Felicidade dá lucro

Felicidade dá lucro

Em 2015, comprei o livro “Felicidade dá Lucro” do Márcio Fernandes. O título me chamara atenção pois terminava a pós em Psicologia Positiva e Coach. No meu trabalho de conclusão observei que, ao potencializar ações positivas nas organizações (sejam elas hospitalares, de ensino e outras) obtemos maior engajamento da equipe, e desta forma gerando bem-estar.

Márcio Fernandes foi presidente da Elektro, uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do Brasil. Ele assumiu o cargo em 2011, antes dos 40 anos de idade. Em 2016, foi nomeado executivo de valor em seu setor, pelo jornal Valor Econômico. Em 2017, alcançou 100% da confiança dos seus quase 4 mil colaboradores de acordo com a pesquisa Great Places To Work. Em seu livro, ele finaliza cada capítulo com o tema “Direto ao Ponto”. Abaixo, algumas das ideias expostas que considero interessantes.

    • Aproveite para aprender tudo o que puder com quem tem interesse genuíno em você.
    • Se você quer que sua equipe tenha determinadas atitudes, seja sempre o primeiro a dar o exemplo. Não adianta cobrar sem antes oferecer o modelo.
    • Aprenda a delegar, pois é uma forma de estimular a autonomia da sua equipe.
    • Não permita que a timidez ou os preconceitos levantem barreiras entre você e os outros.
    • Às vezes, a vida coloca diante de nós obstáculos reais e concretos. Não fique paralisado, sempre existem caminhos para contornar as dificuldades.
    • Aceite o desafio de ir trabalhar na área em que a empresa mais precisa de suas competências.
    • Nem tudo acontece como planejado. Por isso, nas turbulências, identifique as oportunidades e aproveite-as.
    • Para liderar, o primeiro passo é manter aberto o canal da escuta ativa. Todo colaborador pode expressar sua opinião, sugestão, crítica ou reivindicação.
    • O diálogo, franco e aberto, entre o líder e sua equipe deve ser sistemático. Conversar de vez em quando não adianta. Defina uma periodicidade e a cumpra.
    • Seja o mais simples possível ao conversar com as pessoas. É preciso estar com os olhos e os ouvidos atentos. Agir com o coração vai lhe poupar tempo.
    • Procure ser o mais espontâneo possível, recorrendo ao método de “storytelling”.
    • Ofereça o seu melhor multiplicado pelo máximo de confiança.
    • Ao propor algo diferente, é preciso dar tempo ao tempo. Enquanto a credibilidade é sedimentada, você precisa persistir e ser coerente. Vá em frente repetindo o mantra: “persistência na coerência”.
    • Não há dinheiro no mundo que pague o sacrifício de trabalhar em um emprego que não gostamos. Não adianta, você fazer todo o esforço e receber o maior salário do mundo, continuará infeliz.
    • O líder é quem vai à frente e indica a direção para os outros. Mas ele só apontará o caminho dando o exemplo: deve acreditar e praticar diariamente seus valores. Para liderar é preciso walk the talk.
    • Uma das grandes missões dos líderes: cuidar para que a companhia seja incansável na busca por ganhos de eficiência por meio da prática de processos de melhoria contínua.
    • A missão, a visão e os valores não podem ser apenas mais um quadro finamente emoldurado e dependurado na parede. É a convergência de propósito entre as pessoas e a empresa que viabiliza o engajamento espontâneo e materializa ideias no dia a dia de trabalho.
    • Uma gestão compartilhada é o “nós” posto em prática e incorporado à cultura organizacional.
    • Tenha absoluta convicção de que ser feliz é o melhor negócio que se pode fazer na vida. Quem está satisfeito com o que é e faz, cresce profissionalmente e consegue ganhar mais. O lucro é consequência da sua felicidade.

 

 

Como pôr em prática as dicas acima?

Pratique a escuta ativa.

Semanalmente, escolha dois conceitos, compartilhe com a sua equipe e então peça para comentarem. A estratégia da escuta ativa é o caminho para o sucesso na formação de equipes satisfeitas e comprometidas.

Me conte o que achou das dicas acima? Vamos trocar ideias?

Até o próximo encontro.

 

A Sessão Vai Começar

A Sessão Vai Começar

Sempre gostei de assistir o gênero documentário, mas geralmente não aparecem muitos filmes no circuito dos cinemas. Agora temos várias opções nos serviços de streaming e canais por assinatura. No mês de maio, um dos temas abordados na coluna da Positividade foi A Arte da Gentileza. Agora, vamos conversar sobre a Arte da Bondade, tendo como ponto de partida a segunda temporada do documentário chamado “The kindness diaries(“Amor sobre duas rodas” – Netflix). Nesta temporada, Leon Logothetis, idealizador do documentário, sai num fusca amarelo do Alaska até a Patagônia.

Leon Logothetis tinha uma vida sem inspiração e desconectada como corretor da bolsa de valores em Londres. Parecia que ele tinha tudo, mas estava cronicamente deprimido. Ele resolveu deixar seu trabalho insatisfatório em busca de uma vida significativa. Embarcou numa aventura ao redor do mundo, alimentada pelo recebimento e doação da bondade. Conquistado pela generosidade humana por pessoas que ele não conhece que oferecem abrigo, comida e gasolina.

A cada parada onde é acolhido, na hora dele se despidir, encontra uma maneira de retribuir esses bons samaritanos oferecendo algum coisa que possa mudar suas vidas, como pagando por um tratamento de saúde, reforma de uma casa ou deixando pequenos presentes. Ele aprerendeu que a bondade é um dos laços que mais conectam as pessoas em todo o mundo.

Para reforçar a visão de Logothetis de acordo com os estudos das “Forças de Caráter e Virtudes”, dos psicólogos Peterson & Seligman, a bondade é uma das 24 forças de caráter. Ela envolve ações desde ofercer seu assento no tranporte público para um mãe com uma criança, ajudar a um cego atravesar a rua, compartilhar conhecimento com seus colegas de trabalho, até um ato profundo como doar um orgão.

Um elemento significativo desta força é que os filmes que mostram a bondade podem inspirar os espectadores a copiar esses atos em sua vida diária.

Finalizando, busquei alguns filmes nos quais podemos constatar como a bondade pode tornar os nossos relacionamentos profissionais e pessoais mais harmoniosos. São esses aqui:

  • “O fabuloso destino de Amelie Poulin”
  • “Chocolate”
  • “Melhor impossível”
  • “A corrrente do bem”
  • “Fantastica fábrica de chocolate”
  • “A forma da água”

Até a proxima sessão!

 

 

Como permanecer motivado e positivo?

Como permanecer motivado e positivo?

Você descreveria o isolamento como uma situação particularmente positiva e motivacional? Mais provável que não. Mas, para os professores, é tão importante quanto sempre permanecer positivo, manter-se motivado e continuar a brilhar em benefício de você e de seus alunos. Conversamos com o Dr. Andy Cope, professor qualificado, autor de best-sellers, acadêmico e … especialista em felicidade! Agora isso soa como um trabalho que o deixaria de bom humor. Quando se trata de manter o ânimo elevado durante a pandemia, ele é a pessoa que pede dicas … assim temos.

Nunca houve um momento mais apropriado para elevar a agenda de bem-estar e se concentrar em como você pode permanecer motivado e positivo. Quero espalhar uma alegria tão necessária durante esse período, então, aqui estão algumas das minhas felicidades favoritas de felicidade que você pode experimentar.

Dê a si mesmo um ABRAÇO

Um ABRAÇO é um objetivo incrivelmente grande e enorme; isso é algo que realmente te inspira quando se trata de ensinar. Um ABRAÇO é enorme. Estica você. Por favor, não aceite a mediocridade. Os ABRAÇOS também trabalham para seus alunos. Incentive-os a estabelecer metas desafiadoras. Faça com que eles visualizem como atingiram seus grandes objetivos e, em seguida, pergunte “o que você precisava fazer para que isso acontecesse?”.

Escreva uma lista dos 10 melhores momentos mais felizes da sua vida

Em tempos de escuridão, pode ser difícil lembrar de todos os momentos felizes. Tire um tempo do seu dia para escrever sua lista. A regra geral é que a felicidade vem de fazer coisas em vez de acumular coisas. Durante esse período, aproveite ao máximo o que você pode fazer e não se concentre no que não pode. Aproveite ao máximo esse tempo, concentre-se no que o faz feliz e faça mais!

Três coisas boas

No final de cada dia útil, gaste cinco minutos anotando três coisas que foram bem e por quê. Concentre-se neles e use-os para motivá-lo para a próxima semana.

Comprometer-se a fazer algum exercício

Não precisa ser muito extenuante. Todos os dias, tire algum tempo da tela e exercite-se por 20 minutos. Pode parecer uma tarefa na época, mas libera todos os tipos de grandes endorfinas que infundirão um brilho novo e o levarão a marcar esses dois ensaios finais.

Cuidado com o princípio 90/10

Isto afirma que 10% da sua felicidade depende das coisas que lhe acontecem, enquanto 90% impressionantes dependem de como você reage a esses eventos. Durante suas interações diárias com os alunos, reuniões com colegas e tempo gasto com os entes queridos, faça uma escolha consciente de ter uma atitude positiva.

Uma carta de gratidão

Este é o desafio final da felicidade. Pense em alguém que realmente ajudou e apoiou você durante esse período; pode ser um colega, um membro da família ou até um estudante. Escreva-lhes uma carta, de coração, que diga como eles são ótimos e quanto sua ajuda significou. Não basta enviá-lo por e-mail e permitir que eles leiam em sua própria cabeça. Leia para eles em voz alta.

Felicidade X Rabugice

Lembra do seu primeiro café na sala dos professores? Meu co-autor, Gavin, faz. Cheio de pessoas miseráveis, era! Até que uma pessoa decidiu brilhar.

Lembre-se, você é o ingrediente secreto. O bem-estar e a capacidade de brilhar são menos as suas circunstâncias no mundo ao seu redor e mais o que está acontecendo em sua própria mente. Mantenha-se positivo, reserve um tempo para sair do trabalho, aprender novas habilidades e se concentrar em si mesmo. Lembre-se de que o bloqueio não precisa significar um colapso.

Fique feliz!

Se você agora está inspirado a trazer mais felicidade à sua experiência de bloqueio, pode explorar ainda mais o bem-estar mental com a Dra. Radha Modgil.

 

Fonte: https://wordsonwonder.com/2019/07/26/andy-cope-happiness-doctor-71/

Andy Cope – Happiness Doctor (#71)
A importância de celebrar

A importância de celebrar

Em determinadas épocas do ano ficamos imersos em um clima de festa, como no Carnaval. Tudo transpira movimento e algumas pessoas vibram e se envolvem com o clima existente.

É importante fazer uma distinção entre festa e celebração. Uma festa pode acontecer sem que haja um objetivo. Pode ser que a festa seja o próprio objetivo. Para a celebração, necessariamente, existe uma razão para acontecer, marcando passagens e podendo ser encarada como um portal para a fase seguinte.

Nas empresas, as celebrações também precisam ocupar um papel especial. Algumas pessoas a consideram como perda de tempo e que as realizações somente precisam ser comemoradas ao final. Entretanto, a celebração das pequenas vitórias, intermediárias, pode recarregar os empregados com energia para prosseguir o caminho na direção do objetivo maior a ser alcançado, principalmente em projetos de longo prazo.

Celebrar tem sua origem no verbete do Latim CELEBRARE, que quer dizer “honrar, fazer solenidade” e do verbete CELEBER, “o que é várias vezes repetido”, logo, “famoso, digno de honras”.

Faz muito tempo, li um artigo sobre a importância de solenizar nas empresas. Marcar os momentos de transição, reforçar determinados ritos. As entradas e saídas de pessoas, as conquistas realizadas, as mudanças de rumos. Quando passamos a considerar que tudo é corriqueiro, que tudo é natural, perdemos a capacidade de inovar e de nos surpreender.

As celebrações destinadas ao reconhecimento de pessoas são importantes para as próprias e para as demais que são expostas a um exemplo de comportamento e atitude valorizado pela empresa.

Deve-se destacar que, para cumprirem seu objetivo como solenidade, devem ser explicitadas as razões que a levaram a acontecer e a ocasião precisa ser organizada de forma que as pessoas percebam sua lógica.

A celebração é uma das necessidades humanas básicas e compartilhadas por todos os seres humanos, no conjunto proposto por Marshall Rosenberg, que desenvolveu a comunicação não-violenta. A celebração, nesse caso, inclui celebrar a criação da vida e os sonhos realizados; e elaborar as perdas (o luto).

Por isso, ao celebrarmos estamos atendendo a uma necessidade humana.

No âmbito pessoal, dedicar tempo para celebrar nossas realizações, agradecendo por nossas vitórias, enriquece a vida. E repõe nossa energia para realizarmos ainda mais.

E você, tem celebrado as suas realizações?

Para saber mais:

Corporate Celebration: Play, Purpose, and Profit at Work. Terrence E. Deal. Editora Berrett-Koehler.

Comunicação Não-violenta. Marshall Rosenberg. Editora Ágora.

Imagem: Gerd Altmann por Pixabay

Nudges e Mudanças

Nudges e Mudanças

Na palestra de George Brooks, Americas Leader of People Advisory Services da consultoria Ernst & Young LLP (EY), no Congresso RH Rio 2019, ouvi a expressão “behavior nudge” que me deixou curiosa com o significado da palavra “nudge” (em português: empurrão, cutucada ou incentivo). Foi apresentada como uma forma de trabalhar a mudança cultural e de mindset, para liberar o potencial extraordinário do ser humano. Por exemplo, para estimular o senso de gratidão, enviar um email aos colaboradores, sugerindo que cada pessoa escolha alguém para agradecer e o faça. Ou, para estimular a abertura para outras ideias, sugerir que cada pessoa peça a opinião de uma outra sobre um projeto, por exemplo.

Na página Geekonomics, descobri que “um Nudge é qualquer aspecto da arquitetura de escolha que altere o comportamento das pessoas de uma maneira previsível, sem proibir nenhuma opção ou alterar significativamente seus incentivos econômicos. Para contar como um simples empurrão (Nudge), a intervenção deve ser fácil e barata de evitar. Nudges não são mandatos. Colocar a fruta no nível dos olhos conta como uma cutucada. Banir junk food não.” (Thaler and Sunstein 2008).

Lembrei da frase de Buckminster Fuller, citado por Peter Senge no seu livro A Quinta Disciplina, “você não pode mudar como os outros pensam, mas você pode dar-lhes uma ferramenta para usarem, a qual os levará a pensar de forma diferente.” O “nudge” cumpre esse papel… precisamos ser criativos para encontrar a fórmula que estimulará a mudança desejada nos comportamentos.

 

Fontes:

https://geekonomics.com.br/2018/08/nudge-siginificado-definicao/

A Quinta Disciplina. Peter Senge, Editora Best Seller.

Os melhores gestores são felizes fora do trabalho

Os melhores gestores são felizes fora do trabalho

Uma empresa bem-sucedida é aquela que tem muitos líderes – em todos os níveis hierárquicos. É isso que defende o israelense Tal Ben-Shahar, ex-professor de Harvard, universidade na qual ministrou aulas de psicologia positiva e psicologia da liderança, entre 2004 e 2008. Em seus cursos, alguns dos mais populares da escola, ele discorria sobre felicidade e satisfação pessoal.

Agora, ele aborda os mesmos temas em palestras e consultorias para executivos de grandes empresas ao redor do mundo. “Companhias que querem ter sucesso precisam de funcionários que evoluem”, disse em entrevista ao Valor, durante a Sohn Conference, em Nova York. “É mais provável que os profissionais permaneçam se estiverem satisfeitos, e a autonomia contribui para isso.”

Autor de “Happier: Learn the Secrets to Daily Joy and Lasting Fulfillment” [Mais feliz: aprenda os segredos da alegria diária e da realização duradora] e “Choose the Life you Want: the Mindful Way to Hapiness” [Escolha a vida que quer: a maneira “mindful” de ser feliz], ele dedicou seu último livro ao estudo da liderança. Em “The Joy of Leadership”, com lançamento previsto para agosto nos Estados Unidos, Ben-Shahar defende que o crescimento pessoal e a felicidade são atributos fundamentais dos bons gestores. A seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: A busca por felicidade e propósito no trabalho ganhou bastante atenção de pesquisadores e consultores na última década – e o senhor foi um dos porta-vozes deste tema. Ao procurar propósito ou felicidade no ambiente profissional não estamos supervalorizando a função do emprego?

Tal Ben-Shahar: Propósito e significado são importantes para a felicidade. Como hoje a maior parte do tempo que passamos acordados é no local de trabalho, é natural querermos ser felizes nesse ambiente. Esperar encontrar significado e satisfação apenas em casa, com a família e amigos, nos fins de semana ou férias, significa desistir de uma parte importante da vida.

Valor: Muitas pessoas, porém, não podem escolher o trabalho de acordo com a própria vontade, pois precisam suprir necessidades básicas. Essa busca por “algo mais” está restrita a quem já conquistou certo patamar socioeconômico?

Ben-Shahar: Ter um propósito não é só tentar vencer a pobreza mundial. As ações do dia a dia – e a sua maneira de realizá-las – podem atribuir sentido à vida. As pesquisadoras Amy Wrzesniewski [da Universidade de Yale] e Jane Dutton [da Universidade de Michigan] investigaram os funcionários de alguns hospitais e descobriram que, de acordo com a forma como encaravam a própria atividade, eles poderiam ser divididos em três grupos: (1) aqueles que viam seus empregos como trabalho, (2) como carreira ou (3) como vocação. As pessoas que encaravam como trabalho cumpriam tarefas, almejavam o fim de semana, as férias e a aposentadoria. Faziam o trabalho porque não tinham escolha. Quem encarava o emprego como uma carreira estava interessado em atingir o próximo nível, queria ser promovido, subir na hierarquia e ganhar mais dinheiro. O terceiro grupo, que encarava o emprego como vocação, tinha um senso de propósito. Eram pessoas que sentiam fazer a diferença no ambiente – mesmo que sua função fosse trocar lençóis e limpar o chão. Fariam a mesma atividade mesmo sem receber. O interessante é que foram encontrados faxineiros, enfermeiros e médicos nos três grupos. Os que encaravam o trabalho como vocação desfrutavam mais da rotina, eram felizes e executavam a atividade com mais qualidade. As pesquisadoras replicaram esse estudo com outros profissionais – cabeleireiros, engenheiros, empresários, professores – e os resultados foram similares.

Valor: Há alguns profissionais que não sabem o que querem fazer, não sentem que encontraram sua vocação. Nesses casos, buscar um propósito pode gerar ansiedade?

Ben-Shahar: Encontrar um propósito não é uma questão apenas externa. Está relacionada também com a maneira como nós interpretamos o que estamos fazendo – seja lá o que for. “No que estou focando? Em algo que me dá uma satisfação e um senso de significado ou apenas no resultado externo? Estou ganhando a vida e isso é suficiente? Ou estou encontrando o sentido maior até nos menores detalhes do dia a dia?”. O faxineiro que entende que limpar hospitais ajuda a melhorar a vida e a saúde das pessoas terá mais satisfação. Também não podemos ir para o extremo oposto e dizer que o significado é apenas uma interpretação interna. Acima de tudo, é importante buscar algo que tenha significado para você, que o estimule. Mas, enquanto não encontra, procure ter significado e estímulo no que já está fazendo.

Valor: Trabalhar com o que se gosta também pode ser um problema. Pode levar as pessoas a trabalharem além da conta, a terem dificuldade de se desconectar. Podemos dizer que a realização extrema também provoca efeitos colaterais?

Ben-Shahar: Sim. Por isso é tão importante dizer “não” para pessoas e oportunidades, ainda que sejam atraentes. O que temos de mais significativo na vida são as pessoas de quem gostamos. Se não nos desligarmos do trabalho, não podemos desfrutar da companhia delas e isso fará falta.

Valor: A dificuldade de se desconectar de e-mail, telefone e redes sociais também tem a ver com uma mudança na estrutura corporativa. Vivemos um enfraquecimento do trabalho formal. O home office é uma tendência, assim como os escritórios compartilhados e virtuais. Quais os impactos dessas mudanças na qualidade de vida?

Ben-Shahar: O lado bom é que hoje há mais liberdade. Pode-se trabalhar de casa ou de um café. Mas a parte ruim é que não temos limites. No passado, quando você saía do escritório, acabava o trabalho. Hoje, com os celulares, não há demarcação clara entre vida profissional e pessoal. O problema não é o trabalho, mas o fato de não termos tempo para nos recuperarmos do trabalho. Outra desvantagem é não encontrar mais os colegas de trabalho com a mesma frequência de antes. Nós precisamos da interação social para equilibrar até a saúde física. Estudos já mostraram que o tempo de qualidade que passamos com as pessoas próximas é o principal gerador de felicidade. Mas o isolamento possibilitado pelas relações virtuais pode levar à solidão e, consequentemente, à depressão e a uma maior fragilidade física. O nosso sistema imunológico é mais forte quando temos suporte social.

Valor: Qual é a melhor forma de nos “recuperarmos do trabalho”?

Ben-Shahar: Precisamos de três níveis de recuperação. O nível micro são alguns minutos de descanso no dia. Por exemplo, uma pausa para um café, para praticar meditação, fazer uma refeição (longe do celular e computador) ou ginástica, por exemplo. A recuperação de nível médio é aquela promovida por uma boa noite de sono ou um dia de folga. E a recuperação macro são as férias: uma semana ou mais sem trabalhar.

Valor: Quais são as principais queixas dos executivos que procuram seu trabalho como consultor?

Ben-Shahar: Eles se queixam do estresse. Muitas vezes, não se dão conta de que o que precisam para começar a melhorar são 15 minutos de pausa entre uma atividade e outra. Sem isso, entram em um círculo vicioso: ficam estressados e, por isso, não conseguem fazer tudo o que precisam. Então, trabalham cada vez mais, têm menos tempo para se recuperar e ficam ainda mais estressados. Outra fonte de estresse é a preocupação com o mundo que muda rapidamente. Eles sentem que não estão sendo capazes de manter o ritmo, de se manter atualizados em suas áreas no mesmo nível em que são demandados.

Valor: Há alguma maneira de resolver esse conflito?

Ben-Shahar: Eles não precisam saber de tudo. O que precisam é formar mais líderes nas organizações. Porque líderes responsabilizam-se por si mesmos, inovam e pensam fora da caixa. É disso que o mundo precisa.

Fonte: Valor Econômico, por Ariane Abdallah, 01.06.2017