que tem aumentado visivelmente é a consciência dos consumidores quanto à sua força. Cada vez mais eles buscam por seus direitos, exigem mais transparência das empresas (e até dos governantes) e usam as redes sociais para provocar respostas mais rápidas e obter um atendimento às vezes até impossível em outros canais. O SAC tem agora 140 caracteres.

E com essa nova realidade, assistimos a um crescimento exponencial das atividades e ações diferenciadas das marcas nas redes sociais e o aumento das fanpages. O consumidor 2.0 (ou e-consumidor), que já está presente, buscando e exigindo a interatividade das empresas pelas social networks, tornou-se um novo profissional, quase um brand-ombudsman, ou seja, um auditor de marcas do futuro.

Outro ponto importantíssimo e que você, leitor, deve prestar atenção é: o desenho das gerações no Brasil mudou. Ao mesmo tempo em que os Y e @ (também conhecida como geração Z) fincam sua bandeira em todos os setores, vemos que a terceira idade passa a aproveitar mais sua vida e volta à ativa, diferentemente do que faziam nossos pais e avós. Esse grupo é até chamado de Celebrators, justamente porque quer celebrar a vida em uma nova fase, que não indica um declínio, mas um novo patamar. Com isso vemos que as boas perspectivas de consumo existem cada vez mais para todas as idades, não apenas para os jovens, que sempre foram o maior foco dos anunciantes.

Essas características – idade, classe econômica, social e desejos – convergem para a primeira frase deste artigo: as pessoas buscam cada vez satisfazer suas vontades reais de consumo. Com o quê? Tecnologia. Lembre dos clientes da Apple. O que explica esse apetite feroz por um novo smartphone? A possibilidade de se conectar mais e melhor. Isso é o que as pessoas querem. Interagir com um toque, acessar a internet na palma da mão, conversar com amigos via redes sociais, tirar fotos, produzir vídeos, pagar contas pelo próprio celular e mostrar para todo mundo o que estão fazendo.

Isso mexe com a cadeia de produção e comercial, que já pensa, hoje, lá na frente (prestaram atenção como é possível utilizar a visão de longo prazo, comentada anteriormente?). A indústria fala em digital touch: celulares, TVs, computadores, fogões e até acendedores de luminárias capazes de funcionar com um simples toque, sem a necessidade de um plano físico ou um monitor plano para interação. Minority Report? Não. É a evolução. Mas esse é um assunto para outro artigo!