Gratidão pra recomeçar

Gratidão pra recomeçar

Alguns de nós chegamos ao final de 2020. Nem todos tiveram a mesma sorte ou destino. Começamos o ano com as perspectivas e os pensamentos que os inícios nos trazem: esperanças, sonhos, desejos, planos…

No Carnaval, já recebíamos notícias do vírus se espalhando na Itália e na Espanha, e pensamos que, separados por um oceano estaríamos protegidos. Não demorou muito. Pelo ar, o vírus viajou até nós. E, em três semanas, começou o isolamento social no Brasil.

Foi um ano de adaptação, sentimentos, perdas, ganhos. Este ano aconteceu, ponto. Resisto à ideia de apagar 2020 da minha vida. Ao lado das tristezas e luto pelas perdas dos/das amigos/as, está o mergulho que fiz para dentro de mim (Eu, Caçadora de Mim; lembrando da música de Sergio Magrão e Luiz Carlos Sá, imortalizada na voz de Milton Nascimento). O tempo no transporte para chegar e sair do trabalho transformado em tempo de interiorização, de meditação… A conclusão da pós graduação com a entrega do trabalho de conclusão de curso (TCC)… o aprendizado e a realização de diversas Lives para compartilhar conhecimentos… um livro lançado (capítulo sobre CNV) e um capítulo escrito para outro livro (carreira e longevidade) … as rodadas de 21 Dias de Meditação (21-Day Meditation Experience, app no Google Play) gratuitas, oferecidas pelo Chopra Center Meditation, com Deepak Chopra e Oprah Winfrey. E muito mais…

O médico Deepak Chopra, autor de diversos livros e especialista em medicina alternativa, afirma que a prática da gratidão pode nos trazer benefícios nos âmbitos físico, social e psicológico. No físico, a gratidão fortalece nosso sistema imunológico, melhora o sono e nos traz mais energia, entusiasmo, determinação e foco. Na dimensão social, podemos nos tornar mais compassivos, generosos e prestativos, além de sentirmos menos a solidão. E no psicológico, a gratidão estimula as emoções positivas, traz otimismo sobre o futuro e nos fortalece nos tempos difíceis. Karson McGinley, professora de yoga e colaboradora no blog do Chopra Institute, baseada nos estudos e pesquisas de Robert Emmons sobre gratidão, nos oferece 5 práticas que envolvem escrever à mão, alinhando as inteligências da mente, do coração e das mãos:

  1. Escrever 3 coisas pelas quais você é grato/a naquele dia (para os/as iniciantes na prática da gratidão), acrescentando a razão da gratidão. Por exemplo: “sou grata por saber escrever, porque posso compartilhar minhas ideias).
  2. Experimentar uma sessão de gratidão temporizada, por cinco minutos. Dispare o temporizador e escreva o máximo coisas pelas quais você é grata/o, sem parar para pensar, deixando fluir.
  3. Dar foco na profundidade e especificidade. Escolher uma coisa (sua residência, seu trabalho…) e escrever os agradecimentos com o máximo de detalhes possível. Segundo a autora, essa prática é útil quando estamos irritados/as ou frustrados/as em alguma parte de nossa vida, nos ajudando a ampliar as perspectivas.
  4. Dar foco na densidade da gratidão. Escolher uma situação da sua vida e escrever todas as pessoas a quem você se sente grato. Por exemplo, se você (como eu) concluiu sua pós graduação, mestrado, doutorado etc., escreva todas as pessoas (seus professores, seus pais, seus professores do ensino médio, seu companheiro/a, seus filhos, amigos/as etc.) que contribuíram para a realização de sua meta.
  5. Encontrar gratidão em seu entorno. Estando em sua casa, no parque, em seu quarto, aprecie o que está ao seu redor, pois é fácil tomar as coisas como certas quando estamos em contato com elas todos os dias. Apreciarmos o que consideramos como natural ajuda a desenvolver o que Robert Emmons chama de disposição para a gratidão, que é o objetivo principal das práticas de gratidão.

 

Por tudo isso, minha receita para o final de ano envolve o exercício da gratidão. Comece (ou continue) seu caderno de gratidão (isso mesmo, no físico). Durante 2020, participei de alguns grupos no WhatsApp, inspirados no livro “A Magia”, de Rhonda Byrne, nos quais recebia a sugestão de diversas vivências e, dentre elas, a prática diária da gratidão. Começar o dia encontrando razões para agradecer, além da primeira de todas: estar viva.

 

E, para nos acompanhar nesse momento de virada (de ano, de vida, do que vc desejar), trago a inspiração de Mauricio Barros, Mauro Santa Cecilia e Roberto Frejat; compositores da música “Amor pra recomeçar”:

 

“Eu te desejo não parar tão cedo

Pois toda idade tem prazer e medo

E com os que erram feio e bastante

Que você consiga ser tolerante (…)

Quando você ficar triste, que seja por um dia

E não o ano inteiro

E que você descubra que rir é bom

Mas que rir de tudo é desespero (…)”

 

Para seguir pensando e sentindo:

Caçador de Mim – https://www.youtube.com/watch?v=3AhvAPcvMPg

Amor pra recomeçar – https://www.youtube.com/watch?v=BBsRGi_CpXk

https://time.com/5836829/deepak-chopra-time-100-talks/

https://chopra.com/articles/advanced-gratitude-journaling-5-practices-for-increased-happiness

 

 

Imagem:

Avi Chomotovski from Pixabay

 

Negritude e Branquitude: uma reflexão

Negritude e Branquitude: uma reflexão

Tempo de leitura: 4 min

Assumo minha branquitude, assim como todos os vieses cognitivos que me habitam, e falo a partir deles com minhas vivências e observações. Feito esse disclaimer (em português, aviso legal), fiquei impressionada com a leitura recente do livro “Pequeno Manual Antirracista”, escrito por Djamila Ribeiro, filósofa, professora e ativista, como ela se define. Recomendo a leitura.

No livro, a autora nos faz entrar em contato com o racismo estrutural e que, devido ao fato dele estar impregnado em nossas vidas, não podemos/devemos entrar em uma conversa, assumindo que não somos racistas. A branquitude, em oposição à negritude, vivemos em um contexto de privilégios, somente pela origem que temos. Pensando em generalizações, sou reticente a elas porque também me sinto excluída, quando ouço que “todos” os brasileiros possuem raízes negras, índias e são miscigenados. Sou brasileira, nascida no Rio de Janeiro, mas meus pais são espanhóis. Vieram para o Rio de Janeiro em 1960, se conheceram no navio de imigração, casaram e se estabeleceram aqui no Brasil. Se eles possuem miscigenação por conta das invasões árabes na Península Ibérica, não posso ter certeza. Tenho certeza de que a generalização não se aplica a mim. Da mesma forma, talvez outras pessoas, negras ou brancas, não tenham essa miscigenação… Falando de sangue. Já na cultura, diversos desses traços fazem parte do nosso dia a dia… O que faríamos sem a mandioca (aipim para alguns), cultivada inicialmente pelos indígenas? E os deliciosos pratos baseados na cultura africana (vatapá, caruru, bobó, acarajé)? E as palavras de origem indígena (caatinga, caipira, carioca, capenga, nhenhenhém) ou de origem africana (dengo, caçula, cafuné, quitanda, fubá, cachaça, muvuca) que estão completamente incorporadas ao nosso vocabulário?

Admitir que somos privilegiados, é o primeiro passo. Assisti a uma entrevista da empresária Monique Evelle, no evento HSM Expo Now. Ela citava a diferença de tratamento e de percepção que acontece quando uma pessoa negra sai de um carro, por exemplo, e começa a correr em uma rua… não se imagina que ela possa estar atrasado/a para um compromisso. Os brancos podemos correr, sem que a polícia nos persiga ou os olhares nos condenem (previamente). Outro ponto citado por ela, foi a inclusão da palavra “negro ou negra” quando nos referimos à pessoa. Dizer Monique Evelle, empresária negra, seria o equivalente a dizer Angela Vega, coach e palestrante branca. Esquisito, não? Pois é o que possivelmente fazemos e lemos sem nos darmos conta…

Penso ainda nas razões que nos fazem escolher como pessoas negras de destaque, ou referência, Oprah Winfrey (apresentadora americana), o casal Obama (ex-presidente americano e ex-primeira-dama) e Maya Angelou (poeta e ativista americana). Não estou desvalorizando as pessoas citadas, estou questionando por que não reforçamos ou escolhemos referências brasileiras. Uma das respostas é dada por Djamila quando ela fala do epistemicídio, isto é, o apagamento sistemático de produções e saberes produzidos por grupos oprimidos, conceito originalmente proposto pelo sociólogo português Boaventura Sousa Santos.

Em seu livro, Djamila nos traz diversas referências em vários campos: Abdias Nascimento (ator, diretor, dramaturgo), Ana Cláudia Lemos (socióloga, doutora em ciências sociais, pesquisadora sobre gênero, raça e lideranças femininas), Carla Akotirene (formada em serviço social, mestra e doutoranda em estudos sobre mulheres, gênero e feminismo), Elisa Lucinda (poeta, jornalista, atriz e cantora), Conceição Evaristo (escritora, professora e ativista), Marcela Bonfim (economista e fotógrafa), Neusa Santos (psiquiatra, psicanalista e escritora) e tantas/os outras/os…

Trata-se de expandir nossa consciência, saltando para fora do aquário em que, vivendo cercados de água, passamos a não enxergá-la. Ficamos “cegos” para a realidade. Mesmo me considerando uma pessoa aberta e esclarecida, pude perceber vários pontos cegos.

Fica o convite para uma autorreflexão.

 

Referências:

Pequeno Manual Antirracista. Djamila Ribeiro. Companhia das Letras. 2019

https://www.geledes.org.br/poetas-negras-da-literatura-brasileira/

https://moniqueevelle.com.br/

 

Imagem: Image by Gerd Altmann from Pixabay

 

Carreira: maturidade, longevidade e biografia

Carreira: maturidade, longevidade e biografia

As pesquisas e instituições nos trazem notícias de que o envelhecimento da população no Brasil e no mundo é uma realidade. A longevidade nos traz desafios e nos oferece questões. O que farei com os anos pós-aposentadoria? Conseguirei me aposentar? O que farei com os anos adicionais de vida? Como me sustentarei? Qual será o impacto para os mais jovens?

Os dados demográficos indicam que estamos vivendo uma transição demográfica. No Brasil, entre 1950 e 1975, a idade mediana da população estava próxima de 20 anos, significando que 50% da população tinham menos de 20 anos e somente 5% das pessoas estavam acima de 60 anos no país. Podia-se dizer que a estrutura etária brasileira era extremamente jovem.

Segundo as projeções da ONU (2019), ao final do século XXI, a idade mediana no Brasil estará acima de 50 anos, significando que metade da população terá mais de 50 anos e a proporção de idosos de 60 anos e acima estará em 40%. E o país terá uma estrutura etária envelhecida.

Segundo relatório das Nações Unidas (ONU), a expectativa de vida ao nascer para a população mundial atingiu 72,6 anos em 2019, um avanço de mais de oito anos desde 1990. Outras melhorias na sobrevivência são projetadas para resultar em um tempo médio de vida global de cerca de 77,1 anos em 2050. Em 2018, pela primeira vez na história, as pessoas com 65 anos ou mais, em todo o mundo, superavam as crianças com menos de cinco anos. As projeções indicam que, em 2050, haverá mais do dobro de pessoas com mais de 65 anos do que crianças com menos de cinco anos. Até 2050, o número de pessoas com 65 anos ou mais em todo o mundo também ultrapassará o número de adolescentes e jovens de 15 a 24 anos.

Estima-se que no Brasil, esta transição deve ocorrer em 2030 e que, entre 2015 e 2030, o grupo de idosos acima de 85 anos aumentará em um ritmo maior do que a população entre zero e 60 anos. Em 2020, já percebemos essa transformação e vários movimentos têm surgido, por exemplo, o Maturi Jobs, como uma forma de inclusão da população 50+ no mercado de trabalho.

E o que esses dados significam? Que a sociedade, as organizações e os indivíduos precisam se preparar para essa realidade, esse novo cenário.

Dois professores da renomada escola de negócios London Business School (LBS), na Inglaterra, Lynda Gratton e Andrew Scott, vêm estudando o tema da longevidade e lançaram dois livros, sem tradução para o português. Em 2016, publicaram o “The 100-Year Life – Living and Working in an Age of Longevity” (“A Vida Centenária – Viver e Trabalhar na Era da Longevidade”, em tradução livre) e em maio de 2020, “The New Long Life: A Framework for Flourishing in a Changing World” (A Nova Vida Longa: Uma Estrutura para Florescer em um Mundo em Mudança, em tradução livre).

No primeiro livro, os autores afirmam que estamos caminhando para o rompimento com a imagem de uma vida com três estágios bem definidos: educação, trabalho e aposentadoria. O estudo é uma preparação para o “mercado de trabalho” e trabalhamos visando a aposentadoria. Esse modelo está em extinção. Você já percebeu?

A educação precisa estender-se e permear toda a vida, transformando-se de educação receptiva em autoeducação, no desenvolvimento de habilidades e agregação de conhecimentos. De lifelong learning[1] a lifewide learning[2], com atenção à frase do célebre futurista Alvin Toffler, afirmando que “o analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler e escrever, mas aquele que não souber aprender, d esaprend er e reaprender”.

Existem várias formas de educação possíveis (inclusive gratuitas, e com a pandemia as ofertas se multiplicaram). Também considero as viagens (quando voltarem a ser possíveis) e os relacionamentos como fontes de aprendizado e de autoconhecimento. E as leituras, também. Recomendo incluir outras, além e diferentes da sua área de interesse, as quais podem servir para ampliar seus horizontes e a criatividade.

Para lidar com a “vida centenária”, Lynda e Andrew (os autores) criaram três blocos de ativos intangíveis que precisamos cultivar, desde cedo, em nossa vida, a saber: Produtividade, Vitalidade e Transformação.

O ativo Produtividade engloba o conhecimento (técnico e habilidades), os pares e a reputação. No ativo Vitalidade, encontram-se a saúde, o viver balanceado e os relacionamentos regenerativos (que nos energizam). Dentro do ativo Transformação, estão o autoconhecimento e as redes.

Para reforçar o cultivo desses ativos intangíveis, um dos pontos de partida é o desenvolvimento de hábitos. Como aprendemos? Como podemos melhorar nossos hábitos relacionados ao aprendizado? Como cuidamos de nossa saúde, de forma global? Que hábitos podem nos levar a viver de forma balanceada?

O conceito de trabalho também se transforma, com a possibilidade de exercermos diferentes atividades ao longo da vida. Já podemos observar jovens que transitam entre empregos, empreendedorismo e momentos sabáticos. Está cada vez mais forte a transição do que chamamos de trabalho para uma conexão com o propósito de vida.

Pesquise em sua vida, lembrando o que aconteceu aos 18 anos e meio, aos 37 anos e aos 55 anos e 10 meses. Segundo os estudos de Biografia Humana, nestas idades acontece o nodo lunar (quando o sol e a lua estão na mesma posição de nosso nascimento), e podem ocorrer fatos que nos conectam à nossa missão, vocação e profissão. Aos 18 anos e meio, podemos ter um vislumbre do nosso propósito, da nossa missão na vida. Aos 37 anos, ocorre um questionamento do exercício de nossa vocação (estamos na profissão correta?). E, no portal dos 55 anos e 10 meses, surge a visão de uma nova missão, para a fase seguinte a partir dos 63 anos.

Como a aposentadoria, sonho de nossos pais, não está garantida e a expectativa de uma pensão, seja do governo ou de uma empresa privada, está cada vez mais distante, precisaremos financiar nossos anos a mais de vida.

No livro mais recente, The New Long Life: A Framework for Flourishing in a Changing World”, os autores afirmam que será a combinação entre tecnologia e longevidade que trará muitas questões sobre a carreira. O livro explora uma ampla estrutura sobre as dimensões humanas de uma nova vida longa. Essa estrutura é formada por cinco áreas principais, a saber: trabalhos e carreiras; envelhecimento; saúde; relacionamentos; e pioneiros.

Para lidar com estas questões, precisamos voltar a pensar e repensar nossos hábitos. Quais são as mudanças que devemos fazer em nossos hábitos de consumo, de poupança e de investimento? De dinheiro e de tempo! Dentre tantas incertezas, uma certeza se estabelece: se quisermos viver com qualidade a nossa longevidade, precisamos começar a investir já!

Serão necessários novos pressupostos e para desenvolvê-los, os autores sugerem três ações fundamentais (“pedras de toque”, em inglês, touchstones):

1. Narrar (Contar): navegar nossa trajetória de vida. Criar uma narrativa, uma história, que confira significado à nossa vida e ajude na navegação pelas escolhas que fazemos, considerando que a longevidade aumenta a duração da vida e as rupturas tecnológicas criam transições mais frequentes.  Na minha experiência, olhar para a biografia (história de vida) com uma visão panorâmica (passado, presente e futuro), apropriando-se dela, “tomando a vida nas próprias mãos”, pode contribuir para o desenho dessa narrativa. A partir de uma questão no presente, podemos encontrar no passado sementes, insights, para novas possibilidades de carreiras futuras. Sugiro procurá-las no período de 14 a 21 anos, quando a tônica é “o mundo é verd adeiro&r dquo; e o jovem entra em contato com seus ideais e tem um vislumbre do seu propósito (por volta dos 18 anos e meio, como já dissemos).

2. Explorar: aprendizado e transformação. Os seres humanos são propensos à exploração. Neurocientistas encontraram uma parte do cérebro que “acende” quando estamos envolvidos com novas informações ou tarefas desafiadoras. Descobriram ainda que essa estimulação cerebral é altamente motivante. Para lidar com as transições que serão, cada vez mais, parte de nossa vida precisaremos de curiosidade e coragem para aprender novas habilidades e experimentar novos comportamentos.

3. Relacionar-se: conexão profunda. O estudo de Harvard já citado (“What makes a good life?”) que acompanhou a vida de 250 homens durante 70 anos, mostrou que o fator mais importante para a longevidade e envelhecimento saudável era o nível de satisfação com os relacionamentos. Os autores afirmam que nossos relacionamentos criam um senso de pertencimento e de apreciação. Quando somos amados e amamos outros, nos sentimos apreciados, felizes, cuidados e compreendidos.

E você? Como tem se preparado para a longevidade? Qual será sua próxima carreira? E sua saúde, quanto tem investido de tempo nela?

 

 

 

 

Fonte: https://ficarbemaos40.comandonews.com.br/2020/09/15/carreira-maturidade-longevidade-e-biografia/

O que é comunicação não-violenta e como ela pode nos ajudar?

O que é comunicação não-violenta e como ela pode nos ajudar?

A Comunicação Não-Violenta (CNV), é baseada em habilidades de linguagem e de comunicação e “fortalece a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas”, o que bem define o contexto atual.

 

Para além do mundo VUCA, acrônimo para Volátil (Volatile), Incerto (Uncertain), Complexo (Complex) e Ambíguo (Ambiguous), agora as empresas e os indivíduos enfrentam a pandemia do Covid-19 e em decorrência dela, o isolamento social. As pessoas precisaram se adaptar rapidamente à diferentes situações, por exemplo, ao home office, cuja denominação mais adequada seria home + office (casa + trabalho).

Nem sempre houve tempo para digerir as mudanças em curso. E elas ainda não acabaram, pois não podemos ter certeza do futuro. Será útil considerar a curva da mudança, fruto da observação da Dra. Elizabeth Kubler-Ross ao acompanhar pacientes terminais, diante daquela que é a última mudança pela qual passaremos, a inexorável, a morte. A curva da mudança, que pode também ser aplicada a um processo de luto e à situação em que estamos no isolamento social, começa com a negação, passa pela culpa, raiva , depressão, barganha, aceitação, até chegar à reconstrução (atitude de atenção e presença; aceitando que a pessoa ou a situação não faz mais parte do nosso presente).

Após passar por essa“curva”, a promessa é que voltaremos a ser nós mesmos, retomaremos nosso lugar na sociedade com mais lucidez e maturidade. De acordo com as histórias de vida, crenças e modelos mentais, cada pessoa poderá passar, mais rápido ou mais lentamente, pelas diferentes fases da curva da mudança. Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que os sentimentos são naturais, todos passamos por eles em algum momento da nossa vida. Segundo Peter Senge, pesquisador do MIT e reconhecido por suas obras de aprendizagem organizacional, as pessoas não resistem à mudança, elas resistem a serem mudadas.

Mas o que é Comunicação não-violenta?

Para chegarmos ao “novo normal”, precisaremos passar pelo luto, com a despedida necessária do passado, para que possamos encontrar nosso lugar no futuro. Tanto nos contextos sociais como nos empresariais, precisamos nos relacionar com outras pessoas e a Comunicação não-violenta (CNV), metodologia desenvolvida e aplicada por Marshall Rosenberg (1934-2015) ao longo de toda sua vida profissional, pode nos ajudar a lidar com esses tempos.

A CNV é baseada em habilidades de linguagem e de comunicação e, segundo o próprio Marshall, “fortalece a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas”, o que bem define o contexto atual. A abordagem da CNV está baseada em 2 pilares, honestidade e empatia, e há 4 processos ou movimentos, a saber: observação, sentimentos, necessidades e pedido.

Iniciar uma conversa trazendo observações (fatos, dados), em vez de avaliações (julgamentos, rótulos), promove uma abertura do outro para o que queremos dizer. Para Marshall Rosenberg, os sentimentos estão conectados às necessidades e surgem em decorrência do seu atendimento ou não.

Se nossas necessidades estão atendidas nos sentimos felizes, entusiasmados, animados, criativos, confiantes etc. Se as necessidades não estão atendidas, nos sentimos tristes, desiludidos, incomodados, irritados. E o que são as necessidades? Elas compreendem a autonomia (escolhas de objetivos e planos), a celebração (celebrar a vida, elaborar as perdas); a integridade (autenticidade, significado), a interdependência (compreensão, respeito) e as necessidades físicas (abrigo, descanso). Os exemplos citados de necessidades não são exaustivos.

E, como as necessidades são comuns a todos os seres humanos, podemos reconhecê-las em nós mesmos e nos outros. Para completar os 4 processos e aumentar a probabilidade de que nossos pedidos sejam aceitos, alguns cuidados básicos são importantes. Ter consciência do que queremos pedir, usar uma linguagem de ações positivas (expressar o que queremos em vez de o que não queremos); evitar frases vagas, abstratas e ambíguas. Além disso, é importante pedir retorno e pedir honestidade, perguntando se o outro conseguirá atender ao nosso pedido.

Como aplicá-la no ambiente profissional?

Estando presentes no aqui e agora, com atenção à nossa forma de falar, usando observações em vez de avaliações, percebendo e nomeando nossos sentimentos e as necessidades conectadas a eles. A partir dessa presença, podemos também observar os sentimentos e necessidades das outras pessoas, o que contribuirá para uma melhor convivência nos ambientes familiares, sociais ou empresariais.

Voltando aos 2 pilares da CNV (honestidade e empatia), Marshall Rosenberg define empatia como a compreensão respeitosa do que a outra pessoa está vivendo. Em ambientes profissionais, os líderes podem exercitar a empatia, percebendo em que momento da curva da mudança os seus liderados estão, quais sentimentos estão sendo expressos; para que possam atuar como facilitadores, apoiando a passagem deles pelos estágios. E, junto com a empatia para receber o que vem do outro, a honestidade na comunicação das mensagens e no relacionamento com os liderados, alimenta a confiança, tão necessária aos bons resultados empresariais.

 

* Artigo de Angela Vega, especialista em comunicação não-violenta, mudanças de ambiente e aconselhadora biográfica. https://www.consumidormoderno.com.br/2020/07/24/como-a-comunicacao-nao-violenta-pode-ajudar-no-ambiente-profissional/

Quem dirige sua vida? Revendo hábitos, crenças e costumes

Quem dirige sua vida? Revendo hábitos, crenças e costumes

Há algum tempo, lendo a introdução do livro O Futuro da Administração, me deparei com o autor, Gary Hamel, perguntando quem nós achávamos que comandava as empresas. Seria a Diretoria? O Presidente? O Conselho de administração? Não, dizia ele. As empresas estavam sendo dirigidas pelos fantasmas da administração. Quais? Os criadores da maior parte das ferramentas e técnicas de gestão, no século XIX: Frederick Taylor, Jules Fayol, Max Weber, Abraham Maslow, entre outros. Mesmo com o passar do tempo, os modelos criados continuavam habitando as mentes dos executivos e sendo colocados em prática, por exemplo, o tradicional método comando-e-controle. E os velhos pensadores se mantinham presentes.

Podemos fazer uma analogia com a nossa vida. A resposta à pergunta “quem dirige sua vida hoje?” poderia ser “eu mesmo”. Da mesma forma do que acontece com as empresas, nós também recebemos um conjunto de “hábitos, normas e crenças” que formam o que podemos chamar de nosso modelo mental. O modelo mental é como uma lente a partir da qual enxergamos e vivenciamos o mundo.

Segundo os conhecimentos da biografia humana e as leis biográficas, que consideram a vida dividida em setênios (períodos de 7 anos), no segundo setênio (de 7 a 14 anos) recebemos da família e da sociedade (escola) em que vivemos, os hábitos, as normas, as crenças e os costumes que começam então a moldar nosso comportamento. Se não tomamos consciência, continuamos sendo dirigidos por eles até hoje.

E o que fazer a respeito? Recomendo os 4 passos descritos a seguir: reconhecer, identificar, analisar/avaliar e reforçar/mudar. O primeiro passo consiste em reconhecer a influência que sofremos ao receber hábitos, normas, costumes e crenças, porque podemos ter a impressão de que eles foram “escolhidos” por nós mesmos. O segundo passo é identificá-los e para isso, podemos observar as frases feitas e ditados populares que às vezes usamos, como por exemplo, “dinheiro não cresce em árvores”; “homem não chora”; “o boi só engorda com o olho do dono”; “precisa comer tudo, porque tem gente passando fome”, “não confie em estranhos”; e outros que você pode encontrar. Faça uma lista e então, siga para o terceiro passo que será analisar e avaliar. Verifique se os hábitos ainda servem, avalie se os costumes e as crenças continuam válidos e se contribuem para o seu propósito e seus objetivos de vida. Observe se as crenças te libertam ou te aprisionam. E, finalmente, o quarto passo será reforçar aqueles que ainda são adequados, e descartar ou mudar aqueles que estavam ali, simplesmente porque não tínhamos dedicado atenção a eles e, por isso, continuavam dominando nossos comportamentos e nossas decisões.

E você, já parou para rever seus hábitos, crenças e costumes?

 

Referências bibliográficas:

O Futuro da Administração. Gary Hamel. Elsevier Editora.

Harmonia e Saúde – A Biografia Humana. Gudrun Burkhard. Ed. Antroposófica.

Biografia e Doença. Angélica Alves Justo e Gudrun Burkhard. Ed. Antroposófica.

 

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Rama Krishna Karumanchi from Pixabay

O futuro a Deus pertence? A importância de ter uma direção

O futuro a Deus pertence? A importância de ter uma direção

“Como será o amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser” (Samba da União da Ilha do Governador em 1978, de autoria de João Sérgio)

Nesse momento, podemos sentir a pressão causada pelas indefinições e incertezas que estão presentes em relação ao futuro. Quando voltaremos aos nossos locais de trabalho? Voltaremos? Quando poderemos andar livres pela cidade? Quando poderemos voltar a frequentar os museus, os parques, os espaços públicos, com certa tranquilidade? Quando poderemos voltar a andar nos transportes, sem a tensão própria de quem está preocupado em contaminar-se?

É normal nos sentirmos em choque ou em negação por conta da situação e somente com o mergulho para dentro, poderemos chegar a um novo começo. Ter uma direção, um projeto para o futuro, pode nos fazer seguir em frente. Alguns pensadores já nos alertaram sobre a importância disso… O filósofo Sêneca afirmou que, se não soubermos para que porto nos dirigimos, nenhum vento nos será favorável. Ficaremos à mercê das circunstâncias.

O escritor Lewis Caroll também nos trouxe essa reflexão quando, em determinado momento, colocou sua Alice (no País das Maravilhas) frente ao Gato, perguntando qual dos caminhos ela deveria escolher. O Gato então responde, perguntando para onde ela queria ir, e como ela disse que não sabia, a resposta foi a seguinte: se você não sabe, não importa que caminho tome.

Por isso, precisamos conscientemente tomar as rédeas de nosso destino, usando nossas mãos (e a mente e o coração) para direcionar nossas ações e realizarmos os planos que nos levarão ao futuro que queremos construir.

Um pouco de determinação, uma pitada de sorte, a sincronicidade presente, além de muita transpiração e poderemos receber os louros da chegada. É prazeroso poder olhar para trás e ver que conseguimos avançar na direção dos nossos sonhos…

Posso sugerir um exercício de visualização. Imagine-se no futuro desejado, daqui a 5 ou 10 anos, e escreva uma carta para você mesmo no presente. Conte tudo o que aconteceu, no período decorrido entre o futuro e o presente. Quanto mais detalhes, melhor. A carta servirá como inspiração, e você poderá aprender do futuro que surge, criando caminhos e possibilidades.

Finalizo com a recomendação da poeta Clarice Lispector… “Mude, mas mude devagar porque a direção é mais importante do que a velocidade.”

 

Referências bibliográficas:

SENECA, L. A. Ad Lucilium Epistulae Morales. London: William Heinemann Ltd., 1917

Lewis Caroll. Alice no País das Maravilhas. Ed. Zahar

 

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